1.- O Saragoça transcendeu-se num grande jogo em Barcelona. Ganhou bem. O At. Bilbau, fez o mesmo, num grande jogo em San Mamés. Idem. Antes, o Sevilha conseguira a mesma coisa, em Sevilha, com idênticos resultados. Pontos em comum? Dois: o adversário, e os grandes jogos. Este Real Madrid desperta o melhor dos que o defrontam e por isso está condenado a, ganhando (quase sempre) ou perdendo (às vezes), participar em grandes espectáculos. É surpreendente ver uma equipa tão milionária ser dominada de forma clara por adversários inferiores? É, mas não tanto como os espectáculos que, em velocidade de cruzeiro, a equipa proporciona a quem gosta de bom futebol. Nunca tantos artistas se conjugaram para jogar tão bem, e com tanta frequência. E, quanto a resultados, sejamos honestos: liderança no melhor campeonato do Mundo, favoritismo claro à conquista da Liga dos Campeões e presença na final da Taça do Rei (apenas a segunda em 11 anos). É mau?

2.- A História está cheia de vencedores que o tempo apagou sem deixar rasto. Mas ambição máxima das grandes equipas não é apenas ganhar: é tornarem-se inesquecíveis. O Real Madrid está a dar todos os passos certos nesse sentido, com naturais tropeções pelo caminho. Veja-se a opção por Beckham em detrimento de Makelele. Todos, a começar pelos responsáveis merengues, sabiam que a consistência do francês seria muito mais útil do que os passes e livres do 23 em momentos difíceis da época. Mas a glória conquista-se com gestos arriscados. A magia tem um preço. O Real aceitou pagá-lo. Se ganhar é bom, ganhar defendendo princípios é muito melhor. Defendê-los nos maus momentos não é para todos.

3.- O Real Madrid não tem culpa de ser rico. A inveja é uma atitude profundamente humana, mas não faz ninguém feliz. As grandes equipas fazem. Os risinhos de felicidade - muitas deles em Portugal, tendo Carlos Queirós como alvo - de cada vez que o Real Madrid perde, ou faz um mau jogo, são iguaizinhos aos dos peões que vêem um condutor amolgar o Porsche. Claro que, no fundo, todos gostavam era de ter um Porsche para guiar. E se ter dinheiro não evita amolgadelas, não há dúvida que ajuda a resolver as crises. O menino rico não vai ter problemas em pôr a máquina no mecânico. Daqui a uns dias lá vai estar ele a acelerar num relvado perto de si...