Era uma espécie de maldição: em 25 visitas a solo alemão, para as competições europeias, o Real Madrid somava 18 derrotas, seis empates e uma vitória (só uma!), conseguida há mais de 13 anos, em Leverkusen.

Era uma espécie de maldição, parte 2: nas quatro visitas à Alemanha, para as provas da UEFA, Cristiano Ronaldo tinha outras tantas derrotas, duas delas a resultarem em recentes eliminações nas meias-finais da Champions. A isto, ainda se podiam juntar os três jogos perdidos por CR7 com a seleção de Portugal, diante da Alemanha, em fases finais (Mundial 2006, Euro 2008 e Euro 2012).

Bastaram 90 minutos para todos esses fantasmas serem varridos para debaixo do tapete. Primeira equipa visitante a marcar seis golos na Alemanha, em 59 anos de provas europeias, o Real Madrid conseguiu o resultado mais retumbante nesta primeira mão dos oitavos de final. Uma ronda quase completamente dominada pelos visitantes, e em que, exceção feita ao Olympiakos-Manchester United, as diferenças entre o patamar de elite e as equipas de classe média ficaram mais claras do que nunca.

A fórmula BBC

Na semana em que se isolou na liderança da Liga espanhola, e a quatro dias de um apaixonante dérbi com o At. Madrid, a equipa de Ancelotti reforçou credenciais de primeira linha na Europa e aproveitou para aumentar para 27 a sequência de jogos sem derrota. A última aconteceu em outubro, no Camp Nou (2-1). Daí para cá, 23 vitórias, quatro empates, 78 golos marcados (quase três por jogo) e apenas 17 sofridos.

Os números dão que pensar. Tanto mais que Ancelotti parece ter conciliado o equilíbrio defensivo com uma fórmula de ataque - Bale, Benzema e Ronaldo, BBC para os amigos – que, em Gelsenkirchen, só não foi perfeita porque o trio ficou a dever a si próprio mais três ou quatro golos.

Castigado na Liga espanhola, Cristiano Ronaldo tinha falhado os últimos dois jogos da equipa, e aproveitou a fome de bola para uma exibição demolidora: marcou dois golos, acertou no poste, fez brilhar o guarda-redes, fez assistências e combinou na perfeição com Benzema e Bale, que também bisaram. E, a juntar ao objetivo principal, deixar a equipa encaminhada para os quartos de final, conseguiu o bónus de voltar à liderança da tabela de marcadores da Champions, ultrapassando novamente Ibrahimovic (11 golos contra 10 do sueco).

Com 61 tentos marcados na prova,
só Messi (66) e Raúl (71) estão à sua frente na tabela de todos os tempos. E os 11 golos que leva nesta altura fazem pensar que o seu máximo, de 12, conseguido na época passada, está prestes a cair. Aliás, com os quartos de final já no horizonte, não é improvável que Cristiano possa derrubar o recorde de mais tentos numa só temporada da Liga dos Campeões: 14, conseguidos por Altafini (1962/63) e Messi (2012/13).

Do jogo de Gelsenkirchen, para além do resultado – que repete o conseguido pelos merengues em Istambul, já nesta época - fica ainda o registo para a beleza dos golos. É certo que a noite desastrada dos centrais do Schalke, Matip e Felipe Santana, pode ter ajudado, mas quase todos os sete tentos marcados seriam candidatos naturais ao título de melhor da jornada.

 

O mais espetacular de todos, curiosamente, acabou por ser conseguido pelo Schalke, já nos descontos, num vólei mais que perfeito de Huntelaar. Um momento que teve uma única consequência nesta história: pôr fim ao ciclo de inviolabilidade da baliza de Casillas, que durava há dez jogos. O capitão dos merengues - que na Liga é suplente de Diego López – esteve 952 minutos imbatido, fixando um novo recorde na história centenária do clube. Mas, se o Real continuar a jogar como nesta quarta, outros registos históricos podem cair nos próximos tempos.