Jogo interrompido; jogador a precisar de assistência, entra em campo o elemento mais titulado do Nacional da Madeira. Rui Almeida, de 43 anos, esconde atrás do bata de médico um histórico invejável como jogador de andebol, somando aproximadamente duas dezenas de títulos e mais de 180 internacionalizações A por Portugal.

«Pode somar os títulos todos dos jogadores do Nacional e multiplicar por dez», atira o famalicense com sorrisos quando se lhe diz que, tem mais títulos no palmarés do que todo o plantel junto. O Maisfutebol esteve à conversa com o médico, que conta como conciliou a medicina com a alta competição e aborda as conversas com Manuel Machado.

Recuemos duas décadas, até ao epicentro da carreira enquanto andebolista de Rui Almeida. Depois de começar a praticar no clube da terra, no Famalicense Atlético Clube, o ponta direita mudou-se para o ABC de Braga onde conquistou uma série de títulos. Tantos que até fogem às contas.

Rui Almeida foi capitão da Seleção Nacional e do ABC

«Pode parecer um bocado estranho, mas não tenho bem a certeza quantos títulos conquistei porque nós em Braga conquistámos mesmo muitos títulos. Fiz oito campeonatos pelo ABC e um pelo Madeira SAD. Penso que fui nove vezes Campeão Nacional e Taças de Portugal são, à vontade, umas dez, nove pelo ABC e uma pelo Águas Santas», atira o ex-internacional português.

«Quando dei por ela estava a terminar o curso»

O capitão da Seleção Nacional A e do ABC, recentemente incluído pelos adeptos na melhor equipa de sempre do clube bracarense, tem quase duas dezenas de títulos. Nome grande do andebol português, ponta direita temível. Pelo meio, uma Licenciatura em Medicina.

«Quem corre por gosto não cansa. Apesar de ter atrasado a conclusão do curso, fruto das incompatibilidades de horários entre os treinos em Braga e os estágios, competições europeias e plano curricular do curso, acabei por ir andando. Quando dei por ela estava praticamente a terminar o curso, mas obviamente foi com muito esforço. Durante muitos anos, em que conciliava as duas coisas, abdiquei de muitas outras atividades a nível social», refere Rui Almeida.

Rui Almeida com Viktor Tchikoulaev (à direita) a celebrar um título pelo clube bracarense

«Opções controladas», assegura o ex-jogador de andebol, que recorda que apostou com convicção na carreira de andebolista, sendo profissional a tempo inteiro. A reta final da carreira fez-se a meias, entre universidade, estágios e início de carreira enquanto médico. Neste contexto, depois de ter jogado no Águas Santas e no Madeira SAD, o médico deixou de ser andebolista de forma algo inesperada.

«Terminei a carreira de forma curiosa. Não tinha assumido comigo mesmo que ia terminar a carreira no andebol. Em início de carreira médica, sendo jovem, era muito solicitado para fazer urgência, turnos à noite, quando dei por ela tinha um horário médico tão carregado que não tive hipóteses. Em agosto, tinha o horário carregadíssimo de urgência, e foi automático. Não conseguir continuar com as duas coisas.

«De vez em quando mando umas bocas»

Desportista convicto, amante de futebol, para além do andebol, complementou a licenciatura com uma Pós-Graduação em Medicina Desportiva. Foi essa mesma pós-graduação que lhe abriu as portas do Departamento Médico do União da Madeira, onde esteve cinco anos. Mas o Nacional tinha-o debaixo de olho e o segundo convite conseguiu seduzi-lo.

No balneário do Nacional o seu histórico é conhecido e o médico não resiste. «De vez em quando, mando umas bocas, e brincamos com isso», diz Rui Almeida, com mais sorrisos a acompanhar a tirada em que diz que «mesmo multiplicando por dez todos os títulos dos jogadores do Nacional não conseguem igualar» as suas conquistas.

A resposta a nova questão começa com mais risos. A experiência enquanto jogador de andebol ajuda a perceber quando os jogadores estão só a fazer fita ou estão realmente lesionados? «É uma verdade que o futebol tem muita teatralização. Os jogadores fazem, no fundo, o que a lei permite para jogar com o tempo», começa por dizer.

O raciocínio prossegue de forma ponderada. «Embora tenha dificuldades em aceitar, o atleta de futebol é vulgarmente conhecido por ser muito queixinhas. Mas é um facto que há lesões graves, perigosas porque o futebol é um desporto viril, sendo jogado com os pés a imprevisibilidade é maior. Há muitos mais contactos no andebol, mas controlados e sem preparação. Comecei a respeitar a dor do atleta de futebol», conclui.

Conversas com Manuel Machado sobre andebol

No dia-a-dia de Rui Almeida tem contacto essencialmente com as camadas jovens do clube da Choupana, assume o banco de suplentes em jogos e dá apoio em estágios. Tem com Manuel Machado, técnico do Nacional, que antes do futebol também fez carreira no andebol, várias conversas.

«Converso muitas vezes com o professor Manuel Machado, que é um profundo conhecedor de andebol, também foi treinador. Pela proximidade das nossas terras, Famalicão e Guimarães, há amigos comuns e conta-me histórias que reconheço, apesar de sermos de gerações diferentes», explica o Senhor Doutor do Nacional.

O futebol serve para Rui Almeida «manter o bichinho» do desporto, a «sensação do balneário». A experiência no andebol ajuda «a estar por dentro da competição». 

Da próxima vez que vir o médico do Nacional entrar em campo, recorde que Rui Almeida carrega um extenso currículo, recheado de títulos.