«L’abbiamo fatta grossa !»

Coração de Itália, província de Modena. O minúsculo Carpi FC 1909 choca o calcio. Primeiro lugar na Serie B, promoção à Serie A assegurada a três jornadas do fim, um país de boca aberta. Dos Alpes ao tacão da bota, lá na costa sul, a beijar o Mediterrâneo.

A frase que abre o artigo é o mote para a celebração. Algo dificilmente traduzível para português. «Fizemos algo em grande» é a ideia-chave e a demonstração inequívoca do feito com tanto de inesperado como de heroico.

Os 60 mil habitantes cabem todos no Estádio San Siro ou no Olímpico de Roma. Sem apertos nem confusões. A imagem traduz a diferença de dimensões entre os maiores emblemas italianos e o intruso que afronta a lógica e o poder instituído.



Fundado em 1909, o Carpi faliu em 2000, criou uma nova identidade e fez uma ascensão meteórica no quadro competitivo italiano.

Longe vão os horripilantes dias em que a cidade, belíssima na verdade, era famosa por albergar o maior campo de concentração nazi em Itália durante a II Grande Guerra Mundial. A tormenta passou, agora Carpi é tocada pela glória.

João Silva, avançado português do Palermo, defrontou duas vezes o Carpi na temporada passada, ao serviço do Bari.

«Em Carpi jogámos diante de quatro mil pessoas e em Bari estavam 40 mil. O estádio [Sandro Cabassi] é muito pequeno e pobre. Aliás, o clube terá de fazer obras profundas para competir na primeira divisão», diz ao Maisfutebol.

Um jogo no exíguo Sandro Cabassi:



A pequenez redobra o mérito do Carpi e toda a Itália aplaude.

«Arrancaram muito bem a temporada, têm uma equipa unida e com bons executantes. A surpresa só não é total porque, a dada altura, todos percebemos que eles iam conseguir. Vai ser muito curioso ver como é que uma cidade e um clube tão pequenos vão reagir à pressão da Serie A».  

Carlos Embaló, extremo luso guineense, arrancou a temporada no Carpi e saiu em janeiro para o Lecce. Fez três jogos antes de se despedir e pertence, por isso, a esta história.

«Ele continua vinculado ao Palermo, curiosamente, mas nunca jogámos juntos. Está de parabéns, claro, mesmo tendo feito poucos minutos. Creio que se mudou para o Lecce a meio da época», acrescenta João Silva.



Até 1997, o espaço competitivo natural do Carpi foram as Series C e D. O truculento Marco Materazzi e o desinspirado Simone Inzaghi (irmão de Filippo) representaram o clube no final da década de 90.

O sucesso chegaria muito mais tarde. Em 2013, após uma histórica vitória sobre o Lecce, o Carpi alcançou a Serie B pela primeira vez na história. Dois anos depois, o êxtase. Os três milhões de euros de orçamento anual chegaram e sobraram.

«O que eles conseguiram não é normal. E têm 11 pontos de vantagem sobre o segundo classificado numa divisão muito competitiva como a Serie B. Ainda outro dia vi na televisão o treinador do Milan [Pippo Inzghi] a elogiar o Carpi publicamente»
, completa João Silva.

A insuportável marca nazi assinalou o nome de Carpi no mapa. O futebol restituiu-lhe a boa honra. Fabrizio Castori, treinador de 60 anos e especialista em subidas, é um dos principais responsáveis.

Carpi FC 1909. Habituemo-nos ao nome e não o confundamos com Capri, a paradisíaca ilha. Aí o dolce far niente goleia o futebol.  

PLANTEL DO CARPI FC 1909

Guarda-redes: Gabriel, Renato Dossena, Maurantonio e Matto Brunelli;

Defesas: Marco Modolo, Gaetano Letizia, Alessio Sabione, Fabrizio Poli, Riccardo Gaglioli, Aljaz Struna, Simone Romagnoli, Emanuele Suagher e Nicola Pasini;

Médios: Raffaele Bianco, Massimiliano Gatto, Filippo Porcari, Mario Pugliese, Lorenzo Pasciuti, Lorenzo Lollo, Maodo Mbaye, Federico Palmieri, Alberto Torelli, Simon Laner, Alberto Mazzariol e Salvatore Molina;

Avançados: Antonio Loi, Kevin Lasagna, Antonio Di Gaudio, Jerry Mbakogu e Roberto Inglese.