* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
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«Ladies and gentlemen, Mr. Usain Bolt». E irrompem aplausos, a sala ergue-se, há vénias e… não, na verdade não é bem assim.

Não há uma apresentação formal. Usain entra na sala atrás de Andre De Grasse, canadiano medalha de bronze nos 100 metros, e quebra o protocolo.

Abre os olhos, como se tudo não passasse de um freak show infantil, e aponta aos jornalistas o indicador direito. O dedo que desenha o relâmpago. «You, you and you!»

Fuzila aleatoriamente e um dos alvos é o Maisfutebol. Olhos nos olhos com Usain Bolt, na sala de imprensa e minutos depois de vencer pela terceira vez consecutiva a medalha de ouros no hectómetro olímpico.

Hey, Carl Lewis, estás a ler isto?

«A partir dos 50 metros percebi que ia vencer», responde o jamaicano, melhor velocista de todos os tempos e um homem condenado à imortalidade. Sim, isso agrada Usain Bolt. Adora o show business, a fantasia em que mergulha a sua personagem.

«Em Londres disse que passava a ser uma lenda. Bem, agora, se vencer os 200 metros e a estafeta passo a ser imortal. Li isso em qualquer lado e gostei».

Seja feita a sua vontade. Usain ganha a sétima medalha de ouro e quer mais. Propõe-se a «bater o recorde mundial dos 200 metros» e a «ajudar a Jamaica nas estafetas».

«Já corri a minha prova menos forte, os 100 metros. Agora quero mais».

 

Como se forma este campeão? Dicas e truques para ser imbatível. «Bem, como muita comida asiática, galinha e noodles. Ah, e preciso de dormir bem».

De Grasse ao lado parece uma criança, Justin Gatlin entra atrasado na sala e mantém a expressão fechada. É uma estátua de ébano.

Fala-se dos tempos obtidos – 9,81s para Bolt – e do anormal pouco tempo de descanso entre provas. «Afetou-me um pouco», queixa-se Usain Bolt.

«Senti-me um pouco lento no início. Não fiquei contente. Reduziram a diferença entre a meia final e a final para uma hora e 20. Costuma ser de duas horas e 20. Isto é para os jovens leões, eu já sou um veterano (risos)».

Usain Bolt graceja, mete-se com De Grasse, evita Justin Gatlin e até provoca jornalistas. «Ei, atenção, está aqui o Usain Bolt». E ri-se, ao perceber que o repórter se atrapalha.

Para o jamaicano tudo aparenta ser uma brincadeira. Nada é feito com esforço. Estica-se na cadeira, boceja, é só mais um dia no escritório.

E os assobios a Justin Gatlin? «Fiquei chocado», reage Bolt, determinado aí em defender o grande rival. «Nunca tinha visto nada assim numa pista. Não é bom».

Nada nem ninguém parece capaz de parar Usain Bolt. Ele pode ter lesões, partidas falsas, crises de forma, mas quando chega aos Jogos Olímpicos entra no domínio do sobrenatural.

Sobrenatural, sim. Até a falar de outro. «O Wayde? [van Niekerk, novo recordista mundial dos 400 metros] Disse-lhe na Jamaica, há uns meses, que ia bater o recorde do Michael Johnson. O meu treinador é testemunha».

Por favor, é anotar: galinha, noodles, muitas horas de sono…