Uma bola. Acordado, a dormir, na escola ou na catequese. Sempre com uma bola. Os vizinhos do menino Cristiano já sabem. De manhã à noite, há sempre a possibilidade de uma bola atravessar o quintal e estilhaçar o vidro da cozinha. No bairro de Santo António, sossego só quando o filho do senhor Aveiro vai à escola. Contrariado, mas vai.
O Caminho do Lombinho, estreito, cimentado, vetusto, é a grande área. A porta de casa do senhor Andrade faz de baliza. Até aos seis anos, é este o principal campo da ilusão do pequeno Cristiano. Mas o futebol aparece na sua vida ainda mais cedo. No dia do baptizado, mais precisamente.
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Dinis Aveiro, pai babado, faz questão de cumprir as obrigações que o ligam ao Clube Futebol Andorinha. Roupeiro garboso, vai ao jogo da equipa, que viria a ser a primeira de Cristiano, e só depois aparece na igreja, amparado no padrinho Fernão Freitas. O padre, o bebé e os comensais esperam 30 minutos.
Prioridades são prioridades.
Abençoado pelos genes paternos
Farto das queixas dos vizinhos, o senhor Dinis Aveiro começa a levar Cristiano consigo para o campo do Andorinha. Aos sete anos torna-se na estrela do humilde clube madeirense. Francisco Afonso, primeiro treinador do petiz, puxa pela memória ao Maisfutebol.
«Era muito brincalhão, muito mesmo. Queria jogar à bola 24 horas por dia. E ficava terrível quando perdia. Chorava, protestava. Teve sempre o desejo de vitória em si», recorda o antigo professor de educação física.
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«Do lado paterno havia gente com muito jeito para o futebol. O Cristiano trazia o talento nos genes. Depois juntou a isso uma vontade indomável. Saía dos treinos das escolinhas e ia para a rua jogar com crianças mais velhas. Isso favoreceu a sua evolução. Dava-me um enorme prazer apreciar a forma como colocava a parte de fora do pé na bola. Era um tique de craque.»
20 bolas e dois equipamentos: uma transferência milionária
Com dez anos, a primeira transferência. O padrinho quer levá-lo para o Nacional, o pai prefere o Marítimo. Organiza-se uma reunião com todas as partes envolvidas, mas à última da hora o representante do Marítimo não comparece e resolve facilmente uma questão que parece ser complicada.
O valor da mudança é inferior aos 90 milhões de euros que o levam em 2009 de Manchester para Madrid. 20 bolas de futebol, dois equipamentos de jogo e não se fala mais nisso. Estamos em 1995 e o Andorinha faz um excelente negócio.
«Estava muito longe de pensar que tinha ali o melhor jogador do mundo. Mas sinto que também contribuí para a evolução do Cristiano. Quando voltar a falar com ele lá saberei se fui ou não marcante. Tenho saudades do miúdo. Vou vendo a família, é gente muito simpática, mas o Cristiano não. Mais dias menos dia encontro-o por aí.»