A vida de um futebolista nem sempre é um mar de rosas e Pedro Correia é a prova disso mesmo. As vicissitudes da profissão tornam a tarefa complicada, sobretudo à medida que os anos vão pesando, no corpo, mas, muitas das vezes, na mentalidade também.

Formado no Benfica, o lateral teve poucas oportunidades na Luz, embora tenha sido apontado como promessa. Mais de uma década depois, o jogador está sem clube. Agora, aos 30 anos, procura reavivar uma carreira que está longe de ter terminado.

Foi com esse intuito que integrou o Estágio do Jogador, iniciativa promovida pelo Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF). Foi lá que o Maisfutebol teve a oportunidade de conversar com o jogador.

«A situação ideal era não estar aqui, mas como ainda não encontrei uma solução estou aqui para manter a forma, treinar com pessoas competentes. Fizemos um grupo saudável e unido. Gostava de estar colocado mas sei que o Sindicato me vai ajudar. Não estamos aqui para brincar, temos de encarar os jogos de forma séria e mostrar o nosso valor. O objetivo é encontrar uma solução o mais rápido possível», começou por dizer.

Depois de ter representado a Académica na época passada, Pedro Correia vive atualmente uma situação estranha na carreira, isto é, a de não ter clube. Apesar de ser um jogador livre, o defesa encontra-se sem empresário, o que, nas palavras do mesmo, dificulta muito a tarefa.

«Quando não temos empresário fica um pouco mais difícil de encontrar clube, mas não vale a pena chorar. Estou focado em mostrar que ainda tenho valor para arranjar clube ao mais alto nível», sublinhou.

Seguiu as pisadas de Rui Vitória e uma lesão quase deitou tudo a perder

Embora esteja atualmente desempregado, Pedro Correia sempre foi visto como jogador de primeira água em Portugal. Depois de sair do Benfica, o defesa passou por Olhanense, Fátima, Vitória de Guimarães e, por último na Académica.

Pelo meio teve duas experiências no estrangeiro: uma época no Ferrol de Espanha e três no Crotone de Itália.

No regresso a Portugal, em 2013, ingressou nos quadros do Vitória e reencontrou um treinador que tem um lugar especial na sua carreira.

Apanhei o Rui Vitória em três clubes diferentes e em três fases distintas. Ajudou-me muito, não só no futebol, como também no lado humano. Todos o reconhecem como uma pessoa muito boa, amiga dos jogadores, mas quando tem de dar aquela dura também dá. É uma pessoa excelente, para ele o mais importante é o grupo, a união que cria no plantel»

Primeiro nos juniores do Benfica, depois no Fátima e, por fim, no Vitória. O currículo de Rui Vitória quase se confunde com o de Pedro Correia, pelo que histórias não faltam sobre o atual técnico das águias.

Mas são segredo.

«Tem assim umas manias quanto a superstições, mas não posso falar porque ele ficaria chateado comigo (risos). Uma superstição, se for contada, pode perder o efeito e ele depois tinha de arranjar outras. Sabe lidar com isso de forma saudável, mas tem lá as suas coisas», contou.

A aventura no emblema vimaranense durou três épocas, por vezes intercalada entre a equipa B e a principal. O último ano até lhe corria de feição, finalmente, mas uma lesão grave quase deitou tudo a perder.

Em 2014, fraturou a tíbia e esteve afastado dos relvados durante praticamente ano e meio. Mesmo depois de recuperado fisicamente, não recuperou o lugar na equipa vimaranense.

A lesão aconteceu-me na melhor fase da carreira, por azar. Depois, já na Académica, apesar de não ter sido uma época conseguida, acho que acabei de uma forma muito boa. As pessoas ainda não esqueceram a lesão que tive e isso tem-me prejudicado um pouco, mas está ultrapassado. Hoje sinto-me em perfeitas condições e estou pronto para abraçar novos objetivos»

Com 30 anos, Pedro Correia ainda acredita num regresso à alta competição, mas garante estar mais preocupado em «mostrar o valor que acredita ter», acrescentando que vai «abraçar qualquer projeto que for proposto».

Uma coisa é certa: longe vão os tempos em que o futebol era, apenas e só, uma maneira de estar na vida.

«Lembro-me muito dos tempos do Benfica, fui muito feliz. Os nossos melhores momentos como futebolista são na fase de formação, onde não há interesses, agentes, dinheiro envolvido, e onde só se joga pelo prazer de jogar futebol mesmo. Quem sabe um dia possa voltar, como jogador ou noutra função qualquer», atirou.

Enquanto o telefone não toca, Pedro vai continuar a lutar.