Freddy Rincón e Faustino Asprilla, senhores do balneário da Colômbia no Mundial 1994, zangaram-se 16 anos depois do torneio realizado nos EUA. Motivo? Brayan Riascos, o herói desta reportagem.

Na verdade, Brayan nem sequer era nascido nesse verão de má memória. A Colômbia não passou da primeira fase, Andrés Escobar foi executado a sangue frio meses depois, o futebol colombiano mergulhou numa depressão jamais sentida.

O que motivou, então, a zanga entre Rincón e Asprilla? Riascos, ex-avançado de Trofense e Famalicão, atualmente livre no mercado de transferências, explica tudo ao Maisfutebol.

«Em 2010, quando eu tinha 16 anos, metade dos clubes colombianos quiseram contratar-me. O Faustino era o representante do Independiente de Medellin e esteve perto de me convencer. O Freddy Rincón trabalhava com o Corinthians e… bem, acabei por preferir jogar no Brasil. O Asprilla não gostou nada, ficou louco.»

Para convencer o Timão, Brayan Riascos marcou «cinco golos no primeiro treino». Tite, atual selecionador do Brasil e treinador do emblema paulista na altura, ficou deslumbrado.

«Veio falar comigo, fez-me várias perguntas e disse-me que não queria perder-me de vista. Eu ainda era um adolescente, mas passei a treinar regularmente com o plantel principal do Corinthians. Aconteceu tudo a uma velocidade louca.»

Ora, e onde entra Portugal no meio desta história? Entra, precisamente, em janeiro de 2014. Pela porta do Trofense.

«Joguei a final da Copa São Paulo [torneio para equipas de Sub20] e no final um diretor do Corinthians falou-me na possibilidade de jogar na Europa. Disse logo que sim, esse era o meu sonho de menino, desde os dias de brincadeiras de rua em Buenaventura [Estado de Valle del Cauca, oeste colombiano].»

«Se o empresário não pagar, o atleta não joga no Corinthians»

Filho de um médio «razoável» e de uma «avançada fantástica», Brayan Riascos não teve problemas em convencer os pais a deixá-lo sair de casa e agarrar o futebol. «Os meus pais eram fanáticos por desporto e antigos praticantes. Tive sorte.»

Aos 15 anos, Brayan teve uma pequena experiência na Guatemala, aos 16 deixou Asprilla e Rincón de afetos desencontrados, aos 17 conquistou os bons auspícios de Tite no Timão, aos 19 desatou a marcar golos na Trofa.

Brayan Riascos nos tempos do CD Trofense

«Estive todo o ano de 2014 na II Liga, fiz 33 jogos e 10 golos. Tive a possibilidade de jogar em clubes superiores [n.d.r. Riascos fala no Sporting B], mas o Corinthians pedia um milhão de euros por 60 por cento do meu passe. Acabei por voltar ao Brasil, fui emprestado ao Flamengo paulista e ao Bragantino». 

Brayan lamenta a postura do Corinthians e a política desportiva do emblema paulista.

«O problema no Corinthians é que… se o seu empresário não colocar dinheiro no clube, você não joga. É triste. Por isso preferi voltar a Portugal e tentar, em definitivo, o meu sonho cá.»

E assim surgiu o Famalicão em janeiro de 2017. Mais uma experiência na II Liga, agora num clube «ambicioso e cheio de adeptos apaixonados».



«A entrada do Dito no Famalicão prejudicou a minha vida»

Brayan Riascos fez 90 minutos na estreia contra o Leixões e voltou a ser titular na semana seguinte. Depois, o azar arruinou-lhe os planos.

«Contra o Olhanense fiz uma lesão no menisco e tive de parar um mês. Recuperei, dei tudo o que tinha e voltei contra o V. Guimarães B em abril.»

A lutar pela manutenção, o Famalicão mudou de treinador logo depois. Saiu Nandinho, entrou Dito. E Brayan Riascos não voltou a somar minutos. Problemas com o novo treinador?

«Nada, nenhum. Mas a verdade é que a chegada do Dito prejudicou-me. Nunca me deu nenhuma explicação para não jogar. Eu sou uma pessoa educada e também nunca o confrontei. Sempre treinei bem, forte, mas ele tinha outras opções», aquiesce, conformado, o ponta-de-lança colombiano.

‘Força da natureza’, diz quem o conhece bem.

«Tenho muita força, muita mobilidade, sou um avançado objetivo. Agradeço tudo o que aprendi com o senhor Tite no Corinthians e as longas conversas com os senhores Rincón e Asprilla numa fase determinante da minha carreira.»

O que se segue? «Portugal, adoro o país e o futebol português. Sou um jogador livre e ainda não mostrei metade do meu valor.»

Brayan Riascos, discípulo de Tite, velho conhecido de duas das maiores glórias colombianas. Um goleador colombiano em busca de uma casa lusitana.