Jonah Lomu é sinónimo de râguebi, foi uma estrela planetária que simbolizou o seu desporto como poucas outras. Quando alguém diz que há um jogador melhor que ele (e quando esse alguém é o selecionador da Nova Zelândia), está a dizer algo grande.

«Acho que ele é provavelmente melhor que Lomu. Pode fazer mais coisas que o Jonah. O Jonah foi um grande jogador, mas acho que o jogo do Julian tem mais recursos», disse Steve Hansen.

Hansen fala de Julian Savea. Ponta dos All Blacks, 24 anos e números impressionantes, em apenas dois anos na seleção da Nova Zelândia, grande dominadora do râguebi mundial. Marcou 27 ensaios em 27 jogos pelos All Blacks, uma média recorde.



As comparações são inevitáveis, para começar pela simples aparência de ambos, duas forças da natureza. Lomu pesava 120 quilos, media 1.96 metros. Savea tem 1,93m para 108 quilos, mais coisa menos coisa.

Distinguem-se antes de mais pela potência física, nota Tomaz Morais, diretor técnico nacional e antigo jogador, contemporâneo de Lomu, ao
Maisfutebol.

«O Lomu destacava-se pela potência física, pesava 120 quilos, media mais de 1,90m, corria os 100 metros em 11 segundos», observa, para de seguida reforçar a análise do selecionador dos All Blacks: «São muito semelhantes, mas entre equilíbrio defensivo e ofensivo, a forma como joga com os pés, o Savea dá a sensação de que é um jogador mais completo.»

«A comparação é normal, como são parecidos. Agora, dizer qual é melhor é outra conversa», sintetiza, alimentando um debate que as declarações de Hansen potenciaram, entre os adeptos de râguebi.


Depois, Tomaz Morais enquadra a dimensão do elogio do treinador a Savea. «O Lomu foi um jogador do meu tempo que marcou uma geração e o desporto, que coincidiu com a passagem ao profissionalismo e o Campeonato do Mundo de 1995. Pela sua potência, pela forma como jogava, marcou a passagem ao râguebi físico.»

Lomu foi unanimemente considerado o melhor jogador da Taça do Mundo de 1995, apesar de os All Blacks terem perdido a final frente à África do Sul. Tornou-se mundialmente famoso, é até hoje o recordista de ensaios marcados em Campeonatos do Mundo, apesar de nunca ter ganho o título. Jogou pelos All Blacks até 2001, num final de carreira condicionado por um grave problema renal.



«O Lomu marcou a história do râguebi», nota o treinador português, para depois falar da sua experiência na primeira pessoa: «Tive oportunidade de o defrontar no Hong Kong Sevens, lembro-me perfeitamente do que foi, do volume físicos. Tinha um gosto especial em atropelar o adversário direto.»

«O Savea tem números impressionantes, é um jogador incrível», prossegue, para depois notar como o fenómeno Lomu foi para lá do campo: «O Lomu foi fundamental em campo mas também fora dele. Ele coincide com a dinamização do jogo, com a popularização, quando passámos a ver mais jogos em direto, nomeadamente do hemisfério sul.»

A conversa acontece quando a Nova Zelândia acaba de ver interrompida uma série de 22 jogos, quase dois anos, sem derrotas. Perdeu no sábado frente à África do Sul. O que não coloca de forma alguma em causa a forma como os All Blacks dominam o râguebi Mundial, nota Tomaz Morais: «Não era previsível que perdesse, a Nova Zelândia tem uma soberania no râguebi indiscutível, mas a forma como a África do Sul se bateu no final é épica.»

A um ano do Campeonato do Mundo, a Nova Zelândia é óbvia favorita para revalidar o título. São mais fortes, e isso é só deles. Tomaz Morais resume assim aquilo que a Nova Zelândia tem a mais que o resto do mundo. «Tem muito a ver com genética. Além disso, o râguebi é desporto nacional, todos os neozelandeses passam pela experiência de jogar râguebi», nota: «Mas são diferentes de todos os outros. Têm uma fibra muito energética, muito rápida, muito preparada para o contacto. Conseguem executar todos os gestos técnicos a uma velocidade que os adversários não conseguem.»

Tem a ver, continua, com as raízes neozelandesas, com o povo mahori. A isso, acrescenta, juntam-lhe um espírito competitivo e combativo sem igual. «Bem tentam imitá-los, mas nunca ninguém conseguiu. Há milhões a tentar imitá-los...»