A dois anos de ser centenário, o Clube Desportivo Feirense celebra como um jovem: sem moderação, desregrado. Perfeitamente compreensível.

Cinco anos depois de ter subido à I Liga, o brioso emblema da Feira reacende o amor próprio, a paixão das suas gentes, o orgulho de uma história rica. O empate em Chaves devolve o Feirense ao escalão máximo e às tardes/noites de futebol de primeira.

O Maisfutebol visita um balneário feliz, um balneário conhecedor do ADN fogaceiro. 14 futebolistas foram formados nas excelentes escolas do clube, um deles [Mika] é o resistente do grupo trabalho de 2011/12, o derradeiro a representar o Feirense na Liga.

Pela quinta vez, o Feirense tentará evitar a descida imediata. Falhou nas quatro ocasiões anteriores.

Artigo Associado: Luís Ribeiro, o guarda-redes leão; os segredos de José Mota

CLUBE DESPORTIVO FEIRENSE NA I LIGA:

4 presenças:

1962/63: 14º e último
1977/78: 16º e último
1989/90: 18º e último
2011/12: 15º e penúltimo

CD FEIRENSE NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS:

2006/2007: 6º lugar, II Liga
2007/2008: 14º lugar, II Liga
2008/2009: 5º lugar, II Liga
2009/2010: 3º lugar, II Liga
2010/2011: 2º lugar, II Liga
2011/2012: 15º lugar, I Liga
2012/2013: 13º lugar, II Liga
2013/2014: 14º lugar, II Liga
2014/2015: 7º lugar, II Liga
2015/2016: 3º lugar, II Liga

O PLANTEL DOS CAMPEÕES:

Guarda-redes:
. Giorgi Makaridze, 36 jogos (3153 minutos)
. Luís Ribeiro, 9 jogos (810 minutos)
. Otávio Guariente, 2 jogos (176 minutos)

Defesas:
. Ícaro, 36 jogos/1 golo (3048 minutos)
. Agostinho Carvalho, 11 jogos (846 minutos)
. Mika, 20 jogos/1 golo (1548 minutos)
. Micael Freire, 18 jogos/1 golo (526 minutos)
. Serginho, 33 jogos/1 golo (3330 minutos)
. Barge, 43 jogos/1 golo (3782 minutos)
. Nuno Diogo, 30 jogos/1 golo (2541 minutos)
. Alex Kakuba, 7 jogos (612 minutos)
. Pedro Santos, 2 jogos (149 minutos)
. Nandinho, 2 jogos (145 minutos)

Médios:
. Sérgio Semedo, 30 jogos/1 golo (2015 minutos)
. Fabinho, 34 jogos/2 golos (2343 minutos)
. Filipe Vieirinha, 1 jogo (1 minuto)
. Rúben Oliveira, 38 jogos/3 golos (2843 minutos)
. Cris, 37 jogos/1 golo (2631 minutos)
. Hélder Castro, 3 jogos (94 minutos)
. Vasco Rocha, 40 jogos/1 golo (3420 minutos)
. Tiago Jogo, 15 jogos (325 minutos)

Avançados:
. Porcellis, 23 jogos/4 golos (877 minutos)
. Ali Meza, 14 jogos (703 minutos)
. Kukula, 42 jogos/5 golos (2370 minutos)
. Magique, 4 jogos/1 golo (161 minutos)
. Luís Machado, 5 jogos/1 golo (188 minutos)
. Sunday Emmanuel, 17 jogos (367 minutos)
. João Vieira, 9 jogos (291 minutos)
. Kizito, 15 jogos/5 golos (965 minutos)
. Peter Etebo, 4 jogos/1 golo (294 minutos)
. Platiny, 41 jogos/17 golos (3261 minutos)
. Wei Shihao, 1 jogo (18 minutos)
. Erivaldo, 21 jogos/2 golos (1434 minutos)

Santa Maria da Feira rejubila. Ninguém passa ao lado do feito, mais um, do clube da terra. Muitos colocam esta subida, de grau de dificuldade máximo, ao nível de outros instantes incontornáveis no percurso do Feirense.

A fundação do emblema, naturalmente, mas também a escolha das cores atuais (o azul e branco) em 1955 – o Feirense vestia de vermelho e negro anteriormente – e a colocação do relvado natural no velhinho, embora reabilitado em 2011, Estádio Marcolino de Castro.

Há quem nos recorde, de cor e salteado, as inesquecíveis meias finais da Taça de Portugal em 1990/91, resolvida em duas mãos contra o FC Porto. No Feirense, a memória é um bem superior, inegociável.

Cansados, mas realizados, o presidente Rodrigo Nunes, o treinador José Mota, o defesa Agostinho Carvalho (há uma década no clube) e o guarda-redes Luís Ribeiro (cedido pelo Sporting) falam ao Maisfutebol envolvidos numa redoma de felicidade plena.

O Feirense volta a ser de primeira. Pela quinta vez no seu quadro biográfico.



Rodrigo Nunes (presidente): «aqui é até ao fim, até ao último segundo»

O Feirense tem quatro presenças e quatro descidas na Liga. Como evitar este destino no próximo ano?
«Nessa última época [2011-2012] gastámos dois milhões de euros na reformulação do estádio. Dinheiro esse que agora não precisamos de gastar. Portanto, vamos ter no mínimo mais dois milhões de euros para atacar a próxima época e tentar ter melhor equipa».

Essa descida continua na sua cabeça?
«O Feirense é um clube cumpridor e, nessa altura, sentimos algumas injustiças. Enquanto nós pagámos integralmente até ao dia 5 aos jogadores, alguns - independentemente de terem salários em atraso - continuavam a contratar jogadores em janeiro. Ao contrário da nossa equipa. O Feirense não conseguia combater ao nível económico com as outras equipas porque metade do seu orçamento foi despendido em infraestruturas, algo que na próxima época já não será necessário».

Consegue comparar esta subida com a de 2010-2011?
«A outra foi muito mais saborosa, esta foi muito mais difícil. Em 2010-2011 tivemos uma época muito consistente e mantivemos sempre uma bitola de qualidade. Nesta temporada começámos um bocadinho mal. Melhorámos, mas a determinada altura claudicámos um pouco com várias derrotas consecutivas. Fomos obrigados a mudar de treinador. Na parte final fomos fantásticos. Fomos os melhores e conseguimos os pontos necessários para subir. Numa comparação simplista a outra foi mais saborosa, esta mais difícil».

A reviravolta nos descontos frente ao Gil Vicente foi decisiva?
«Só as pessoas desatentas é que não percebem o que é o Feirense. O que aconteceu no Feirense-Gil Vicente é apanágio dos grandes momentos históricos destes quase 100 anos do Feirense. A simbiose perfeita entre o apoio da massa associativa e a garra e a vontade dos jogadores. Foi suficiente para em seis minutos dar a volta a um resultado adverso. Com todo o mérito, com o espírito do Feirense e com aquilo que faz do Feirense um clube diferente dos outros: até ao fim, até ao último segundo».

O plantel tem 14 jogadores formados no clube. A aposta é para continuar?
«Nós apostamos na formação há muito anos. Uma época de sucesso, com 14 jogadores da nossa formação, é a cereja no topo do bolo. É o que nos dá um prazer enorme. É evidente que a aposta é para continuar e alguns jogadores da nossa formação, que não jogaram assiduamente esta época, na próxima temporada vão ser referências da equipa na I Liga».

Mudou de treinador a um mês e meio do fim da época. O que pensou na altura?
«Apesar de ter sido criticado por alguns sócios e simpatizantes do Feirense, naquele momento fiz o que achei que era melhor para o clube. Pensava que se não fizesse nada íamos acabar como na época passada: a lutar pela subida na última jornada a ver depois os outros a subir. Por isso mudámos e ainda bem que o fizemos. Agora é fácil dizer que fizemos bem em mudar porque estamos na I Liga. Mas não tenho duvidas de que se não o tivéssemos feito, hoje não estávamos a festejar».

O José Mota vai continuar a ser o treinador do Feirense?
«Será o primeiro dossier a tratar. Ainda não falamos disso, porque uma coisa é preparar a próxima época numa perspetiva de ficar na II Liga e outra é a pensar na I Liga. Só no sábado é que a I Liga se tornou uma realidade e só a partir de agora vamos começar a pensar nisso. Fomos buscar o José Mota porque acreditávamos no trabalho dele e porque sabíamos que era um treinador experiente. Com esta subida reforçou tudo o que de positivo pensávamos dele. Vamos conversar, vamos ver o que é melhor para ele e para o Feirense».

Qual o objetivo prioritário para a próxima época?
«Consolidar o clube na I Liga. Não vai ser fácil, o primeiro ano é sempre complicado mas é o objetivo claro do Feirense».