*ENVIADO ESPECIAL AO MÓNACO

Abaixo da AS Mónaco, também há futebol no principado. Nos escassos dois quilómetros quadrados do território monegasco há espaço para um campeonato com uma vintena de equipas. Uma competição que em 2004, 2015 e 2016 foi ganha pelos Ribeiro Frères.

Alto lá, Ribeiro? Soa aqui a qualquer coisa, não?

Se suspeita da ligação a Portugal, acertou.

A empresa de construção civil dos irmãos Ribeiro está sediada no Mónaco desde 1995, emprega uma centena de funcionários e recorrendo a boa parte deles fez uma equipa de futebol que ao longo da última década e meia tem disputado com sucesso o Challenge Prince Rainier III.

António Ribeiro (1.º da direita, em cima) e Michel (3.º da esquerda, em baixo) com a «equipa dos portugueses»

Assim designada em homenagem ao pai do Príncipe Alberto II, que a criou em 1975, a competição é o que de mais aproximado existe à Liga do segundo mais pequeno território soberano do mundo.

«Eu dizia “merci”, e o príncipe: “obrigado”»

No campeonato monegasco as equipas estão ligadas a serviços públicos ou empresas. Aliás, pelas regras são admitidos um máximo de quatro jogadores inscritos entre os não-funcionários (e apenas três em campo).

«Há a equipa do casino, a da câmara municipal, a da polícia… A do casino foi durante anos a mais forte (tem o recorde de 11 títulos conquistados), mas agora somos nós, a equipa do hospital e a MR Concept, que é de um antigo empregado nosso, que se estabeleceu», conta ao Maisfutebol António Ribeiro, dono da empresa e presidente da equipa Ribeiro Frères.

A formação da construtora civil dos manos Ribeiro, que venceu em 2015 e 2016, tem como recente “rival” a MR Concept, que tem também alguns jogadores portugueses e foi campeã em 2017.

A competição serve de base à convocatória da modesta seleção do Mónaco, uma federação que não está inscrita na FIFA, nem na UEFA, e que joga apenas alguns particulares – com o Vaticano, por exemplo. A seleção do principado tem até meia dezena de portugueses e lusodescendentes a representá-la.

Os jogos da Taça Ranier III disputam-se todo o ano no Stade Market, nas traseiras do Estádio Louis II, mas a final é na casa do Mónaco, que vai ser palco da receção ao FC Porto para a Liga dos Campeões, esta terça-feira (a partir das 19h45).

O jogo da decisão do Challenge Rainier III conta com a presença do Príncipe Alberto e em 2015 e 2016, tal como havia acontecido em 2004 (ano em que o FC Porto venceu a Liga dos Campeões ao Mónaco, por curiosidade), os Ribeiro fizeram a festa no Louis II e receberam o troféu das mãos do príncipe.

Festa dos Ribeiro Frères no Estádio Louis II

«Eu dizia “bonsoir” e “merci”; e ele: “obrigado”. É muito simpático o príncipe. Aliás, há uns tempos estive a convite dele numa festa no palácio em que me atribuiu a medalha de bronze do principado por mérito desportivo. Ainda vou receber a de ouro!», diz António, que no Mónaco já se cruzou com alguns craques do futebol luso: «Estive há uns anos numa noite de gala com o João Moutinho, Ricardo Carvalho, Fábio Coentrão… Mais recentemente, estive numa cerimónia com o Eder em Saint-Tropez. Isto é muito pequeno. Cruzo-me muitas vezes com os jogadores do Mónaco e com o Leonardo Jardim. Dou-me bem com o adjunto dele, o António Vieira. Conversamos bastante sempre que nos encontramos.»

Mais uma conquista da Challenge Rainier III no Estádio Louis II

Quando o campeão do Mónaco equipou de Vitória de Guimarães

António Ribeiro, de 56 anos, explica que a aventura no futebol começou bem antes de chegar ao Mónaco, em meados da década de 90.

«Cheguei a França a 4 de fevereiro de 1980, com o meu irmão, que é um ano mais novo do que eu, e em 1991 criámos a empresa. Eu também jogava futebol. Fui capitão e presidente do Tivoli, um clube aqui dos arredores, que jogava na quarta divisão francesa, mas que foi extinto. Entretanto, criei este clube há 15 anos e desde então somos conhecidos como “a equipa dos portugueses”, recorda este emigrante de São Martinho de Sande, freguesia do concelho de Guimarães, onde espera regressar em definitivo «daqui a dois ou três anos» para viver.

Formação dos Ribeiro Frères equipada à Vitória de Guimarães

Não por acaso, há uns anos o equipamento dos Ribeiro Frères era igual ao do Vitória, com o mesmo emblema e tudo.

Michel Ribeiro, 31 anos, já nascido em França, afilhado e sobrinho de António, além de diretor comercial na empresa é uma espécie de jogador/diretor desportivo da equipa de futebol. Ao Maisfutebol, este defesa-central que está «aos poucos a deixar de jogar» explica a ligação com a paixão da família pelo emblema vimaranense.

Michel Ribeiro com a taça de campeão do Mónaco

«Na nossa equipa só o guarda-redes é francês. O resto é tudo português e a maioria são adeptos do Vitória. Desde logo, a minha família toda: primos meus, etc… Ora, há uns cinco anos, numas férias em Portugal fui lá à loja do Vitória, no estádio, e comprei vinte e tal equipamentos. Há aqui uns benfiquistas e uns portistas que não gostaram muito, mas, paciência… Sem camisola não jogam. Até me metia com eles: “Se marcares um golo, tem cuidado para não beijares o símbolo…” Agora, pronto, o equipamento já mudou: temos um com o nome e o emblema de Portugal de um lado e com o logótipo da empresa do outro», conta Michel, um indefetível vitoriano, que faz questão de aproveitar a conversa para garantir presença em Marselha, daqui a pouco menos de um mês, para assistir ao vivo ao jogo da Liga Europa: «Dia 19 (de outubro) estou lá para apoiar o meu Vitória.»

Ribeiro Frères com equipamento «português»

Esta terça à noite, António e Michel estarão no Estádio Louis II a assistir ao Mónaco-FC Porto. Ambos confessam alguma afinidade por ambos os clubes, mas a preferência acaba por cair para o lado lusitano na hora de torcer.

«A seguir ao Vitória gosto do FC Porto, mas também gosto do Mónaco. Em termos de preferência é 60%-40%», afirma Michel, com o tio António também a puxar para o mesmo lado: «Há aqui muitos portistas e benfiquistas, alguns sportinguistas também. Para me meter com eles, digo: «Sou Vitória. Só Vitória. E na Europa é igual. 100 por cento Vitória, não quero saber dos outros. Ainda assim, aqui entre nós, desta vez até gostava que ganhasse o FC Porto. Mas olhe que se ganhar o Mónaco também não fico triste.»