No início de agosto, o Maisfutebol descreveu o percurso raro de José Fontes: Singapura, Nottingham, Londres, Madrid, Porto…

Menos de dois meses depois, há mais um ponto cardeal a acrescentar a este mapa riquíssimo: Leicester, East Midlands, Inglaterra.

Entre uma e outra conversa com o nosso jornal, o professor José Fontes candidatou-se a uma vaga no staff técnico do campeão inglês e foi o escolhido. Isto, caros leitores, num universo de mais de 500 candidatos.

Prova irrebatível de qualidade, de crença, de ambição. Aos 31 anos, a Premier League e a Liga dos Campeões são realidades palpáveis.

A estreia europeia no King Power Stadium, ironia das ironias, é frente ao clube da cidade que o viu nascer. Marcante, pois.

Leicester: 300 mil habitantes apaixonados por um clube moderno

First Team Technical Analyst. Traduzido para a língua de Camões, percebemos que José Fontes é membro do departamento de Análise e Observação na primeira equipa do Leicester, treinada pelo experiente Claudio Ranieri.

«É um gentleman», diz o português do Leicester ao Maisfutebol. «Todos os dias faz questão de cumprimentar todos os funcionários. Pelo nome. Mantém a humildade, mesmo depois do título inglês».

Como é fácil de aceitar, o português do Leicester não está autorizado a partilhar publicamente os detalhes da sua função. O futebol profissional é um laboratório de código, experiências e avaliações valorizadas ao mais ínfimo pormenor e os Foxes não fogem a essa realidade.

Em Leicester, cidade «evoluída e já capaz de oferecer excelente qualidade de vida», os 300 mil habitantes ainda celebram o inaudito título de campeão inglês, apesar de resultados recentes – menos positivos – terem recolocado o clube no planeta Terra.

José, ainda assim, fala de uma instituição «extraordinariamente organizada», «moderna» e possuidora «de infraestruturas só ao alcance dos grandes clubes».

«Não há melhor comida indiana fora da Índia»

O seu dia a dia em Inglaterra, onde ainda procura casa para viver, é passado essencialmente na Academia do Leicester, situada a cerca de um quilómetro do estádio principal.

O departamento de José, liderado por Paul Balsom, é o responsável por fornecer toda a avaliação de performance desportiva/estatística/científica à equipa técnica de Claudio Ranieri. É nessa sala e nesses computadores que começa, por exemplo, a dissecação ao FC Porto.

Ranieri referiu que Islam Slimani será um importante informador, mas o nosso jornal acredita que José Fontes providenciará tanta ou mais informação sobre uma equipa que bem conhece.

Culto, sempre informado, José fala mais um pouco sobre Leicester, a cidade onde se come «a melhor comida indiana fora da Índia».

«Em 1971, os regimes do Quénia e do Uganda expulsaram do país milhares de trabalhadores indianos. Encontraram refúgio em Leicester. É por isso que esta é a cidade mais multicultural de Inglaterra, mais do que Londres. O homem caucasiano é aqui uma minoria e a comunidade vive em harmonia», explica José Fontes, antes de mais uma curiosidade.

«É em Leicester que estão depositados os restos mortais do Rei Ricardo III. A cidade tem muito orgulho nisso. Ah, e aqui chove menos do que no Porto. O céu costuma estar sempre carregado, cinzento, mas a precipitação é baixa».

Da banca de investimento às aulas com José Mourinho

Abandonada uma prometedora carreira na banca de investimento, José Fontes colocou todo o coração e conhecimento no mundo do futebol. «Uma escolha fácil», garante, apesar dos mundos que perdeu no universo da alta finança. 

Jogou na equipa do colégio frequentado em Singapura, mudou-se na adolescência para Portugal e para as camadas jovens do Castêlo da Maia, rumou a terras de Robin Hood e a Nottingham para treinar no Arnold Town.

Seguiu-se o Trofense e a primeira experiência numa equipa técnica ao serviço do Tottenham. Paixão consolidada, certezas definidas, estágio no Leixões e adjunto de Petit no Boavista Futebol Clube.

Pelo meio, a camisola do icónico Clube Marechal Gomes da Costa (MGC), emblema dos distritais da AF Porto. Nos últimos meses, um curso na Faculdade de Motricidade Humana, onde conheceu José Mourinho, ampliou horizontes e ambição. 

«É um orgulho estar na Premier League com a minha idade», encerra José Fontes, impossibilidade pelo regulamento dos Foxes de abrir mais o jogo sobre o seu dia a dia e trabalho nas East Midlands.

De uma coisa o FC Porto pode estar certo. Há olhos portuenses na raposa campeã de Inglaterra.