A 28 de março de 1990, a Inglaterra recebia o Brasil no Estádio de Wembley para um particular que terminou com triunfo inglês após golo solitário de Gary Lineker. Aquele jogo vigorou como a última vitória da seleção britânica sobre o Brasil até 2013, quando o mesmo voltou a suceder, no arranque da segunda passagem de Luiz Felipe Scolari pelo escrete.

Nesse dia, a assistir ao jogo estava um cidadão comum do Brasil, Jaílson Schneider, que ficou encantado com o que via. Não com a sua seleção, não com o combinado inglês, mas com o palco do jogo. Wembley entrou pelos olhos de Jaílson e não mais saiu. Nesse mesmo dia fez uma promessa: «No dia em que nascer o meu primeiro filho, vou chamar-lhe Wembley em homenagem ao estádio».

E cumpriu.

É relativamente frequente que os ídolos do futebol e até de outras áreas inspirem nomes para os filhos. Não é preciso sair da Liga portuguesa para encontrar vários casos e até há um especial, que já aqui lhe contámos: Overath Breitner do União da Madeira é uma homenagem não a um, mas a dois campeões do mundo. Há, inclusive, adaptações mais ou menos felizes, como o central portista Maicon, agora no São Paulo, que recebeu aquele nome porque o pai era fã de Michael Jackson.

Mas pessoas com nome de estádio de futebol já não abundam assim tantas. E se o segundo nome é uma homenagem a um dos melhores estrangeiros da história do Sporting, Krasimir Balakov, então tudo é ainda mais interessante.

O Maisfutebol conversou com Wembley Balacov (assim, com C) e também com o pai Jaílson. Com um nome destes, estava quase obrigado a ser jogador de futebol. E assim foi.

«Vai ser muito curioso se eu conseguir fazer carreira. Desde os quatro anos que jogo futebol e sempre tive o máximo de apoio dos meus pais. Estou preparado agora para dar o salto para os seniores e ser profissional. Quero muito continuar a carreira», admite o jovem.

Atualmente está na equipa sub-20 do Linhares, clube do estado do Espírito Santo que conta com cinco campeonatos capixabas no currículo. O sonho, contudo, é ir mais longe. Fazer carreira, chegar à Europa e até…a Portugal.

«Gostava, claro, de jogar na Europa. Se tenho preferência? Gosto do Sporting. Gostava muito de jogar no Sporting. Quando passam jogos na ESPN costumo ficar a ver. Sei que foi o clube do Balakov, que dá origem ao meu nome, e o meu pai também me falou do clube e fiquei a gostar», conta.

Para registar o nome só…pagando mais

Mas voltemos então à origem de tudo isto. Wembley Balacov conta a história que mais vezes tem de repetir sempre que diz o seu nome a um desconhecido: «A ideia foi do meu pai. Em 1990 ele tinha 14 anos e assistiu pela TV, a um jogo no Estádio do Wembley, entre Inglaterra e Brasil. Ficou apaixonado pelo estádio e decidiu que iria chamar Wembley ao seu primeiro filho homem. Tomou até nota num caderno.»

O primeiro nome está explicado. E o segundo? «Na Copa do Mundo de 94 o Balakov foi uma das grandes figuras da Bulgária, que se destacou nesse torneio. Ele ficou fã também do Balakov e depois, quando eu nasci, juntou os dois nomes e cumpriu o que tinha pensado», conta.

E ficou com o nome completo de Wembley Balacov Bachi Schneider.

O pai, Jaílson, explicou ao Maisfutebol que escolher o nome foi fácil. Difícil foi registá-lo!

«No primeiro dia que lá fui, acharam o nome tão estranho que não deixaram registar. Mas eu nunca perdi aquela ideia que tinha desde que vi aquele jogo. Vim para casa, fiquei a pensar naquilo e decidi voltar. Fui lá outra vez no dia seguinte, insisti e lá deixaram. Mas tive de pagar uma taxa superior àquela que se pagava na altura», conta.

Jogar em Wembley ou conhecer Balakov?

O nome gera, naturalmente, curiosidade. Wembley Balacov conta que lhe estão sempre a perguntar a origem do mesmo. «Mais até o Balacov, porque não é tão conhecido mesmo tendo sido um grande jogador», sublinha.

Para responder e, também, por curiosidade, o brasileiro admite que tentou saber o máximo possível sobre o búlgaro. «Vi muitos jogos dele, vídeos do Youtube, também. Não há dúvidas, era um craque mesmo», elogia.

A Bulgária de Balakov (número 10)

Apesar de o primeiro nome ser Wembley não significa que seja o nome pelo qual mais vezes é chamado. Depende, explica: «Alguns chamam-me Wembley, outros Balacov. Eu não tenho preferência, sinceramente. Já estou acostumado a que me chamem das duas formas. E gosto do nome. É diferente…»

Em jeito de provocação, perguntamos o que preferia: jogar em Wembley ou conhecer Balakov? A resposta foi a esperada, entre risos: «Tenho de ser sincero: jogar em Wembley. Nossa, isso sim era a realização de um sonho.»

O irmão é Elvis e o filho talvez venha a ser Modric

Do futebol, Wembley, friamente, quer o que todos os miúdos sonham: uma carreira da qual se possa orgulhar para «ajudar a família» e proporcionar-lhe «melhores condições».

O pai, Jailson, chegou inclusive a ser emigrante em Portugal. Morou em Cascais onde ganhou uma paixão pelo Sporting que passou ao filho, bem depois do fraquinho por Balakov.

«Morei em Portugal entre 2005 em 2009.Mesmo estando em Cascais, nunca consegui ir a Alvalade, passava o tempo a trabalhar Mas fiquei fã do Sporting e sei que o Balakov ainda é um grande ídolo lá», conta Jaílson, que ainda no último fim de semana assistiu ao dérbi com o Benfica. «Foi uma pena aquele resultado, mas é futebol», resumiu.

Do plantel atual dos leões, Wembley tem um favorito claro, embora o nome lhe fuja à primeira. «Aquele que joga na ponta…». O pai ajuda e o filho emenda logo: «Bryan Ruiz!»

Fora do Sporting, contudo, olha para jogadores que ocupam a sua posição em campo, que é médio, ou volante como dizem no Brasil. «Os meus ídolos são o Schweinsteiger e o Luka Modric», conta.

«Já pensei que quando tiver um filho também gostava de lhe dar o nome de uma estrela de futebol. Já pensei em alguns, mas não decidi. Talvez Modric. Mas tenho várias opções», garante.

E, como nota final, não se pense que Wembley Balacov é o único nome famoso na família: «O meu irmão é Elvis. O meu pai costumava ouvir umas músicas e gostou do nome.»

Uma família original, em suma.

O Linhares de Wembley Balakov