6 de julho de 2015, início de uma tarde quente em Portugal. O Maisfutebol anuncia o que parece absolutamente impossível: «Casillas quer o FC Porto e o FC Porto quer Casillas.»

Declarações exclusivas do agente do icónico guarda-redes espanhol, de saída do Real Madrid, não deixam margem para dúvida. Iker, um dos mais titulados futebolistas de todos os tempos, vai mesmo vestir o manto azul e branco.

Seis dias depois, despedidas e lágrimas em Madrid, a notícia passa de forte possibilidade a dado oficial: Iker Casillas é futebolista do FC Porto, 11 de julho de 2015.

O espanhol repete a dimensão das contratações de Michel PreudHomme (Benfica) e Peter Schmeichel (Sporting), ampliada pela volúpia da era digital e das redes sociais. Todo o planeta fala de Iker Casillas no FC Porto.

13 de julho de 2015, o guarda-redes chega à Cidade Invicta (Vídeo). Ruma a um hotel na zona da Boavista, acompanhado pela esposa Sara Carbonero e aguardado pela entourage da SAD do FC Porto.

É a loucura, dezenas de jornalistas espanhóis presentes, centenas de adeptos. No dia seguinte, 14 de julho, Iker Casillas junta-se ao estágio do FC Porto na Holanda (Vídeo), acolhido pelo abraço de Julen Lopetegui, um dos grandes responsáveis pela contratação.

O primeiro jogo oficial aparece a 15 de agosto de 2015. 3-0 ao Vitória de Guimarães na abertura da Liga. Faz uma defesa importante a remate de Alex, mas a melhor exibição terá acontecido na Luz, já com José Peseiro. Absolutamente decisivo para o 1-2 a favor do FC Porto, 12 de fevereiro de 2016.

O que se passou desde esse dia, de expetativa desmedida, e o presente?

Iker Casillas tem 99 jogos oficiais de dragão ao peito, está a um de atingir a importante marca da centena e encontra-se numa impensável situação de suplente. De José Sá.

NÚMEROS DE IKER CASILLAS NO FC PORTO

Época Jogos
2015/16 40 (39 golos sofridos)
2016/17 43 (23 golos sofridos)
2017/18 16 (11 golos sofridos)






 

«Lamento ver um guarda-redes com este currículo no banco»

O Maisfutebol agarra dois antigos guarda-redes do FC Porto. Ambos passaram mais tempo no banco de suplentes do que nos relvados. Percebem o que é esperar por uma oportunidade, a ânsia de treinar e ver outro colega a jogar, a angústia da espera.

Jorge Amaral é do FC Porto entre 1982 e 1987. Período dourado dos dragões, sim senhor. A sua melhor época é a primeira, 18 jogos oficiais.

Carlos Padrão não consegue tantos. Vítor Baía não permite. Fica entre 1990 e 1992, é bicampeão nacional.

«Ninguém assina contrato como titular», sublinha Amaral. «Sérgio Conceição achou que pela capacidade de treino devia mudar. José Sá é um jovem emergente e que pode muito bem ter um percurso longo na baliza do FC Porto e na seleção. É preciso dar tempo para vê-lo crescer. Mas, sim, lamento ver um guarda-redes com o currículo do Iker no banco de suplentes. Tem perfeitamente capacidade para jogar.»

Jorge Amaral faz um resumo dos primeiros 99 jogos oficiais de Casillas. E não sabe quando chega o centésimo. Já em Moreira de Cónegos ou só na Taça de Portugal?

«O ano passado o Iker esteve ao nível dos grandes guarda-redes do FC Porto. Fez uma grande temporada, a melhor desde que chegou. Já estava habituado ao clube e à cidade. Libertou-se do peso do Real Madrid», considera Jorge Amaral.

E terá Iker atingido o nível do maior entre os maiores? Vítor Baía, claro.

«O nível do Vítor Baía durante anos foi sempre regular. Para ter atingido esse patamar, o Casillas teria de ter sido mais constante», atira Jorge Amaral.

Carlos Padrão concorda, apesar dos muitos elogios à postura do espanhol. «O Casillas está ao nível dos grandes guarda-redes da história do FC Porto, mas a carreira do Vítor nas Antas foi superior.»

«É um prestígio imenso para o FC Porto e para Portugal ter um guarda-redes como o Casillas. Penso que as carreiras do Vítor Baía e do Iker são ímpares. O Vítor é um símbolo, uma figura de Portugal e do FC Porto, como o Casillas foi do Real Madrid e da Espanha.»

«Casillas tem tido postura muito correta no banco»

17 de outubro de 2017 é a data que assinala o ponto de viragem na relação entre Iker Casillas e a baliza do FC Porto. Pela primeira vez, por mera opção técnica, o espanhol começa no banco de suplentes um jogo da Liga dos Campeões.

Em Leipzig as coisas até nem correm bem a José Sá, mas Sérgio Conceição não mais volta atrás. Três meses e meio depois, ainda há possibilidades de ver Iker como número um do FC Porto?

«O Casillas não caminha para novo. Houve uma aposta do Sérgio Conceição no José Sá. Depois, penso que temos de considerar um terceiro elemento. Farto-me de alertar as pessoas para ele, o Diogo Costa da equipa B. Parece-me ser o futuro do FC Porto e do futebol português», diz Carlos Padrão, convencido de que Sá manterá a baliza.

«O Casillas tem tido uma atitude muito correta, como seria de esperar. Percebo que não é fácil estar no banco de suplentes, depois de tantos anos de sucesso e de grandes palcos, mas é a lei da vida», conclui.

Jorge Amaral deixa mais uma ideia. «O Casillas tem duas lacunas: não é um guarda-redes forte a jogar com os pés e fora dos postes. A verdade é que sempre compensou isso com um grande sentido posicional.»

«É um guarda-redes muito eficaz entre os postes. Não é um guarda-redes que defende para a fotografia, como se costuma dizer. É um guarda-redes sereno, com muita elasticidade e ainda demonstra uma grande capacidade de reação.»

Após a perda da titularidade, Iker Casillas tem seis presenças em jogos oficiais no histórico. Sem nenhum derrota para o FC Porto.

Na meia-final da Taça da Liga, contra o Sporting, a exibição de Casillas tem a marca registada do espanhol. Muito segura, sempre bem a jogar com os pés, excelente na comunicação com a defesa e ainda com o upgrade de dois penáltis defendidos.

É suficiente para convencer Sérgio Conceição a inverter a hierarquia na baliza?