O Vizela confirmou o regresso à II Liga no passado fim-de-semana, oito anos depois da última presença. A subida de divisão foi carimbada no Estádio Eng.º Sílvio Cerveira, casa do Anadia, com uma vitória por 3-2.

Depois de na época passada o clube minhoto ter morrido na praia, pois recorde-se que terminou o Campeonato Nacional em terceiro lugar com os mesmos pontos que Famalicão e Varzim, a diferença de golos foi determinante e relegou o FC Vizela para a terceira posição.

Os vizelenses recuperaram as forças e apontaram como objetivo para esta temporada voltar a competir nos campeonatos profissionais.

O Maisfutebol esteve à conversa com dois jogadores que estiveram na última presença do clube na II Liga e que, este ano estiveram em destaque na equipa liderada por Ricardo Soares. O extremo Fininho (conheça a história aqui) e com o central goleador Cláudio, antigo jogador do Gil Vicente e Trofense.

Fininho, há três anos no clube do distrito de Braga, deu voz à ambição que o Vizela tinha para esta temporada e relembra o fim dramático da temporada anterior.

«Este ano sempre tivemos o objetivo de subir à II Liga. Este é o meu terceiro ano seguido no clube. No primeiro ano, o objetivo não era subir. Ainda assim, ocupamos sempre os lugares cimeiros da classificação e lutámos pelo play-off. No ano passado, não conseguimos chegar ao play-off. E este ano, o objetivo estava mais que claro: subir de divisão», recorda o jogador.

Cláudio representa o Vizela pela 9ª época. O defesa recorda o início do projeto de subida e a tristeza de não terem conseguido atingir o objetivo a temporada passada.

«Foi há dois anos que este projeto começou. O ano passado infelizmente não foi possível, apesar de termos acabado com os mesmos pontos do Varzim e do Famalicão. Mas felizmente, este ano, conseguimos concretizar o objetivo de subir», lembrou o central.

Fundado no primeiro dia do ano de 1939, o FC Vizela é um dos históricos do futebol português. Antes de iniciarmos a viagem pela atual época do clube, recordamos aquele que foi, porventura, o auge da história da instituição no futebol nacional.

9-1 do FC Porto: visita traumatizante à I Divisão Nacional

O Vizela de 1984/85 na única participação na Liga

Vencedor da Zona Norte da II Divisão Nacional em 1983/84, o Futebol Clube Vizela ascendeu ao escalão máximo para a época seguinte. Uma época de má memória para os minhotos, de resto, apesar de ser a única em que militaram na I Divisão do futebol português.

O Vizela terminou na 16ª e última posição, apenas com quatro vitórias e sete empates em 30 jornadas. Treinado, então, pelo jovem José Romão – de 31 anos – o clube marcou 31 golos e sofreu 71.

Um dos maiores obstáculos prendeu-se com a impossibilidade de jogar em Vizela as partidas na condição de visitado. As condições do seu campo não eram suficientes para receber partidas da I Divisão e o FC Vizela foi forçado a socorrer-se do Municipal de Guimarães durante toda a temporada.

FC Vizela-Varzim SC em Guimarães: 1-1

A estreia no maior palco nacional teve direito a visitante ilustre. O Benfica visitou a Cidade Berço e derrotou o debutante Vizela por 1-2, a 26 de agosto de 1984. Golo do brasileiro Maurício para os minhotos, com Michael Manniche e Carlos Manuel a marcarem para as águias.

O primeiro dos quatro triunfos apareceu à quarta tentativa: 1-3 em Coimbra, reduto da Académica. Nelito foi o homem da tarde e bisou para os vizelenses, com Barbosa a fazer o terceiro para os visitantes. Pedro Xavier reduziu para a Briosa.

Nos jogos contra o FC Porto, curiosamente, o FC Vizela conseguiu, talvez, o seu resultado mais surpreendente, ao empatar 0-0 em Guimarães. Na Póvoa de Varzim [as Antas estavam interditas], meses antes, o céu abatera-se sobre os minhotos: 9-1, tarde de dezembro, carregada de golos e sol.

FC Porto-FC Vizela, 9-1 (1984/85)

Plantel do FC Vizela na I Divisão 1984/85:

Guarda-redes: Sérgio, Caldas e Miguel;

Defesas: Toni, Rochinha, José Carlos, Berto, Manuel Correia, Russo e Roque;

Médios: Adélio, Perrichon, Teixeira, Barbosa e Guerra;

Avançados: Fernando Jorge, Faria, Salvador, Pita, Nelito, Maurício, Santos e José Augusto.

A derrota com o Fafe e os 12 jogos consecutivos sem perder

Na presente temporada, o Vizela terminou a Série B do Campeonato de Portugal em segundo lugar, a três pontos do Fafe. Garantido o apuramento para a fase de subida, faltava alcançar o primeiro lugar, o único que dá acesso direto ao segundo escalão do futebol português.

Os vizelenses entraram na fase de subida do Campeonato de Portugal a vencer na deslocação a Bragança. Contudo, na segunda jornada desta fase final, o Fafe bateu o Vizela por dois golos sem resposta. Ainda assim e de acordo com o Fininho, a derrota contra o vencedor da Série B não abalou o sonho do conjunto de Vizela.

«Sempre acreditamos e uma derrota não nos ia roubar o sonho de subir. Tanto nós como o Fafe podíamos perder pontos, porque o campeonato é bastante equilibrado, joga-se bom futebol e em qualquer jogo se pode perder pontos. O que fez toda a diferença foi a segunda volta exemplar que o Vizela fez: em 21 pontos possíveis conseguiu 19 pontos», destacou.

Por sua vez, Cláudio salienta a força e a capacidade de superação do grupo nos momentos mais difíceis como um dos segredos para o sucesso do Vizela.

«Sempre acreditámos que era possível subir porque temos um grupo muito forte, não só os onze titulares. Quando apareceram os castigos e as lesões, como no meu caso, quem jogou esteve bem. Joguei a segunda volta da segunda fase toda e contrariámos a ideia que as pessoas tinham de que íamos baixar o rendimento», frisou.

E os números não enganam. Após a derrota frente aos fafenses, o Vizela arrancou para uma série de 12 jogos sem conhecer o sabor da derrota. O plantel conseguiu deixar o clube na II Liga, mesmo com treinos em horário pós laboral e as dificuldades naturais em conciliar dois empregos.

O jogo que confirmou a subida do Vizela:

Cláudio, o repetente em subidas pelo Vizela e os homens dos dois ofícios

A história de Cláudio em Portugal funde-se, invariavelmente, com a do próprio clube. O central já conta com nove temporadas ao serviço dos minhotos e é o único jogador do atual plantel a estar presente nas últimas duas subidas do clube à II Liga. Por isso, a subida teve um sabor especial.

«Sou o único jogador que subi duas vezes, só por isso já estou na história do clube. É uma subida especial porque, embora tenha passado por boas equipas, quando se representa um emblema tanto tempo começa-se a viver o clube» confessou.

Pese embora jogue no centro da defesa, Cláudio destaca-se pela veia goleadora desde os tempos do Gil Vicente. Em duas edições da primeira liga, o brasileiro apontou um total de 15 pelos gilistas. Esta temporada apontou 8 golos na caminhada do Vizela até à promoção, igualando o registo do ano anterior.

«Tenho tido a felicidade de marcar golos mas nunca defini uma meta de golos por época. Sou defesa e o primeiro objetivo é defender bem, os golos vem por acréscimo. Felizmente consegui concretizar as oportunidades que tive», justificou.

Cláudio nos tempos do Gil Vicente

Embora a reta final da época tenha sido coroada com a subida de divisão, o plantel superou vários obstáculos até atingir o objetivo a que se propôs. Treinos em horário pós-laboral e as dificuldades naturais em conciliar dois empregos são uma realidade no Campeonato de Portugal.

«Alguns de nós trabalham e saem por volta das 17h ou 18h e como os treinos são às 19h dá para conciliar», como explica Fininho. Ainda assim, o antigo campeão nacional de futsal pelo Sporting refere que com a equipa no segundo escalão o emprego de alguns companheiros pode ter que ficar em ‘stand by’.

«Os meus colegas que trabalham ou abandonam os empregos e dedicam-se ao futebol ou então procuram equipas que treinem à noite para conseguirem continuar a conciliar as duas coisas. A minha situação é diferente, abri recentemente um salão de cabeleireiro juntamente com a minha esposa. Ainda assim, só trabalho por marcação daí que o meu emprego não interfira na minha vida desportiva», explica.

Fininho, uma das figuras do Vizela

Apesar de já terem atingido o objetivo delineado no início da época, ainda resta um último desafio aos vizelenses: tentar vencer o título de campeão do Campeonato de Portugal.

O jogo frente ao Cova da Piedade vai ser disputado no Estádio Municipal de Abrantes, no distrito de Santarém. Mas o mais importante já foi feito, devolver o Vizela aos campeonatos profissionais oito épocas depois de o clube ter descido, por ordem da Comissão Disciplinar da Liga, na sequência do processo apito dourado na temporada 2008-2009.