Portugal afunda-se no ranking UEFA. Duas jornadas depois do início da fase de grupos de Liga dos Campeões e Liga Europa o cenário é cada vez pior. Parte do problema é, obviamente, o mau começo de Benfica e FC Porto, mas esses até são os últimos culpados do estado das coisas.

Nem será preciso recorrer a números para se ter a perceção de que águias e dragões são os principais contribuintes para o quinto lugar de Portugal nos últimos anos. Basta ter um pouco de memória recente. 

Ainda assim, o Maisfutebol recorreu a eles para os comparar com o que têm feito as equipas dos principais rivais do campeonato nacional: a Ligue 1 e a Premier Russa. E perceber como é que chegámos aqui.

Olhemos primeiro para Benfica e FC Porto. Em conjunto, são responsáveis por 63,61 por cento dos pontos do ranking. Normalmente, pelo menos um deles soma mais de 20 pontos na época, ou seja, quando um está mal, o outro compensa. Por aí se entende que, na presente temporada, as coisas não estão risonhas.

O ranking atual contabiliza o período de 2012/13 até 2016/17. No caso português, verifica-se facilmente que as melhores temporadas são a primeira e a da época passada.

Nessas duas, as equipas que não Benfica e FC Porto somaram acima de 20 pontos no final dessas temporadas, o que levou Portugal para 11,750 pontos em 2012/13 (uma época de luxo com águias e dragões nas duas dezenas de pontos ou mais) e 10,500 em 2015/16.

O Sporting é o único clube que em oito jogos de portugueses na Champions e Liga Europa venceu. Ainda assim, não é o principal contribuinte para os números desta época.

Esse mérito cabe ao FC Porto, devido ao play-off: a vitória vale dois pontos na fase de grupos e o empate 1, na qualificação a UEFA corta para metade esses números.

No entanto, também não seria pelo leão que Portugal ficaria em apuros. Os três ditos grandes somam, nas últimas cinco épocas, 200 pontos. PSG, Lyon e Mónaco, os melhores em França, somam 186. Zenit, Rubin Kazan e Krasnodar (igual em pontos com CSKA Moscovo, mas com maior percentagem de influência) fazem em conjunto 148,5.

Um ponto a sublinhar neste facto: a Rússia tem direito a apenas cinco equipas na Europa nas últimas três temporadas, logo no ranking real beneficia de os pontos totais serem a dividir por essa mão cheia e não por seis, como acontece com Portugal e França.

Ainda assim, seria a I Liga a liderar os três países, caso contassem apenas os 3 principais contribuintes para o ranking e mesmo que se usasse a divisão por cinco para os russos.

Outra nota a destacar é que Portugal teve mais equipas na Europa (13) do que França (10) e Rússia (10). Ou seja, para além de Benfica, FC Porto e Sporting tivemos mais dez, três delas estreantes neste período (Estoril, Rio Ave e Arouca). Duas equipas não fizeram um único ponto quando estiveram presentes: o V. Guimarães e o Nacional.

Em França, isso só existe com o atual Nice, enquanto as russas, mesmo com dois estreantes em 2014/15 (Rostov e Krasnodar) e o Kuban Krasnodar em 2013/14 pontuaram sempre, nem que fosse meio ponto.

Deixemos o pódio de países de lado: Benfica, FC Porto e Sporting; PSG, Lyon e Mónaco; Zenit, Rubin Kazan e Krasnodar.

Observemos as restantes equipas: as portuguesas somam 68 pontos em cinco épocas, as francesas 96 e as russas 113!

Este quadro «obriga» Portugal a ter de fazer uma pontuação extraordinária nesta temporada*, pois a desvantagem já é muita para russos e, sobretudo, franceses. A queda parece inevitável, é uma questão de a amortecer para depois recuperar. Se a tendência do peso dos grandes se mantiver, a divisão por cinco equipas trará benefícios.

O ideal seria haver maior equilíbrio, até porque se nada mudar no modo de contagem da UEFA, o que não é líquido, Portugal vai perder, na próxima temporada, o último dos seus melhores anos, o de 2012/13.

A distância para a Rússia já é longa, mas convém não aumentá-la.

 *A melhor época de sempre na Europa é a de 2010/11, com Benfica nas meias-finais da Liga Europa e o FC Porto e o Sp. Braga na final. Como se sabe, os dragões venceram a prova.