Quem olha para Rinaudo agora não vê um jovem receoso e temeroso. Mas o trinco do Sporting já o foi um dia. Por detrás do jogador duro, personalizado e maduro já esteve um menino frágil. Dobrado pelas curvas do infortúnio. Passou dois anos sem jogar e não aguentava a dor na alma.

Por isso quis deixar o futebol. «Foram dois anos e meio a levantar-me só para ir ao médico. Dormia, comia e levantava-me para ir ao médico outra vez. Era uma loucura», referiu Rinaudo numa entrevista. «Um dia disse-me que queria deixar o futebol», conta Martin Saggini ao Maisfutebol.

Saggini era o treinador de Rinaudo nas categorias jovens do Gimnasia. O próprio trinco garante que ele foi fundamental na carreira. Por isso já lhe agradeceu publicamente. «Disse-me que o futebol era uma prisão para ele. Não se sentia cómodo e queria regressar à aldeia dos pais», adianta Saggini.

O treinador mandou-o regressar a casa. Rinaudo ligou à mãe, deixou tudo em La Plata e partiu imediatamente. O pai foi de carro buscar-lhe as coisas mais tarde. Por detrás desta decisão estiveram duas roturas dos ligamentos: primeiro no joelho direito, recuperou e no primeiro jogo lesionou-se no esquerdo.

Por isso quis deixar tudo, voltar à aldeia e ao conforto dos pais. Nessa altura valeram os amigos. Um dele era Ricardo Glorio. Chegou ao Gimnasia com Rinaudo, levado pelo mesmo olheiro e foi viver com ele para o quarto de uma pensão. Durante dois anos foi como um irmão para o reforço leonino.

«Quando ele regressou a casa, não duvidei que voltava. Conhecia-o e sabia que ele queria muito jogar futebol. Ele dizia-me que não voltava, mas não estava muito seguro de si. Ele tem uma garra enorme. Essa fome de ultrapassar os desafios não ia permitir que não voltasse», diz Ricardo.

Muitos telefonemas, muitas conversas e dois meses depois, Rinaudo voltou mesmo. «O problema não eram os joelhos: era a cabeça. O joelho era uma desculpa. Só precisava de confiança», diz o antigo treinador. O amigo adianta que Rinaudo pensava estar escrito que nunca iria ser jogador.

A paixão pelo mate... e pelas motos

Falava de azar, de perseguição e de fatalismo. Um par de meses em casa chegou para arrumar as ideias. Telefonou a Martin Saggini e disse-lhe que queria voltar. O treinador recebeu-o de braços abertos. «Ele só precisava de carinho. Precisava de apoio dos pais, dos amigos e dos treinadores.»

«Dizíamos-lhe que tinha de voltar: em três dias ou num ano, mas tinha de voltar. Que eram só lesões e faziam parte do futebol. Só precisava de se tranquilizar», adianta o amigo Ricardo. «Quando voltou falávamos muito com ele. O Rinaudo é um tipo que tem algo de especial», conta Saggini.

Nessa altura entra em cena Topo Sanguinetti. Era o treinador da equipa principal e, três meses após Rinaudo começar a jogar, foi buscá-lo para a equipa principal. «Sabíamos que a vida tem destas coisas. A cabeça de um jogador de futebol é complicada e ele tinha estado muito tempo sem jogar.»

«Mas superou essa fase e começou a jogar ao melhor nível. Estava com força mental. Só precisa disso. É um trinco com uma vontade tremenda. Contagia todos os colegas e é um líder. Começou a jogar e nunca mais deixou de ser titular. Tinha 19 anos e tornou-se um símbolo do clube», conta-nos.

Voltando atrás, Saggini emociona-se ao falar do reforço leonino. Parece quase estar a chorar. «Ele é um tipo especial, sabe? Não fui só eu que o marquei, ele também me marcou. É um rapaz a quem quero muito: é honesto, tem uma grande paixão pelo futebol e é um grande amigo. É um tipo raríssimo.»

Em La Plata toda a gente quer o melhor a Rinaudo. Luis de Blasis, por exemplo, era pai de Pablito, um colega do trinco. Dava-lhes boleia e acompanhava-os. Para o Maisfutebol só tem uma frase: «Diga a Portugal que o Fito Rinaudo é melhor pessoa que jogador. Que Deus o proteja sempre.»