Bandeiras, cachecóis, gritos, braços no ar. Em tons azuis de um lado. De verde, no outro. Em maioria da cidade do Porto, mas também de outras partes do país para apoiar «dragões» e «leões».

Este é um retrato sintético a um dos maiores clássicos do futebol português. E que responde, em revista, à pergunta que o leitor apanhou na chamada a título. Contudo, para lá das quatro linhas, dos jogadores e do comum adepto, há muito mais do que noventa - e poucos mais - minutos de bola.

A noite de sábado centra todas as atenções num jogo que empolga mundos e fundos. Dias, às vezes semanas antes do pontapé de saída. Chegado o dia, o movimento começa cedo. Em pleno dia. Já cheira a clássico.

Carros, sem conta. Cada vez mais com o aproximar da hora. Entre eles, amigos e muitas famílias. Amiúde, buzinas de timbres variados. Sons marcados de pirotecnia.

A chamada a um clássico compreende, lá dentro, a concentração e o rigor dos jogadores. Nas bancadas, o entusiasmo e as vozes dos adeptos. Em redor do estádio, ofícios vários em procura de ganhar a vida de formas completamente distintas.

«Olha o cachecol, cinco euros!»

Pelas ruas que rodeiam o recinto de jogo, vozes várias se ouvem com esta e outras frases semelhantes. Entre a azáfama de público que envolve o exterior do Estádio do Dragão, na ânsia do grande embate, há quem lute pelo sustento. Por um «modo de ganhar a vida». Entre a venda de capas e cachecóis. Cachorros ou chapéus. É o caso de Augusta.

Ainda o FC Porto jogava no Estádio das Antas e já esta mulher, de olhar cinquentenário, ali pelo metro e meio de altura, nascida na Ribeira, procurava o tostão a vender cachecóis antes dos jogos da equipa da Invicta. «Só faço aqui. E só isto. É isto a minha vida», atira, portista confessa.

Pouco mais de uma hora antes do apito inicial, a chuva ainda cai e o negócio está, por isso, mais fraco que o habitual. «É por causa do tempo. Incentivo para as pessoas comprarem porque vamos ganhar o jogo». Nos últimos vinte anos, é da venda de cachecóis à porta do Dragão que faz a sua vida. Depois do sacrifício, vai, como muitos, a jogo. Como adepta.

A intensa procura pelo sucesso do negócio contrasta com a tranquilidade de quem olha para o jogo como um momento de lazer ao fim-de-semana. E com a rivalidade nos cânticos de quem vive o mundo da bola de forma mais intensa. Viva. De azul ou verde. Uma mescla de sentimentos.

Longas filas debaixo de chuva, à entrada para o Dragão

Os cerca de 48 mil adeptos que garantiram bilhete para o Porto-Sporting vão chegando cada vez mais em busca de uma entrada tão tranquila como atempada nas bancadas. E nem a chuva, insistente, impõe desistências de última hora. Afinal, clássico é clássico e (quase) sempre tem rótulo de luta pelo título.

Antes da entrada, há fotografias de família. Selfies com o exterior do Dragão como pano de fundo. Lá dentro, entre assobios e palmas, os primeiros flashes à medida que as equipas entram para o aquecimento. Momentos para mais tarde recordar.

O relógio, entretanto, marca as 20h30. É hora.

Fitas estendidas, lençóis a derrapar entre adeptos, coreografias a imperar de portistas a sportinguistas. Porque a tática vai para além das quatro linhas. O aclamado 12.º jogador, defendem alguns, também vai a jogo.

Os braços de Soares, ao minuto seis, ganham seguimento na euforia portista nos festejos do primeiro golo. Dose dupla ao minuto 40. A «fortaleza» que Nuno Espírito Santo tanto aclama dá mais conforto e alegria aos adeptos da casa ao intervalo. Um cenário que mudou um pouco com a segunda parte. Lá dentro, o pontapé de Alan Ruiz despertou ânimos lá em cima, no topo norte do Dragão, onde moravam 2 500 fiéis leoninos. Preocupação maior até final para os da casa, que ganharam fôlego na mão de Casillas, para lá da hora. Um momento brutal. Quase divino. Do outro lado, nem Jesus escapou ao desespero.

O final de jogo foi tranquilo e profissional entre jogadores, ao deixar o relvado. Sem confusões de maior entre adeptos. Porque além do espetáculo da bola, a segurança também impera.

Roer de unhas, mãos à cabeça, adeptos que não escondem, aos saltos, ligeiro nervosismo. É assim um clássico, do primeiro ao último apito.

Cai a chuva e cai o pano no Dragão. É tempo de regressar a casa, uns mais contentes do que outros. A bola regressa no próximo fim-de-semana.