«Não gosto da palavra renovação, pois parece que os velhos vão para o lixo e os novos vão tomar conta disto. Vamos estar muito atentos ao percurso da formação. Não serei juiz dos treinadores da formação, mas vamos ter que partilhar ideias. Tanto faz ter 17 anos ou 35. Se tiver valor, vem.» [Fernando Santos]

Foi desta forma que, a 24 de setembro do ano passado, na conferência de imprensa de apresentação, Fernando Santos se referiu a um dos temas que marcava o momento: o lançamento de novos jogadores na seleção principal.

Na ressaca de um Mundial para esquecer e com a entrada em falso na caminhada para o Europeu, Fernando Santos não trouxe o discurso da mudança. «Se tiver valor, vem», dizia.

Da ideia à prática, recuperou jogadores há muito afastados da seleção na era Paulo Bento, como Ricardo Quaresma, Danny, Ricardo Carvalho ou até Tiago, que havia renunciado, logo na primeira chamada. Mais tarde juntaria Bosingwa a essa lista.

Mas a ideia de uma seleção envelhecida foi, aos poucos, sendo rebatida pelos números. Em nove jogos, Fernando Santos estreou 14 jogadores, ainda que nem todos jovens: José Fonte, por exemplo, tem sido presença habitual nas escolhas do selecionador nacional e está com 31 anos.

É verdade que o particular com Cabo Verde ajuda a aumentar a lista de estreias de Fernando Santos. Só nesse encontro, de resto, em que foi usada uma equipa alternativa, sete jogadores tiveram a primeira internacionalização. Metade, portanto, do número global.



Danilo Pereira parece ter pegado de estaca na seleção

Contudo, é preciso também notar que, desses sete, quatro têm sido, desde então, escolhas regulares, casos de Anthony Lopes (chamado para a Dinamarca e rendido por lesão), Danilo Pereira, André André e Bernardo Silva.

Os outros jogadores «batizados» nesse encontro foram Paulo Oliveira, André Pinto e Ukra. Experiências sem seguimento, até ver.

Maioria das estreias até ao jogo com Cabo Verde

Vamos então começar…pelo princípio. Logo na primeira convocatória, para o particular com França e o jogo na Dinamarca, Fernando Santos trouxe novidades. Além dos referidos «reaproveitamentos», deu a primeira internacionalização a três jogadores: Cédric Soares, Adrien e João Mário. Chamou ainda José Fonte e Ivo Pinto pela primeira vez, mas não os utilizou.

O central do Southampton iria estrear-se frente à Argentina, no mesmo jogo em que o, na altura, bracarense Tiago Gomes também vestiu a camisola das quinas. Raphael Guerreiro, depois das boas indicações nos sub-21, tinha sido aposta de início com a Arménia.

Seguiu-se o jogo com a Sérvia, com Fernando Santos a chamar Ventura, guarda-redes que já tinha sido chamado na era Paulo Bento mas continua sem somar minutos.

No particular com Cabo Verde, além das estreias já referidas, Fernando Santos levou para estágio Marafona, Lucas João, Rui Fonte e Tiago Pinto.

De lá para cá, o grupo teve menos oscilações. Com a Itália, Daniel Carriço teve a primeira oportunidade para representar a seleção A. Agora, para este duplo compromisso que encerra a caminhada, Fernando Santos chamou o benfiquista Nelson Semedo, que não jogou com os dinamarqueses e aguarda uma oportunidade na Sérvia.

De igual modo, também Rui Fonte e Ricardo Pereira poderão ter uma oportunidade na Sérvia, depois de serem convocados para render Ronaldo, Ricardo Carvalho e Tiago.


Nelson Semedo pode ser o 15º jogador lançado por Fernando Santos

Jogadores lançados por Fernando Santos:

-Cédric Soares
-João Mário
-Adrien Silva
-Raphael Guerreiro
-José Fonte
-Tiago Gomes
-Anthony Lopes
-Paulo Oliveira
-André Pinto
-André André
-Bernardo Silva
-Danilo Pereira
-Ukra
-Daniel Carriço

Jogadores convocados sem internacionalização:

-Ivo Pinto
-Ventura
-Marafona
-Lucas João
-Rui Fonte
-Tiago Pinto
-Nelson Semedo

Dez mudanças do primeiro grupo para o atual

Há, claro, outras formas possíveis de olhar para a temática da renovação da seleção. Perceber, por exemplo, a diferença entre o primeiro grupo de Fernando Santos (para os compromissos com França e Dinamarca) e o atual (Dinamarca e Sérvia).

Feitas as contas, 14 jogadores continuam e dez são novidade. Motivos diferentes, claro. Desse grupo mantêm-se Rui Patrício, Cédric, Bruno Alves, Eliseu, Ricardo Carvalho, José Fonte, João Moutinho, Tiago, João Mário, Quaresma, Nani, Danny, Éder e Cristiano Ronaldo.

Anthony Lopes também seria um jogador a integrar as duas convocatórias, mas uma lesão tirou-o do grupo, sendo chamado Eduardo. O guarda-redes do Dínamo Zagreb é uma das «caras novas» a par de Ventura, Fábio Coentrão (estava lesionado à data da primeira convocatória), Nélson Semedo, Luís Neto, André André, Bernardo Silva, Danilo Pereira, Miguel Veloso e Rafa Silva.

Por lesão ficaram de fora desta convocatória Pepe e Vieirinha, ao passo que jogadores como William Carvalho, Beto e André Gomes procuram também a melhor condição física. Ivo Pinto, Antunes e Adrien Silva são os outros jogadores chamados na primeira convocatória e que agora não integram o grupo.

Outros dados a observar são as idades dos jogadores, por exemplo. Há seis jogadores com menos de 25 anos na convocatória de Fernando Santos (Cédric, Nélson Semedo, Danilo Pereira, Bernardo Silva, João Mário e Rafa Silva), sendo que William e André Gomes poderiam reforçar este núcleo tivessem outra disponibilidade física.

A nível de internacionalizações, refira-se que Ventura e Nelson Semedo nunca jogaram pela seleção A; sendo que há mais oito jogadores com menos de 10 jogos (Cédric, José Fonte, Neto, André André, Danilo, João Mário, Bernardo Silva e Rafa).



João Mário ganhou um lugar no grupo de Fernando Santos

Por fim, para que se faça a comparação, repare-se no outro extremo. A seleção tem, nesta convocatória, nove jogadores acima dos 30 anos (Eduardo, Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Eliseu, José Fonte, Tiago, Danny, Quaresma e Ronaldo). Um dado que prova o que Fernando Santos disse na apresentação: independentemente da idade, quem estiver em boa condição, será chamado.

E os próximos tempos dirão se as novidades ficarão por aqui. Há nomes à espera de uma oportunidade que poderá, ou não, vir até antes do Euro: Ruben Neves, André Silva, Gonçalo Guedes, Rony Lopes, Gonçalo Paciência, Gelson Martins, Carlos Mané e outros.

Muita gente à espera que a fila ande...

«A qualidade do futebol português está demonstrada. Os sub-21 e os sub-20 estiveram muito bem. Neste caso estamos a falar de jogadores que já são seniores, que já jogam regularmente nos seus clubes. Fizeram um trabalho fantástico nessas duas competições. Não tenho dúvidas nenhumas de que o futuro está garantido»  [Fernando Santos, a 28 de agosto de 2015]