A reta final de temporada do V. Setúbal pode ter sido para esquecer. Quinze jogos consecutivos sem qualquer triunfo chutaram os sadinos para uma situação periclitante na classificação e com a permanência presa por uma interrogação até à última jornada.

Apesar disso, nem tudo foi mau na época 2015/16. Com Quim Machado, o clube de Setúbal projetou jogadores na primeira metade da temporada. Em janeiro, os bons resultados dentro do campo até à data tiveram consequências. Suk foi vendido ao FC Porto e Jorge Jesus resgatou Rúben Semedo e apostou nele para o eixo da defesa do Sporting.

O Vitória ficou ferido e, depois do regresso do central à casa-mãe, nunca mais ganhou. A capacidade goleadora também nunca mais foi a mesma: 27 golos com Suk e apenas 13 depois da saída do coreano para o Dragão.

Por lá ficou André Horta, que está em vias de ser oficializado no Benfica, onde fez parte da formação.

Quim Machado elogia os três. Fala da aposta de Rúben Semedo para o eixo da defesa e diz que não ficou surpreendido com a ascensão meteórica no onze do Sporting. Considera ainda que Suk muito potencial, mas que talvez não tenha escolhido o clube ideal para prosseguir a carreira. André Horta? Pode ser o número 8 de que o Benfica precisa depois da saída de Renato Sanches para o Bayern Munique.

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Rúben Semedo foi o jogador que mais o surpreendeu no V. Setúbal?

Não, não foi. Mas ele vem do Sporting como médio defensivo. O Jorge Jesus chegou a utilizá-lo nessa posição. Eu achei que tinha qualidades para central, porque era um jogador rápido. Quando queres jogar em pressão alta precisas desse tipo de jogadores e não há muitos centrais como ele. Tem um jogo aéreo fortíssimo, tem qualidade a sair a jogar. Mas surpreendeu-me pela personalidade ao não ter medo de assumir.

Semedo foi um pedido seu?

Sim. Na altura andávamos à procura de soluções e sabíamos que o Sporting estaria disponível para emprestar o Rúben. Eu disse logo que sim, até porque podíamos utilizá-lo como médio-defensivo ou como central. Avançámos logo. Neste ano ele também acaba por ter alguma… sorte, entre aspas, porque jogava numa equipa de ataque. Quando ele chega ao Sporting e tem de jogar numa defesa subida, acaba por não estranhar, porque jogávamos de uma forma quase igual.

[Sobre Rúben Semedo] Se não lhe desse esse liberdade, ele não era o mesmo jogador e não tinha evoluído.

Disse que Jorge Jesus utilizou-o como médio-defensivo. Sente que também tem a sua parcela de responsabilidade pelo facto de Rúben Semedo ter conseguido assumir-se como titular na defesa do Sporting?

[risos] Não quero estar agora a dizer que fui eu. Mas o Rúben estava a ter alguma dificuldade como médio-defensivo no Sporting e naquela altura faltava o William. O espaço dele no Sporting não era muito na altura. O que faz com que ele regresse ao Sporting é essa capacidade, que demonstrou connosco, de jogar numa defesa com um bloco alto. Jesus deve ter visto essas qualidades que ele tinha: facilidade com que conseguia anular o adversário, o jogo aéreo e a facilidade na construção do jogo. É evidente que ele cometeu erros no Vitória que não poderia cometer no Sporting e eu disse-lhe isso na altura. Se falhasse uma vez, dificilmente teria uma nova oportunidade. Eu dei-lhe essa confiança. Se não lhe desse essa liberdade, ele não era o mesmo jogador e não tinha evoluído.

Esperava que ele chegasse ao Sporting e se assumisse rapidamente como titular?

Ele também aproveitou o facto de alguns jogadores terem levado cartões e outros se terem lesionado. Nas oportunidades que teve demostrou que tinha capacidade. Naldo e Paulo Oliveira são bons jogadores, mas ele acabou por demonstrar que podia ser ele o dono daquele lugar.

Mas ficou surpreendido?

Não. Ele fez 16 ou 17 jogos connosco. E Jesus viu que ele tinha qualidades para jogar num grande. Conseguiu antecipar-se e quis o regresso dele. Perceberam rapidamente todas as qualidades que ele tem.

E André Horta?

Vai ter uma carreira muito promissora. É um jogador fantástico. Se mantiver a concentração vai chegar ao Benfica e surpreender tudo e todos. Tem muita, muita qualidade.

Está pronto para o Benfica?

Acho que sim. No primeiro ano no Vitória mostrou que é um jogador mentalmente forte. Um miúdo com essa capacidade, não tem medo de assumir o jogo de ter bola. Naquela primeira volta foi muito importante para nós. Se Rui Vitória acreditar nele, vai atingir rapidamente um patamar elevado.

André Horta um jogador que me surpreendeu pela positiva. Tem uma qualidade enorme.

Encaixaria bem na posição 8, que é preciso colmatar agora que Renato Sanches está de saída para o Bayern Munique?

A posição dele é mesmo 8. Ele necessita de ter bola e vai ao encontro da bola. Tem também um remate fortíssimo e consegue fazer golos de fora da área. Pode fazer perfeitamente essa posição. É um jogador que me surpreendeu pela positiva. Tem uma qualidade enorme.

Disse que Rúben Semedo é «o futuro central» da Seleção. E André Horta? Onde pode chegar?

Se chegar ao Benfica e se Rui Vitória olhar para ele como um reforço que pode entrar na equipa, acho que não temos muitos jogadores como o miúdo. Ele faz facilmente o trabalho de box-to-box, com um remate fácil de fora da área. Consegue conduzir a bola: no fundo dar um bocadinho o que o Renato Sanches deu ao Benfica: conduzir a bola, arrastar, criar espaços. Ele pode fazer isso. Se apostarem nele, penso que o André vai atingir um patamar muito grande. Não digo de Seleção A no imediato, mas vocês vão ver que é um miúdo com muito valor.

(…)

O Rafa, que está no Sp. Braga, também foi meu jogador. Também dizia isso dele na altura. Passado uma semana de treinar come ele vi logo que ele ia atingir um patamar elevado. Lembro-me de dizer a pessoas amigas e do mundo do futebol como é que era possível que FC Porto, Benfica e Sporting não darem o primeiro passo para o contratarem. No caso do André Horta eu já dizia isso na primeira volta. Acabou por ser o Benfica e não tenho dúvidas de que o miúdo vai ser um grande jogador.

Terá qualidade para impor-se no onze do Benfica mais tarde ou mais cedo?

Não tenho dúvidas. Também vai atingir um patamar muito elevado.

Rúben Semedo para o Sporting, André Horta para o Benfica e Suk para o FC Porto, onde não teve muito espaço. Acredita que ele ainda vai a tempo de conseguir impor-se?

Ao contrário do que disse sobre o Rúben Semedo, a ida dele para o FC Porto talvez não o tenha beneficiado. Na altura falou-se também da possibilidade de ir para o Sporting, onde o sistema de dois avançados talvez lhe facilitasse a vida. O FC Porto joga num sistema só com um avançado e não estava numa fase muito boa, acaba por prejudicar o Suk. Tecnicamente ele também não é muito evoluído. Se tivesse ido para o Sporting, se calhar teria rendido muito mais. Mas é um jogador com um potencial enorme, que tem apenas 24 anos. Foi vítima do sistema do FC Porto.

Mas não está a ver o FC Porto mudar o sistema por causa de Suk…

Claro! O FC Porto joga nesse sistema há anos e foi assim que ganhou campeonatos. Não vai mudar. O jogador, muitas vezes, também tem de saber escolher os clubes que se adaptam às suas características. Fazer o trabalho de casa que nós [treinadores] temos de fazer. Mas, se calhar, pode ter mais sorte no próximo ano e fazer uma boa época.