O futebol na Rússia está a ser marcado por vários casos de racismo e dois deles tiveram repercussões precisamente nesta terça-feira. Começando pelo primeiro, estamos na história de Christopher Samba. O jogador do Dínamo Moscovo foi punido, não por ter tido um comportamento racista, mas por ter respondido a insultos deste teor.

A União de Futebol da Rússia (UFR) castigou Samba com dois jogos de suspensão por ele ter feito em direção ao público o gesto da mão fechada com o dedo médio esticado. A reação do jogador congolês aconteceu no final da primeira parte do jogo com o Torpedo Moscovo surgindo na sequência de cânticos racistas por parte dos adeptos rivais – o defesa de 30 anos recusou voltar para o segundo tempo.

Os incidentes aconteceram no Torpedo-Dínamo do passado dia 22. O castigo pelo «gesto desagradável» do jogador, como foi considerado pelas autoridades desportivas, foi anunciado agora. «Tivemos em consideração o que aconteceu no campo e que ele foi provocado. Decidimos, por isso, aplicar o castigo mais leve possível», declarou Artur Grigoryants, responsável pelo comité disciplinar da UFR.

O fardo «nas costas do jogador»

A associação mundial de jogadores de futebol já manifestou a sua discordância pela forma como o caso foi tratado. «A FIFPro considera que a suspensão de Samba é um sinal errado para o mundo do futebol» e que, «pelo castigo de Samba, os agressores ficam a ver que obtêm resultados ao insultarem os jogadores de forma racista», como declarou Tony Higgins.

O porta-voz da FIFPro argumenta que «o clube também é sancionado, mas de uma forma diferente». E, frisando que a UFR reconhece que o jogador foi provocado, a associação de futebolistas defende que teria sido «mais adequada uma multa proporcional ou uma pena suspensa».

«Deve ser tido em consideração que um jogador pouco pode fazer para defender numa situação destas e que quando a equipa de arbitragem não atua como devia não é justo colocar o fardo nas costas do jogador», afirma Higgins em palavras que fazem lembrar a situação relatada por Marc Zoro ao Maisfutebol em março passado.

Samba pediu desculpa pela sua reação, mas fez também um apelo: «Eu quero jogar futebol e não ter de ouvir cânticos racistas.» Este não é o primeiro caso destes na Rússia. No ano passado, o defesa costa-marfinense Dacosta Goore (do Alania Vladikavkaz) também foi suspenso por dois jogos após ter reagido da mesma forma em relação a insultos idênticos. Esta não foi também a primeira agressão de que Samba foi alvo.

Na sua primeira passagem pelo futebol russo, onde representou o Anzhi, o jogador congolês foi insultado com o arremesso contra si de uma banana. A situação ocorrida no terreno do Lokomotiv Moscovo em março de 2012 lembra o que também aconteceu Dani Alves. No seu caso, Samba atirou a banana de volta para as bancadas, lamentou toda a situação e também seguiu sem castigo. Uns meses mais tarde, falou sobre o racismo em entrevista.



Pelo incidente racista deste mês, como já se viu nas declarações da FIFPro (que defende as punições em forma de subtração de pontos), o Torpedo também foi castigado com um jogo à porta fechada. Os exemplos de Zoro ou Dani Alves são apenas dois de muitos de que o racismo no futebol não é exclusivo da Rússia. Mas os clubes russos estão a colocar-se no centro da questão pela quantidade.

E assim chegamos ao segundo caso anunciado. O CSKA Moscovo-Bayern Munique da Liga dos Campeões desta terça-feira foi jogado à porta fechada também precisamente por comportamentos racistas dos adeptos russos na edição da época passada.



E já com o jogo de suspensão garantido para esta segunda jornada da Champions desta temporada, os adeptos do clube moscovita voltaram a colocar a sua equipa em trabalhos. Na 1ª jornada desta Liga dos Campeões, as cenas de violência provocadas pelos russos em Roma aguardam ainda pela mão da UEFA.