* com Pedro Jorge da Cunha

Em janeiro, no último dia do mercado, o Olhanense inscreveu um jovem avançado de 18 anos, cujo nome despertou curiosidade: Martin Luther King, como o célebre pastor protestante e grande ativista norte-americano que, no dia 28 de agosto de 1963, discursou para 200 mil pessoas nos degraus do Lincoln Memorial em Washington.

A manifestação ficou conhecida como A marcha de Washington por empregos e liberdade, e foi um momento decisivo na história do movimento americano pelos direitos civis, e pela união e convivência harmoniosa entre negros e brancos.

O discurso, sob o lema I Have a Dream (Eu tenho um sonho), foi determinante para que o governo de John F. Kennedy levasse essas questões ao Congresso, com posterior aprovação - em 1964, e depois do assassinato de Kennedy e sob a presidência de Lyndon B. Johnson – do Civil Rights Act of 1964 (Ato de Direitos Civis de 1964) e do 1965 Voting Rights Act (Ato de Direitos do Voto de 1965).

No fundo, a concretização do sonho de Luther King.


Foi em homenagem a essa causa, que José Manuel Simões deu a um dos seus filhos o nome do ativista.

«Foi o meu pai que escolheu o nome, porque era um grande fã do Martin Luther King. Disse-me que o tinha escolhido, porque o Luther King tinha sido uma pessoa muito marcante para a raça negra. E foi com muita honra que ele me batizou assim. Problemas com o nome? Não, apenas só em forma de brincadeira. Martin Luther King? Têm sempre curiosidade em saber porque tenho este nome», explicou Martin Luther King, o do Olhanense, ao Maisfutebol.
 

Martin Luther King à saída de um treino do Olhanense

No entanto, Martin não tenta fazer de Luther King, um modelo de vida e comportamentos. Até porque houve, no seu entender, uma evolução positiva nas questões reivindicadas pelo norte-americano.

«Não tento viver em função da personagem que foi. Temos apenas o mesmo nome, em relação à personalidade não temos nada em comum. Obviamente que sei quem é, mas não me identifico com ele. Porquê? Porque vivemos em mundos diferentes e fazemos coisas completamente diferentes. Atualmente os problemas de racismo não são tão acentuados como no tempo dele», fundamentou, confessando não ter visto ainda o filme Selma, que retrata uma das primeiras marchas de Martin Luther King e esteve nomeado para Best Picture na recente cerimónia dos Oscars.

«Ainda não vi… mas também não tenho muita curiosidade em ver», disse.

Isso não invalida, porém, que Martin tenha grande orgulho em Luther King, pois até fez questão de na camisola do Olhanense ter o seu nome estampado com as iniciais: Martin LK.

I have a dream: «Quero voltar à Sampdoria»

Martin joga no Olhanense (três jogos na II Liga, 51 minutos), mas também sonha com grandes objetivos. Bem diferentes dos do homónimo. «O meu sonho está no futebol e é chegar o mais longe possível. Jogar nas melhores ligas, ser internacional e conquistar títulos», deseja.

O gosto do futebol em Martin não nasceu por acaso. «É de família: o meu pai foi jogador, era avançado, tendo jogado na Oliveirense, Freamunde e Aves, entre outros. Foi profissional, mas sempre na 2ª Liga. Não me lembro de o ver jogar, era muito novo. Comecei onde ele acabou, no Valenciano. Mas nunca cheguei a jogar lá, porque não era português e faltavam documentos para a naturalização», historiou.

Martin tem um irmão que também joga: «O Williams é extremo no Atlético da Malveira. Embora também possa jogar nessa posição, eu sou avançado, como o meu pai. Se ele fala comigo sobre os jogos? Sim, e é muito exigente, nunca está nada bem, tem sempre coisas a apontar. Só há defeitos, não há qualidades», disse, entre risos.

«O meu pai tinha amigos no Benfica e surgiu a hipótese de ir às captações, quando tinha 10 anos. Fui, e fiquei por lá 4 anos. Também estive nas captações do Sporting, mas escolhemos o Benfica porque tanto eu como o meu pai, somos benfiquistas. Joguei com o Gonçalo Guedes, o Romário Baldé e o André Horta, que agora está no Vitória de Setúbal», continuou.

Seguiram-se depois o Oeiras, o Lourel e o Real Massamá, de onde saiu para a primeira experiência no estrangeiro, no Leyton Orient, em Inglaterra. Uma época e meia depois deu-se o salto para Itália e para a Sampdória, clube que em janeiro o emprestou ao Olhanense.

«O meu objetivo é voltar à Sampdoria e jogar na serie A. Jogar com o Samuel Eto’o? É difícil, mas nada é impossível…». Lá está. O sonho.

E, tal como no de Martin Luther King, com muita luta, será possível conquistá-lo. Quiçá, chegar ao nível de personalidades mais marcantes da atual realidade, bem diferente do mundo de Luther King. Daí, outros modelos.

«Gosto do Cristiano Ronaldo, do Ibrahimovic e Berbatov, e também do Balotelli, pela sua irreverência. Mas nunca tive um jogador em quem me focasse muito…».