A propósito do duelo entre Portugal e Rep. Checa, dos quartos de final do Campeonato da Europa, o Maisfutebol recupera um artigo publicado originalmente a 21 de Maio, no âmbito da Euro2012 Network. Trata-se de uma apresentação do próximo adversário da equipa das quinas, elaborada por um jornalista checo.

Autor: Michal Petrák*

Em Outubro de 2011, o Sparta de Praga recebeu o Liberec num jogo do campeonato checo. A equipa da casa parecia embalada para o título. Contudo, foi arrasada pelo Liberec (0-3). Um homem deu nas vistas: o lateral direito Theodor Gebre Selassie.

Mas Gebre Selassie dá sempre nas vistas. O terceiro golo frente ao Sparta foi uma obra de arte e o lateral deixou a sua marca. Após os festejos, o defesa foi alvo de ofensas verbais por parte dos adeptos locais.

Os adeptos do Sparta viriam mais tarde a garantir que os barulhos ofensivos eram dirigidos a Breznaník, que tinha lesionado o jovem Ladislav Krejcí. Ainda assim, o clube foi punido pelas autoridades desportivas locais.

Sim, Gebre Selassie destaca-se no futebol da República Checa. Destaca-se porque é um lateral direito extremamente dotado, com uma confiança em crescendo. Destaca-se pela sua qualidade, pelas suas correrias pelo flanco e os seus cruzamentos precisos. E sim, destaca-se porque é negro.

Os abusos que ele sofreu foram de natureza racista. Os adeptos imitaram o som de macados. Gebre Selassie responde com futebol. Quando foi chamado por Michal Bilek para um torneio amigável em Junho de 2011, ele foi uma revelação. Continuou a melhorar e contribuiu para a qualificação para o Europeu.

E, mesmo assim, sobram adeptos a contestar a sua inclusão na seleção. Por causa da cor da sua pele. «É entranho e lamento. Eu nasci na República Checa, vivi aqui toda a minha vida. Só fui à Etiópia uma vez, quando tinha 2 anos de idade.»

«Há um negro a mandar no país mais poderoso do Mundo e as pessoas discutem a minha presença na seleção da República Checa», desaba o jogador.

Há esperança, de qualquer forma. A sociedade checa vai-se afastando do seu isolamento comunista do passado. Nos anos 90, os adeptos ainda atiravam bananas a Kennedy Chihuri, um médio zambiano do Viktoria Zizkov.

«Sou feliz por ser diferente. Pelo menos, dou mais nas vistas. Por outro lado, é uma desvantagem quando jogo mal», vai brincando Gebre Selassie, no seu estilo descontraído, com inteligência e força de vontade.



Depois, há o sorriso. Gebre Selassie sorri muito. A sua mãe Chamola, médica, é da Etiópia. Veio, apaixonou-se e ficou.

Em Agosto de 2011, na derrota frente à Noruega, o veterano Zdenek Pospech fez parte de uma defesa sofrível. Nessa altura, o selecionador terá decidido apostar em Selassie. Ele estreou-se em Junho desse ano e já afastou a concorrência de Pospech (Mainz) e Ondrej Kusnír (Sparta Prague).

O seu desenvolvimento surpreendeu alguns dos antigos treinadores. A dada altura, quando foi emprestado pelo Jihlava da segunda divisão para o Velke Mezirící da quarta, ele pensou em deixar o futebol e concentrar-se nos seus estudos de Proteção Civil na universidade de Olomouc.

Gebre Selassie resistiu e continuou a jogar futebol. A sua mãe teve de ceder. «Costumava lamentar. Queria que ele, pelo menos, pudesse conciliar desporto e estudos. Contudo, para isso seria preciso uma extraordinária força de vontade e talvez estivesse à espera de demasiado da parte dele.» O lateral do Liberec promete voltar à universidade nos próximos anos.



Por agora, o futebol. Na presente temporada, Gebre Selassie deu tudo para levar o Liberec ao primeiro título de campeão desde 2006. Agora vem o Europeu e, se tudo correr bem, uma transferência para o estrangeiro. Provavelmente, a sua próxima universidade já não será na República Checa.



* Michal Petrák é jornalista do Denik Sport.