No Elixir da Eterna Juventude, Sérgio Godinho canta as dores, evoca artroses, clama pela salvação da carne. A preocupação do cantautor não encontra eco nas gentes de Hunza. Nesta região do Paquistão - a 2500 metros de altitude, entre as cordilheiras dos Himalaias e do Karakorum -, o tempo avança sem pressa e a saúde é um direito adquirido.

Realidade ou lenda? Conto de fadas ou civilização terrena?  

Em Horizonte Perdido, o autor James Hilton conduz Hugh Conway – protagonista da aventura – à descoberta da mítica Shangri-La. Paraíso remoto, pedaço de paz e felicidade, promessa de um mundo novo e desprovido dos males da sociedade moderna.

Hunza é a sua versão mais aproximada, decalque da cidade imaginária de Hilton. Existe e organiza uma liga de futebol. Chama-se Hunza Premier League e tem recordistas de longevidade: o futebolista mais velho do último campeonato (terminado em janeiro) tem 86 anos.  

«Nós existimos, o vale de Hunza é real», diz Tahir Zaman, capitão dos FC Hunza Defenders, ao Maisfutebol. «Somos muito sortudos em viver num sítio assim. Amamos futebol e todos os anos há duas edições do campeonato. A próxima arranca em julho».     

Imagens da final da Hunza Premier League-2012 :

 

A população do vale de Hunza tem características únicas. Viver até aos 130/140 anos não é uma utopia, nem sequer uma raridade. Sobre este oásis da juventude, algumas crónicas dizem mesmo que está imune ao envelhecimento e à doença.

Faheem Ullah Baig, dirigente da Premier League local, é outro dos nossos entrevistados. «Claro que envelhecemos. A diferença está no modo de vida. Se ainda corro e jogo futebol é porque os meus hábitos são melhores do que os seus».

Baig sabe do que fala. «Tomamos banho no rio Hunza, em águas 15 graus abaixo de zero; fazemos todo o tipo de desporto; comemos só queijo, fruta e vegetais, nada de peixe ou carne; ah, e somos alegres, não temos stress. É assim que duramos tanto tempo, não há nenhum milagre».
 

Perante o retrato, fascinante, as perguntas sucedem-se. Não há mesmo ninguém doente? No campeonato local existem, de facto, octogenários em campo ?

«Doentes? Há, sim. No último torneio tivemos de chamar uma ambulância. Um jogador de outra equipa teve uma lesão grave numa perna», responde-nos Tahir Zaman, o jovem capitão dos Defenders. Tem só 22 anos e estuda Gestão de Empresas na Universidade de Quaid-i-Azam, em Islamabad.

«Somos todos amadores. Só seis raparigas da região é que são profissionais. Jogam na seleção feminina do Paquistão», acrescenta o simpático Tahir.

E nós, incrédulos, insistimos: o segredo da eterna juventude está em Hunza? «Não é segredo (risos). Somos muito saudáveis porque bebemos água pura e não respiramos um ar poluído. Além disso, a maioria dos habitantes trabalha na agricultura. Não há melhor»
.
 

A Hunza Premier League junta, a cada edição, 70 equipas da região envolvente. Há até representações de Caxemira. O último campeão foi o Hyderabad FC.

«Não temos apoios governamentais, somos responsáveis pelo organização. O dinheiro é pouco. Temos cinco campos de terra, não há relvados»
, explica Fahee Ulla Baig, um dos responsáveis pos este campeonato de gente saudável. De corpo e espírito.

«Há muitos jogadores talentosos na região. Precisam de oportunidades, de jogar em clubes profissionais. Mas, para mim, a felicidade está em jogar futebol no sopé da montanha»
.

Perguntamos a Tahir e a Faheem se existem superstições, truques ou outros hábitos incomuns, mas as respostas desarmam-nos por completo.

«Só queremos divertir-nos, temos sempre bom humor. Não há truques ou táticas, só futebol»
, diz o mais velho.

«Entramos em campo, olhamos as montanhas, o Forte Baltit e o Forte Altit. Existem há mais de 1000 anos e foram a residência oficial dos nossos reis»
.

A conversa está no fim. Faltava, porém, falar de Cristiano Ronaldo. Sempre Ronaldo. Basta mencionar o nosso país e as atenções deixam Hunza e viram-se para o avançado do Real Madrid.

«Ronaldo, Rooney, Reus e Messi são os meus futebolistas favoritos. Ronaldo é o melhor. Conhece-o ?»
, pergunta Tahir Zaman.

«Já esteve com ele ? É um dos meus sonhos. Mas vivo muito longe. Ele devia visitar Hunza. Tenho a certeza que jogava até aos 100 anos»
.

Nós também.

«Estou velho!
Dói-me o joelho
Dói-me parte do antebraço
Dói-me a parte interna
De uma perna
E parte amiga
Da barriga
Que fadiga
O que é que eu faço?
Escolho o baço ou o almoço?
Vira o osso
Dói o pescoço
É do excesso!»


Desculpa, aqui não, caro Sérgio Godinho.
 
HUNZA PREMIER LEAGUE

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Posted by HUNZA PREMIER LEAGUE on Friday, July 25, 2014