O ioga está na moda.

O que não é propriamente surpreendente: num mundo cada vez mais acelerado, competitivo e violento, a mente exige momentos de sossego.

Silêncio, quietude e paz.

A prática meditativa herdada do hinduísmo e do budismo chegou naturalmente ao desporto, sobretudo nos Estados Unidos. É frequente ver os melhores jogadores de futebol americano ou de basquetebol em posições incomuns, na praia, em casa ou num ginásio.

Grandes nomes do desporto como Shaquille O’Neal, LeBron James ou Kevin Garnett não dispensam o ioga. Como faz, de resto, a seleção de râguebi da Nova Zelândia.

«O ioga não é só uma coisa do corpo, também é uma coisa da mente e de facto ajudou-me muito. Tive alguns problemas nas costas há uns anos e desde que comecei a praticar ioga, elas desapareceram por completo. Se funciona para toda a gente? Não sei. Mas comigo funciona», referiu, por exemplo, LeBron James.

«O ioga ajuda-me a acalmar e a centrar a minha energia no que é realmente importante. Por isso sinto-me mais equilibrado, já não saio para o campo com vontade de espalhar a minha energia por todo o lado», acrescentou Kevin Garnett.

«Estou totalmente focado no jogo e tenho a mente definida no que preciso de fazer.»

Kevin Garnett escreveu aliás um livro sobre a prática do ioga, no qual deixou bem claras todas as motivações para exercer a modalidade e os benefícios que retirou dela.

Chamou-lhe «Os homens de verdade praticam ioga».

No futebol, o grande embaixador do ioga chama-se Ryan Giggs. O galês não só é um praticante militante do conceito: também lançou uma série de vídeos que funcionam como tutoriais para colegas de profissão que queiram seguir o exemplo dele.

Em Portugal, e segundo foi possível saber, o ioga ainda não se massificou entre atletas. Há no entanto um pequeno grupo que já aderiu aos benefícios da disciplina meditativa, do qual fazem parte nomes como Nani, Rui Patrício ou William Carvalho.

Em comum têm o facto de terem tido a mesma professora: Teresa Viana.

Trata-se de uma especialista em ioga adaptado à prática desportiva, e ao desporto de alta competição em particular.

«Comecei a interessar-me pelo ioga para desportistas quando conheci uma americana chamada Gwen Lawrence, uma instrutora que trabalha com atletas da NBA e da NFL. Tive formação com ela», conta Teresa Viana ao Maisfutebol.

«Tem muito a ver com a prevenção de leões. Muitas vezes os jogadores deixam de jogar, passam por momentos menos bons, depois dormem mal, descansam pouco e ficam susceptíveis a problemas físicos. O ioga ajudam-os a recuperar o equilíbrio físico e mental.»

Nani foi o primeiro jogador a procurá-la. Fê-lo quando ainda era jogador do Manchester United, numa fase em que passava muito tempo no banco.

Ryan Giggs, que era colega do português em Old Trafford, falou-lhe da modalidade e dos benefícios que retirou da prática meditativa. Para Nani foi um argumento suficiente.

«O Ryan Giggs já fazia ioga há muitos anos. Foi numa fase, por volta dos 35 anos, em que estava constantemente lesionado, já a caminhar para o fim da carreira, e em que passava muito tempo fora do onze. Procurou uma professora que trabalhava com alguns atletas do Manchester City e do Manchester United, recuperou rapidamente o equilíbrio, jogou até aos 40 anos e teve uma ponta final da carreira muito boa», recorda.

«Foi aí que apresentou o ioga ao Nani. Com o Nani trabalhei muito a flexibilidade, para prevenir as lesões, e a mente, para ultrapassar a carga negativa de uma fase menos boa.»

Teresa Viana recorda que Nani foi um caso especial: o internacional pratica capoeira desde criança e tinha por isso uma flexibidade natural.

O que não é a norma, de resto. William Carvalho foi disso um bom exemplo.

«O William foi o último com quem trabalhei. Ele tinha pouca mobilidade articulada e trabalhámos a flexibilidade para se tornar um jogador mais rápido», referiu.

«O Rui Patrício foi um caso completamente diferente. Procurou-me mais pela meditação, ele fez muita meditação por causa da concentração. Até pela posição que ocupa, é um jogador muito sujeito a pressão. Quer tentar desligar-se de um jogo mais difícil ou de um mommento mais infeliz e focar-se de imediato no jogo a seguir, para além de trabalhar os sentidos, a concentração e a atenção periférica.»

O próprio Rui Patrício, aliás, deixa claro como o ioga o tornou mais forte entre os postes.

«A primeira melhoria que notei com a prática do ioga foi a postura. Trabalho o equilíbrio, a concentração, a flexibilidade e a estabilidade, que são muito importantes na minha posição», referiu num testemunho escrito.

«O meu trabalho e o ioga têm em comum o uso da mesma ferramenta: o corpo. O que torna esta prática ainda mais especial para mim. Aliando-a ao relaxamento e à meditação, sinto-me mais tranquilo e completo.»

Os jogadores trabalham, de resto, em sessões individuais e adaptadas a cada um. Teresa Viana diz que são bons alunos, determinados e motivados.

«São práticas diferentes, muito diferentes. Alguns procuram-me pelo bem estar físico, a flexibilidade, a força, outros procuram-me pelo bem estar psicológico e ligeireza mental.»

No entanto há benefícios comuns a todos.

«Permite aos jogadores ter mais tranquilidade, um raciocínio mais rápido, melhor concentração, receber melhor a bola, fazer passes mais eficazes, enfim. Mesmo tento mais flexibilidade os jogadores reduzem a probabilidade de ter lesões por causa de um pé mal colocado no chão, um pisão ou um encontrão que os desequilibre», acrescenta.

«Depois torna os jogadores mais fortes mentalmente, mais tranquilos, menos violentos, com as emoções mais arrumadas. Reduz a ansiedade e a agressividade não direcionada. Dormem melhor, descansam mais, recuperam mais rapidamente. Tem vantagens até em coisas pequeninas. Por exemplo, os jogadores respiram quase todos pela boca. No ioga aprendem a respirar pelo nariz e isso faz com que se cansem menos durante um jogo.»

Pelo lote de clientes de Teresa Viana passaram outros jogadores, nomes como Daniel Carriço, Van Wolfswinkel ou Miguel Lopes.

«O Miguel Lopes foi um caso curioso. Começámos a trabalhar quando estava no Sporting, depois parámos, ele lesionou-se e voltámos a trabalhar. Ele tinha muito foco na meditação, na concentração e na flexibidade, porque apesar de ser rápido estava preso.»

No estrangeiro o ioga está a ganhar terreno até no trabalho coletivo.

Portugal ainda está nesse aspeto mais atrasado: Teresa Viana chegou a reunir com o departamento clínico do Sporting, o médico Frederico Varandas mostrou entusiasmo com a ideia, mas o clube preferiu dar luz verde para o trabalho individual, apenas, deixando aos jogadores a faculdade de fazerem ou não ioga.

Lá fora, por exemplo, a seleção alemã realizou aulas regulares de ioga durante o Mundial 2014, que acabaria por vencer. Mas há mais. Os New York Giants, os Chicago Cubs e até os All Black: sim, é verdade, os gigantes da seleção de râguebi da Nova Zelândia não dispensam a prática meditativa na preparação coletiva.

Afinal de contas, o ioga veio para ficar, e só nos faz bem.