Os grandes clubes já perceberam que o segredo é atuar global pensando localmente: levar a essência de cada um o mais longe possível. Por isso a expansão internacional se tornou tão importante em emblemas como o Real Madrid, o Manchester United ou o Arsenal.

Ora nesse aspeto, o Barcelona está no pelotão da frente.

Os catalães têm adeptos no canto mais recôndito do globo. A ideia é não parar por aqui e conquistar cada vez mais, e mais, e mais consumidores para a marca.

Para o fazer, garante Franc Carbo Pujol em conversa com o Maisfutebol, apresentam as Escolas Barcelona como uma espécie de trunfo.

«O projeto internacional do Barcelona é uma aposta importantíssima do clube, sem dúvida. Queremos abrir Escolas Barcelona em todo o mundo e no fundo todas estas escolas internacionais funcionam como pequenas embaixadas do clube.»

Franc Carbo, vale a pena dizê-lo já, é o diretor das Escolas do Barcelona. Os números que apresenta são arrebatadores.

«Em Setembro teremos 35 Escolas espalhadas pelo mundo. Neste momento temos 26 em funcionamento, mas já temos contratos para abrir mais nove. Estão espalhadas por 25 países. No Canadá temos cinco, por exemplo. Nos Estados Unidos também temos cinco, no Brasil temos duas, na Austrália duas, no Japão duas, na China duas, enfim.»

Mas há mais.

O clube tem por exemplo cem pessoas a trabalhar no departamento de expansão das Escolas Barcelona, realiza uma média de entre três e quatro campus por semana, num total de 170 campus ao longo do ano, para além de centenas de clínicas desportivas.

Tem 45 mil miúdos envolvidos nas escolas internacionais e realiza todos os anos um torneio que junta as várias escolas em Barcelona e mete 1200 jovens a jogar futebol.

São números brutais, que levam a uma pergunta: para serve tudo isto afinal?

Fácil: para gerar simpatia.

«O importante é dar uma boa imagem e assegurar que estas 45 mil crianças que passam pelas nossas escolas vão ser adeptos do Barcelona para toda a vida. Que no futuro podem mudar de casa, de emprego, de mulher, mas serão sempre do Barça», conta Franc Carbo.

«Por isso para nós é muito importante que todas estas escolas espalhadas pelo mundo, e até mesmo os campus de uma semana, representem bem o Barcelona, de forma a funcionarem como embaixadas do barcelonismo. Queremos que os miúdos sejam adeptos do clube e que arrastem com eles os pais, os irmãos, os amigos. Depois um dia vão viajar até Barcelona, comprar camisolas, comprar bilhetes para o jogo, enfim»

Franc Carbo vai mais longe e garante que a ideia não é sequer fazer dinheiro com as Escolas Barcelona.

«Estes projetos têm custos, porque em cada escola enviamos um diretor geral de Barcelona, que vai liderar o projeto e viver no país. Depois o nosso sócio tem ganhos em associar-se à nossa marca. Por isso é natural que haja um custo que devemos cobrar», diz.

«Mas isso não é o mais importante. Para ter uma ideia, as escolas todas juntas renderam no último ano nove milhões de euros. Não é isso que vai tornar o Barcelona mais rico ou mais pobre. No universo do Barcelona, nove milhões de euros é muito pouco.»

Também não é uma estratégia desportiva, acrescenta.

«O objetivo não é criar ou gerar talento, mas também não o recusamos. Se o encontrarmos, claro que o manteremos. Ainda recentemente tivemos um guarda-redes da nossa escola na Polónia. No passado já tivemos um japonês e um norte-americano que vieram para La Masia. Mas agora, com a Lei FIFA, isso é impossível até que façam 16 ou 18 anos, dependendo dos casos. Por isso não é a nossa prioridade.»

A prioridade, lá está, é gerar simpatia, ganhar adeptos, construir uma rede de consumidores. Afinal de contas é isso que mesmo que significa a expansão da marca.

Já agora vale a pena dizer que a estratégia do Barcelona para conquistar o mundo deixa de fora a Europa: aposta, isso sim, na América (Norte e Sul), Ásia e Oceânia.

«Na Europa temos escolas na Polónia, na Rússia e na Turquia. Apenas isso», refere.

«Porquê? Na Europa há um problema de grande enraizamento do futebol, ou seja, o futebol inglês é muito forte, o futebol francês é muito forte, o futebol alemão é muito forte. Entrar nesses países é muito complicado, há uma estrutura e uma metodologia futebolística própria de cada país implantada. Fora da Europa surgem mais oportunidades, porque em muitos países o futebol de base está menos organizado, menos enraizado.»

O Barcelona pretende portanto levar a sua política de formação a territórios virgens, onde possa aplicar os princípios que a definem sem barreiras: o 4x3x3 que percorre todas as equipas, o toque de bola, a posse, o jogo construído com paciência.

Mas em frente.

Ao ouvir falar o diretor das escolas de formação do Barcelona, de resto, foi impossível não pensar no Sporting: o clube leonino tem uma estratégia de expansão que o levou a abrir academias no Canadá, na África do Sul, em Angola, em Cabo Verde e na Guiné Esquatorial, havendo planos para o fazer em breve na China, na Austrália e mais uma vez na África do Sul e em Cabo Verde. É uma boa estratégia?

«É uma excelente estratégia», garante o catalão.

O Barcelona que o diga: afinal de contas já vai vários passos à frente. Descobriu provavelmente antes de todos os outros que o importante não é encontrar tesouros, nem sequer diamantes.

O importante é conquistar o mundo.