A vitória sobre a Fiorentina, num jogo transmitido em canal aberto para todo o país, lançou para a ribalta um nome: Ruben Semedo que, no domingo, pode ser titular em Olhão, no lugar do lesionado Rojo. O jovem central de 19 anos mostrou ser um jogador muito alto, ágil, rápido e agressivo, qualidades raras de conciliar.

Ora neste caso surgem compatibilizadas em proporções muito equilibradas e promissoras, o que levou o Maisfutebol a procurar conhecer a história por detrás da promessa.

Descobriu-a em Casal de Mira, um bairro social difícil do concelho da Amadora.

Mas descobriu-a também nas palavras de Luís Dias, coordenador técnico da formação do Sporting que foi responsável pela contratação do jovem: embora não pretenda ficar com os louros. «No futebol ninguém descobre ninguém», sorri.

«O Ruben Semedo tem um percuso sui generis: começou nos infantis do Sacavenense, depois deixou de jogar futebol e regressou nos sub-16 nos Futebol Benfica», conta ao Maisfutebol.

Pelo meio portanto houve uma interrupção de três anos: sobretudo justificadas pelas circunstâncias familiares. Ruben Semedo não nasceu num berço de ouro, pelo contrário.

Filho de pais emigrantes de Cabo Verde, e separados, nasceu em Portugal e cresceu com a mãe e uma irmã: a mãe tinha de se levantar todos os dias às quatro da manhã para ir trabalhar, alimentar e vestir os filhos. Por isso Ruben Semedo cresceu como muitos outros miúdos de Casal de Mira. Na rua.

Foi para esse futebol que regressou quando percebeu que não podia viver constantemente das boleias do amigo Hélder Santos para ir treinar ao outro lado da cidade: a Sacavém. Três anos no futebol de ringue, com os amigos, não o afastaram do essencial. Precisava de um clube.

«Sempre teve a vontade de jogar futebol federado. Nós nunca o incentivámos a nada, era tudo vontade dele. Procurava clubes e tentava entrar», conta o tio Bruno Correia, apenas nove anos mais velho e um amigo de todas as horas.

O Fofó no início de tudo...

Por isso foi para o Futebol Benfica: que ficava bem mais perto de casa. «Um dia o treinador do Fofó, o Pedro Santos, ligou-me a dizer que tinham ido jogar ao Seixal com o Benfica e tinham perdido 8-0», recorda Luís Dias, o treinador do Sporting.

O amigo disse-lhe que tinham perdido 8-0, sim, mas o melhor em campo tinha sido deles e ainda era um ano mais novo do que todos os outros. «Tens de o vir observar», referiu-lhe.

«No jogo seguinte o Sporting jogava no terreno do Fofó e disse ao treinador de sub-16, o Nuno Lourenço, que havia um jogador lá que me tinha sido recomendado. Não lhe disse o nome, não lhe disse posição, não lhe disse nada: ele tinha de descobrir. Ao intervalo ligou-me a dizer: não há dúvidas, é o Ruben Semedo.»

Era mesmo, claro: os dois falaram com Aurélio Pereira e o Sporting avançou para a contratação. O jovem, que na altura ainda era médio, fez então a segunda metade da época já vestido de verde e branco. No que foi o início desta história.

Mas não foi o fim: bem pelo contrário. Ruben Semedo chegou ao Sporting como médio e só muito depois foi transformado em central. Luís Dias foi novamente o responsável por isso.

«Foi uma decisão imposta pelas circunstâncias. Eric Dier tinha saído para as reservas do Everton, o Tobias Figueiredo lesionou-se num torneio em Gaia e esteve seis meses parado, por isso tive de recuar o Ruben Semedo.»

Aconteceu nos sub-17: portanto há três anos que mostrou ser uma decisão feliz. «Deparou-se com um monstro como Mario Gomez e mostrou que tem potencial. É rápido, é ágil e tem o futebol de rua dentro dele, é muito forte nos duelos individuais.»

Mas está longe de ser um produto acabado. Como pode perceber nos textos relacionados.

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