Celso era um portento de força e um jogador temível na marcação de livres. Ainda hoje é recordado o forte pontapé direito que tantas alegrias trouxe aos portistas. Na caminhada triunfal até Viena, aliás, o defesa-central brasileiro foi extremamente importante, pois, não só defendeu bem, como marcou em três ocasiões. Primeiro na enorme goleada aos malteses do Rabat Ajax, confirmando a vitória por 9-0; depois ao Vitkovice, nas Antas, que apontou o segundo golo da equipa no triunfo por 3-0; e, confirmando o crescimento gradual da sua importância, abriu o marcador em Kiev, diante do Dínamo, com um fantástico livre a deslizar pelo relvado gelado. As portas da final de Viena estavam definitivamente abertas.
Mas, centrando-nos nas revelações dessa altura, Celso conta como eram os treinos, em que acabava por ser um jogador bastante protegido. «Eu tinha alguns problemas no joelho direito e também não era um rapaz novo [31 anos em 87], por isso o Artur Jorge poupava-me um pouco nos treinos. Eu até nem gostava muito porque queria trabalhar como os outros, mas ele insistia que eu devia ter uma preparação ligeiramente diferente, por isso era poupado de alguma forma em certos treinos», abordou, vincando que se tratava de «uma situação normal naquela época».
O diálogo com Artur Jorge era «aberto» e, talvez por isso, mantém uma ligação «especial» no presente, que chega ao contacto semanal «para trocar experiências e conversar, como grandes amigos». Daquela altura, o brasileiro que agora vive em Fortaleza recorda que o trabalho de preparação dos livres era intenso e preparado ao pormenor. Celso apostava, sobretudo, na potência e para apontar à baliza como deve de ser teria de haver uma «cobaia», ou seja, um guarda-redes disponível.
«Como a equipa precisava dos três guarda-redes disponíveis, o Artur ficava com o Mlynarczyk, o Zé Beto e o Amaral e dizia a um dos adjuntos, que podia ser o Octávio ou o preparador-físico, para ficarem comigo atrás de uma baliza. O guarda-redes que sobrava era um menino que treinava connosco. Hoje é em dia é um símbolo no clube. Trata-se do Vítor Baía, que levou com muitas boladas minhas, porque eu chutava forte, mas nunca desistia de trabalhar», contou em tom satisfeito, como que a comprovar uma qualidade que já não existe: «Naquela altura é que eu era muito bom no remate, agora, nos jogos entre amigos, já não tenho essa força (risos)».
«Cuidado com os favoritismos»
Muito atento à realidade do F.C. Porto, não só porque vê os jogos pela televisão, mas também porque contacta com muitos ex-colegas seus, Celso alerta para o perigo de se entrar em favoritismos exagerados, pois isso poderá ser perigoso. Em Viena, recorda, o favorito Bayern de Munique foi derrotado.
«Vejo algum perigo nessa atitude das pessoas, apesar do José Mourinho ser um treinador fantástico e, com certeza, estar atento a estas situações. Ele tem de alertar para os riscos de eventuais exageros», avisou a ex-estrela portista, que nunca mais despiu a camisola azul e branca: «Desde a minha passagem pelas Antas que não mais esqueci o clube. Tenho muitos amigos e isso é extremamente positivo, mas não deixo de estar atento ao que acontece, por isso sei que o Porto tem de manter a atitude dos outros jogos. Em 87 nós éramos uma espécie de franco-atirador e tivemos sucesso. Espero que volte a acontecer o mesmo na Alemanha».
Celso não vai até Gelsenkirchen, apesar de Geraldão o ter convidado a viajar. «Para nós é muito caro ir até lá. Gostava muito, mas a solução passa por juntar as pessoas daqui que gostam do Porto e vermos o jogo pela televisão», referiu o brasileiro.