Rafael Nadal bate na bola, numa esquerda frustrada, e ela sobe, sobe, em balão. Entre esses três/quatro segundos em que a raquete dispara e Nadal perde mais um ponto, o mundo parece parar num silêncio reverente.

É duro para todos confirmar a queda de um grande campeão. Por isso, todos desejam que essa bola, um balão sem sentido, bata dentro do campo de Novak Djokovic, para que se alimente por mais algum tempo a lenda.

Nada a fazer. Bola fora, ponto para Novak, 0-30 no serviço do espanhol, dois pontos para a derrocada. Rafa sabe-o tão bem como nós. Acabou!

Acabou um ciclo de 39 vitórias seguidas na sagrada terra batida de Roland Garros; acabou o sonho de vencer pelo sexto ano consecutivo o Grand Slam parisiense; acabou a invencibilidade no torneio dos mosqueteiros diante do algoz sérvio, Novak, o terrível.

7/5, 6/3 e 6/1, limpeza para as escrituras de um dos mais belos torneios de ténis do mundo.
 
Ao sétimo passo no confronto com Rafa em Paris, Novak ganha pela primeira vez. Com requintes de malvadez. Djokovic arranca, ganha vantagem de 4-0 e parece abrandar, até Rafa chegar a 4-4, como se pretendesse animar uma corrida condenada ao desequilíbrio de forças.

Novak Djokovic suportou muitas derrotas e outras tantas lições de Nadal até chegar a este dia. Ironicamente, o dia do 29º aniversário do espanhol.

2006, 2007, 2008, 2012, 2013 e 2014. Seis derrotas em seis tentativas de desalojar o Rei de Roland Garros do trono. E em 2015, no ano em que aposta no Grand Slam perfeito – vitórias no Australia Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open -, Novak consegue.

Soa a final de uma era em Roland Garros, mas talvez até a final de uma era no próprio mundo do ténis.

Com o adeus de Federer e Nadal nos quartos de final, o famoso Big Four (Djokovic, Murray, Federer e Nadal) ameaça desfazer-se e separar-se em definitivo na hierarquia ATP.

Nadal cairá, no mínimo, do sétimo para o décimo lugar da classificação e até pode sair do top-10, se Tsonga eliminar Wawrinka nas meias-finais. É o pior ranking do herói espanhol desde 2005, quando não passava de um menino de 19 anos, candidato a ser grande.
 

Todos estes sintomas servem para alicerçar a ditadura de Novak Djokovic no ténis mundial. Quem é o verdadeiro opositor, perante as aparições minimalistas de Federer e Nadal em Paris?

A resposta só pode ser Andy Murray ( eliminou David Ferrer
), oponente de Novak nas meias-finais, já sexta-feira.

Se este Nadal-Djokovic serviu para encerrar uma longa era, o próximo Murray-Djokovic servirá de indicador para a que agora se abre.

E Rafa serve. 0-40, triplo Match Point
para Djokovic. Oh, não! Dupla falta!

Um campeão não merece cair assim.