Roger Spry deixa saudades por onde passa. E passou por grande parte do Mundo, nas últimas décadas. Conquistou respeito e admiração ao longo dos anos, trabalhando com treinadores como Malcolm Allison, Bobby Robson, Carlos Queiroz, ou mesmo Arsène Wenger e José Mourinho. Aliás, o seu percurso em Portugal começou em Setúbal, em 1986, quando Mourinho ia aparecendo nos treinos do Vitória local, enquanto tirava o seu curso em Lisboa.
Em mais de duas décadas, o preparador-físico que surpreendeu os portugueses com a introdução de música e conceitos de artes marciais nos treinos coleccionou histórias de cruzamentos profissionais com algumas das maiores figuras do futebol. Na sua última missão, preparou a selecção da Áustria para a fase final do Euro2008. Agora, aos 57 anos, em longa entrevista ao Maisfutebol, faz uma viagem ao passado, sabendo que terá novos e grandes desafios pela frente.
Uma filha nascida em Setúbal
Com formação superior na área da condição física e um cinturão negro numa variante de Karaté, Roger Spry chegou a Portugal para trabalhar com Malcolm Allison no Vitória de Setúbal, em 1986. Ficou nas margens do Sado durante três anos, tempo suficiente para ver nascer a filha, «uma setubalense de gema». Regressou a Inglaterra para representar o Aston Villa, mas tinha deixado boa impressão no nosso país e voltou a fazer as malas, em 1992.
«Estava num restaurante e perguntaram-me se eu podia falar com uma pessoa. Era o presidente Sousa Cintra, a convidar-me para o Sporting. As pessoas ficaram a pensar que tinha sido Bobby Robson a convidar-me, mas não, foi ele, talvez com o contributo de Manuel Fernandes, com quem eu tinha trabalhado no V. Setúbal», resume.
Em Alvalade, fez parte das equipas técnicas de Bobby Robson e Carlos Queiroz. Seguiu-se uma passagem pelo Japão e, uma vez mais, o telefone volta a tocar, com uma voz portuguesa do outro lado: «Aceitei o convite de Pinto da Costa e rumei ao F.C. Porto, onde trabalhei com António Oliveira e Fernando Santos.»
Uma ajuda à Grécia no Euro2004
«Quando Fernando Santos saiu do F.C. Porto, fui com ele para o AEK de Atenas. Depois, passei para o Panathinaikos», vai explicando. Durante a estada na Grécia, colaborou com a selecção nacional, em vésperas do Euro2004. O desfecho é conhecido, infelizmente, por todos os portugueses. Nos últimos anos, dividiu o seu tempo entre a selecção da Áustria e colaboração com o Celtic de Glasgow, por intermédio de Gordon Strachan.
Recapitulando vários episódios marcantes da sua carreira, Roger Spry recupera momentos deliciosos de convivência com Jordão, Luís Figo, Deco ou Jardel, garantindo nunca ter encontrado um jogador incapaz de compreender a utilidade do trabalho físico e mental que desenvolve, com a música como pano de fundo e as artes marciais como base espiritual: «Basicamente, ensinamos os jogadores a levar porrada e sorrir. O adversário fica a pensar: este gajo é maluco ou é o super-homem.» Para conferir, veja os artigos relacionados.