«O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer», Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane.

Um tipo é português, tem um bar e, claro, tem de ser alvo de piadas fáceis dos ingleses quando uma marca de refrigerantes tenta ser engraçada com o maior ícone do desporto do país. Ronaldo foi assunto em todas as conversas aqui. Os ingleses lamentam não tê-lo, Lineker, goleador de 1986, atira que o CR7 é o melhor do mundo no momento.

Os defensores de Messi contra-atacam. Como se só se pudesse gostar de um ou de outro. Como se um fosse Darth Vader e o outro Luke Skywalker, um Rocky Balboa o outro Ivan Drago. O futebol tornado numa Guerra Fria absurda.

«Não é só no futebol, na NBA está a passar-se o mesmo», recorda-me um hispano-americano, entendido nas duas matérias. LeBron James vs Michael Jordan, evidentemente.

É uma comparação que uso.

«Vejo um pouco de Ronaldo nos dois, sabe. Tanto em Jordan como LeBron. Vejo em King James um atleta moderno, uma capacidade física incrível como Cristiano. Se calhar, nunca ninguém combinou físico e talento num só corpo como eles os dois nas respetivas modalidades. O que vejo de Jordan em Ronaldo é algo superior, é algo que distingue os grandes. Um fogo que arde por dentro.»



«Jordan disse há pouco tempo que o melhor afundanço que fez foi frente aos NY Knicks, no Madison Square Garden, num voo incrível por cima de Patrick Ewing. Sou capaz de concordar, embora para mim essa não seja a jogada mais bonita que fez. E nem é a história dele que gosto de contar.»

«A que eu prefiro e que define um pouco do que ele era passou-se a 2 de dezembro de 1987. Bulls em Salt Lake City. Minuto final do 2º periodo do jogo. Jordan recebe, John Stockton tenta um roubo.
His Airness roda e afunda. Um tipo na bancada desata aos gritos: «Hey, Jordan mete-te com alguém do teu tamanho.»

Jordan mede 1,98 metros. Stockton 1,85.

O rookie Scottie Pippen faz uma falta. Os Jazz convertem e a posse de bola fica para Chicago. Jordan não esqueceu a jogada anterior sobre Stockton, nem o que ouviu. «O que é que ele fez a seguir? Afundou por cima de Mel Turpin! Que media 2,11 metros.»

«Bruto», comentam à minha frente.

Prossigo: «O mais giro é que ele virou-se para o tipo da bancada, abriu os braços e perguntou: «Este é suficientemente grande?»




«É isto que vejo em Ronaldo para lá de tudo o que ele é como atleta e futebolista. É um competidor como só na NBA de Jordan vi. É a competitividade que os move, a vontade de ser melhor, de ser o melhor. Obviamente, Messi tem esse efeito em Ronaldo. Mas o CR7 tem respondido. No Real Madrid elevou os números que trazia de Manchester e praticamente melhora-os a cada ano. Diziam que não marcava nos jogos grandes e ele desatou a marcar em Camp Nou.»

«Foi por isso que não duvidei que Ronaldo ia sair por cima no play-off com a Suécia. Mal o compararam com Zlatan, o fogo começou a arder como ardeu com as palavras de Blatter. No final, Ibrahimovic 2, Ronaldo 4.»

E é por isso que, a pouco mais de meio ano do Mundial, digo: «Ronaldo, vê se te metes com alguém do teu tamanho!»