Quis o destino que o Vilafranquense se colocasse no caminho do Sporting na Taça de Portugal, o que concentrou os holofotes sobre o modesto clube de Vila Franca de Xira. Ora esta mediatização justifica também um olhar mais atento sobre um clube diferente.
 
O Vilafranquense é um dos casos pioneiros em Portugal de clube-ponte.
 
Trata-se de uma realidade que já tem anos, e barbas, em países como o Brasil, o Uruguai ou a Argentina, mas que em Portugal dá os primeiros passos. Basicamente são clubes que contratam jogadores para valorizar e vender logo a seguir para patamares mais elevados.
 
Por detrás destes projetos estão normalmente empresários de jogadores: foram eles que pegaram em emblemas como o Corinthians Alagoano, o Desportivo Brasil ou o Grémio Anápolis. Em Portugal a lista de clientes destas plataformas negociais é longa.
 
No caso do Vilafranquense, a SAD foi adquirida pela empresa de agenciamento Eurofoot BV, que representa jogadores como Carlos Martins, Tiago Gomes, Minhoca ou Defendi.


 
«Isto é o futuro. Com a alteração na FIFA da forma dos negócios acontecerem, e na limitação de fundos, o caminho é cada vez mais as empresas de agenciamento estarem nos clubes. Este é o futuro e nós já estamos à frente de muita gente», frisa Rodolfo Frutuoso, empresário da Eurofoot e presidente da SAD do Vilafranquense.
 
«Repare, só há duas empresas em Portugal que fazem isto de forma aberta: nós, no Vilafranquense, e a Traffic, no Estoril. Desde o início que dissemos ao que viemos: somos homens do futebol e estamos no futebol pelo negócio. Fomos sempre claros.»
 
Rodolfo Frutuoso e Pedro Torrão são ambos antigos jogadores, curiosamente os dois formados no Sporting.
 
Juntaram-se a Paulo Lima, sócio fundador da Eurofoot, e avançaram para a representação de atletas, sobretudo de jovens atletas de divisões secundárias e escolas de formação.
 
«No âmbito da Eurofoot, procurávamos há muito um clube que funcionasse no fundo como um do pilar do nosso projeto, que é a formação e valorização de jogadores jovens.»
 
«O Vilafranquense surge com alguma naturalidade, por três motivos: eu vivo em Vila Franca há mais de dez anos, o Torrão vive em Vila Franca e cresceu no Vilafranquense, e por fim as pessoas da cidade conhecem a nossa atividade e consideram que podíamos salvar o clube, porque há dois anos o Vilafranquense estava para fechar portas.»


 
Depois de uma reunião com a autarquia, pegaram no clube em março de 2013 e a SAD foi constituída em 20 de agosto. Desde então transferiram David para o Benfica B, Pedro Monteiro para os juniores do V. Guimarães e Valdinho para o Libolo, de Angola.
 
Mais fizeram mais do que isso.
 
«Antes de mais o nosso objetivo é a formação: valorizar e transferir jovens jogadores para patamares mais elevados. Esse é o pilar do projeto do Vilafranquense», diz Rodolfo.
 
«Mas para isso acontecer temos de ter o mais possível as equipas em divisões competitivas e o Vilafranquense tinha a formação em patamares muito baixos. Era muito difícil motivar jovens atletas a vir jogar para Vila Franca. Quando chegámos tínhamos 120 jogadores em todos os escalões de formação e hoje em dia são 280.»
 
«No primeiro ano fomos campeões da divisão de honra de Lisboa e fomos campeões de juniores, este ano fomos campeões de juniores e de iniciados. O nosso objetivo desportivo era colocar a equipa sénior no Campeonato Nacional de Seniores em cinco anos e podia ter acontecido em apenas dois, ficamos no segundo lugar no ano passado...»


Fonte: outrofutebol.pt

A ideia é ser um clube estável no CNS e vender jogadores.
 
Até para tornar o clube financeiramente sustentável. O projeto do Vilafranquense só é possível, aliás, devido à ajuda de Paulo Lima, o sócio fundador da Eurofoot, que está radicado na Holanda e apoia de várias formas, até com o patrocínio das camisolas.
 
«Sem ele nada disto seria possível e claro que já investiu aqui um valor significativo. Estamos a falar de um projeto de dois anos e dois meses que não é ainda auto sustentável. Mas acreditamos que vamos recuperar todo o investimento.»
 
Enquanto isso o Vilafranquense vai tentar continuar a projetar jovens jogadores da empresa de agenciamento, e outros de empresários com quem a Eurofoot tem parcerias.
 
«A maior parte dos nossos jogadores têm entre 18 e 24 anos, somos o clube da divisão distrital de Lisboa com média de idades mais baixa. Para a nossa empresa é interessante ter aqui os nossos jogadores mais jovens, porque têm aqui um acompanhamento que não terão em outro lado. Para nós é bom e para eles também.»
 
Nesse sentido, um jogo com o Sporting, transmitido pela televisão, significou cinco números e duas estrelas no euromilhões: um prémio milionário para aproveitar.


 
Bernardo Carlos, defesa de 19 anos, formado no Sporting e que soma mais de trinta internacionalizações, admite que há alguma ansiedade no grupo, mas que este jogo é «uma oportunidade rara» que, acrescenta, «é preciso aproveitar».
 
O miúdo partilhou os balneários de Alcochete com Carlos Mané, Gelson Martins e Matheus Pereira, colegas que vai gostar de rever. Hoje estão em ponto completamente opostos do futebol, mas Bernardo Carlos não se queixa da sorte que teve.
 
«Vim para o Vilafranquense tive uma lesão difícil e no ano passado, no Sp. Braga, vivi uma época complicada. Por isso quero relançar a minha carreira», sublinha.
 
«Claro que este ser o clube dos meus empresários teve influência. A minha carreira não estava a correr bem desportivamente e isso refletia-se psicologicamente. Aqui tenho um acompanhamento diário, corrigem-me, apoiam-me sempre que preciso, a qualquer hora do dia... É bom ter por perto as pessoas em quem podemos confiar.»

De resto, acrescenta, não se deixem surpreender pelo facto do Vilafranquense habitar nas divisões distritais: isso não diz tudo sobre um clube com os olhos no futuro.
 
«Para ser sincero a ambientação não foi difícil. Fiquei até surpreendido com a qualidade da instituição, a qualidade do plantel, a qualidade do treino. Somos uma equipa dos distritais patrocinados pela Adidas e só isso diz muita coisa.»
 
Diz, sim senhor: diz, por exemplo, que há uma ponte em Vila Franca vistosa, segura e com ligação ao futuro.

Como outras pontes de Vila Franca.