Este domingo não houve futebol em Haltern. A cidade sobrevive em dor e profundo desgosto, destroçada pela tragédia aérea da passada semana. 18 pessoas da pequena urbe morreram a bordo do Airbus320 da Germanwings ( leia mais no site da TVI24).

A direção do TuS Haltern, presidida por Cristoph Metzelder - ex-futebolista do Real Madrid e antigo internacional alemão – cancelou todos os jogos oficiais agendados para o fim de semana, de forma a juntar-se ao profundo mar de lágrimas chorado pelos conterrâneos.

«Estamos devastados, ninguém pensa em futebol, apenas nos que morreram e nas suas famílias». A declaração sombria é de Ronald Schulz, dirigente do modesto clube, ao Maisfutebol.

O TuS Haltern, fundado em 1882, compete na Landesliga 4, uma divisão regional nos quadros competitivos alemães. Ocupa o nono lugar na tabela e joga no Stauseekampfbahn Haltern, um estádio com capacidade para receber 1000 espetadores.
 
Haltern am See, estado da Renânia do Norte-Vestfália, 38 mil habitantes. Casa de 18 das 150 vítimas do voo U49525. 16 estudantes e dois professores do Instituto Joseph König.

O grupo passou uma semana em Llinars del Vallès, perto de Barcelona, num programa de intercâmbio com alunos espanhóis do instituto Giola. Voltaria a Haltern a 24 de março.

«Nenhum deles era atleta do nosso clube, mas muita gente no TuS conhecia alguma das vítimas. Numa cidade tão pequena é quase impossível não haver sempre algum ponto de contato», explica Ronald Schulz, questionado pelo nosso jornal sobre a tragédia.

Clube e cidade estão em «choque» e ainda a «tentar perceber» tudo o que envolveu a queda do Airbus. 

«À noite as pessoas juntam-se numa das praças da cidade, acendem velas e rezam. Ninguém consegue aceitar a perda de tantas vidas».

Bodo Klimpel, autarca local, não esconde o drama. «Haltern jamais recuperará, não voltará a ser a mesma».

O luto impede o desvio da mente para outros caminhos. O inestimável valor das vidas perdidas deixa a realidade em suspenso.

«Os outros clubes compreenderam perfeitamente. Não sei quando voltaremos a entrar em campo. Temos recebido o apoio e as condolências de várias instituições alemãs e de outros países. O incidente deixou-nos paralisados», refere Ronald Schulz.
 
Eclético, amador, organizado. Três palavras que definem bem o TuS Haltern, uma instituição onde o futebol não é nem prioridade, nem escolha absoluta. O ténis, o surf, a ginástica e o ténis de mesa compõem um leque rico de modalidades.

Em 133 anos de história, o TuS Haltern acolheu vários nomes importantes nos seus elencos. Cristoph Metzelder, claro, formou-se no clube, saiu para ter uma excelente carreira e voltou à casa de partida. Além de presidente, Metzelder joga pela terceira equipa sénior.

«Ele está completamente envolvido no clube, ajuda em tudo, participa em várias ações de promoção e tem atraído a atenção da comunicação social. E ainda faz uma perninha no TuS Haltern III. Ainda no último jogo marcou um golo»
.

«Estou sem palavras»
, escreveu o próprio Metzelder no twitter
, ao tomar conhecimento do horror ocorrido nos Alpes. Poucas horas antes, o presidente-jogador partira o braço esquerdo num treino da equipa. O pior estava reservado para mais tarde.
 

Além de Metzelder, pelo TuS Haltern passaram Benedikt Howedes (32 vezes internacional pela Mannschaft
e jogador do Schalke 04), o recentemente falecido Wolfram Wuttke
e até o português Sérgio Pinto
. Pinto, atualmente no Fortuna Dusseldorf, jogou entre 1993 e 1995 nas camadas jovens do TuS Haltern.

Este domingo não houve futebol. Haltern é uma cidade tocada pelas trevas.