Rodrigo está do lado oposto do talento de rua: precisamente como está do lado oposto do menino de rua. O avançado do Benfica cresceu na chique Barra da Tijuca, estudou nos melhores colégios do Rio de Janeiro e começou a jogar em clubes infantis. Nunca passou propriamente pelo futebol pobre.

Aos três anos, aliás, já integrava uma equipa, com tudo a que tinha direito: bolas boas, equipamentos bonitos e até treinadores. «No pré-escolar ele já jogava num clube aqui da Barra: o Naval», diz o pai, Adalberto Machado, enquanto solta uma gargalhada. «Tinha um treinador que se chamava Millo.»

Os primeiros pontapés foram por isso acompanhados por um adulto, que dava conselhos e apontava defeitos. Tudo bem feito, tudo bem orientado. «Ele sempre foi um menino de bem, ao contrário da maior parte dos jogadores não vem da classe baixa. Também por isso foi educado de uma forma diferente.»

Uma juventude ao lado de Thiago Alcântara

O pai está por detrás deste berço favorável que Rodrigo encontrou no mundo. Antigo jogador do Flamengo, chegou a ser uma grande promessa, considerado o sucessor de Júnior. Uma fractura na perna, porém, roubou-lhe a possibilidade de alcançar o nível do antecessor na lateral esquerda.

Mesmo assim Adalberto ainda fez uma carreira distinta: durante seis épocas representou o Flamengo e chegou a internacional brasileiro. A partir daí o filho colheu o talento dos genes do pai e conveniência de uma formação orientada: «Estudou no Colégio Anglo-Americano e chegou a fazer faculdade», revela.

«A mudança para Madrid coincidiu com o fim do ensino secundário e ele inscreveu-se na Universidade Camilo José Cella. Estava a tirar o curso de Educação Física e Jornalismo. Durante um ano ainda conseguiu conciliar os estudos e o futebol, mas no Castilla tornou-se impossível.»

Na última etapa antes da equipa principal do Real Madrid os treinos eram matinais, tal como as aulas. Por isso o avançado do Benfica deixou o curso em suspenso: mas não o abandonadou. Enquanto não é possível terminar o curso, Rodrigo aproveita para investir no saber.

«Quando o Benfica o emprestou ao Bolton, ele já falava inglês. Mas um ano em Inglaterra permitiu-lhe desenvolver-se na língua e agora ele está a fazer um curso de inglês avançado em Lisboa para ter mais à-vontade com os termos técnicos. É um jovem com vontade de crescer intelectualmente.»

«Rodrigo é protótipo do avançado completo»

Essa atracção por saber mais cresceu ao lado de um carácter forte. «Foi um menino que nunca chorou por ir para um colégio ou por não querer alguma coisa. Sempre foi muito responsável e muito sereno. Por exemplo, nunca foi expulso e nunca foi suspenso por acumulação de amarelos», conta Adalberto.

O pai garante nunca ter deixado nada ao acaso. Um exemplo. «Tal como eu, ele nasceu canhoto. Mas desde pequeno houve uma preocupação em induzi-lo a chutar com o pé direito, para evitar que lhe acontecesse o que sucede aos canhotos: são demasiado canhotos e não utilizam o pé direito.»

Talvez por isso Rodrigo sempre foi goleador. Aos 11 anos, por exemplo, já era o melhor marcador das escolinhas do Flamengo que venceram o torneio carioca Jornal dos Esportes. Ao lado de Thiago Alcântara e Diego Maurício, que com ele cresceram nas camadas jovens do clube rubro-negro.

O primeiro tornou-se até o melhor amigo: conheceram-se no Colégio Anglo-Americano, foram juntos para o Flamengo e um ano depois saltaram para Espanha, onde ajudaram o pequeno Ureca a roubar o título regional ao sempre habitual campeão Celta de Vigo. Rodrigo já era uma promessa de talento.