Há pouco mais de um ano Ruben Semedo estava lançado: a estreia pela equipa principal do Sporting em Alvalade tinha exibido uma série de promessas.

O jovem central jogou os noventa minutos no jogo de apresentação com a Fiorentina, fez um golo e apresentou vários atributos. Exibiu por exemplo capacidades físicas notáveis, velocidade, impulsão e até vigor nos duelos individuais.

Ruben Semedo, repete-se, parecia nessa altura lançado. Mas a verdade é que a carreira do jovem de então 19 anos deixou de ser uma linha reta: virou numa série de curvas que se cruzaram numa espécie de labirinto. Do qual tenta sair agora.

«Sinto que estou a passar por uma fase importante da minha vida profissional», confessa em conversa com o Maisfutebol.

«Sair do ambiente de conforto que era o Sporting está a ajudar-me a crescer. Estou a conseguir controlar-me emocionalmente, o que para mim era extremamente difícil antes de ter esta experiência. Neste momento sinto-me um jogador diferente, mais forte.»

Ruben Semedo foi emprestado ao Reus, da II Divisão B espanhola, onde tenta encontrar o equilíbrio emocional. Afinal de contas sempre foi o que mais lhe faltou em Alvalade.



A última época foi aliás percorrida ao ritmo das polémicas.

Primeiro foi apanhado a conduzir sem carta, foi detido e presente a tribunal. Depois atirou a camisola do Sporting ao chão após ter sido expulso num jogos dos bês com o FC Porto. Por fim, naquela que foi a gota de água, envolveu-se em troca de agressões com Enoh num treino.

«Tenho de me controlar mais emocionalmente nos momentos quentes. Foi o que me faltou no episódio da camisola, e reconheço que errei. Foi culpa minha. Estava de cabeça quente e não devia. É isso que quero melhorar», revela.

«A questão com o Enoh acho que foi um pouco empolada. Não devia ter acontecido, é verdade, mas o que aconteceu foi consequência do treino e morreu lá.»

«Quiseram castigar-me, tudo bem. Aceitei o que o Sporting decidiu.»

O Sporting decidiu que Ruben Semedo devia abandonar o país: ia ser emprestado, sim, mas tinha de ser no estrangeiro. No fundo o clube queria afastá-lo do ambiente do bairro.

«Eu queria ficar na Liga e havia clubes interessados. O V. Guimarães, o Boavista e o Estoril mostraram interesse em mim. Os dirigentes do Sporting pensaram que era melhor para mim sair do país e tenho de admitir que está a ser uma boa experiência», conta.

«A verdade é que já desde o ano passado pensava nisto, em sair por empréstimo. Por isso vir para o Reus foi uma opção boa. Não estava a ter um bom ambiente em torno de mim no Sporting, havia muitas polémicas. E aqui estou bem, a treinar e a jogar.»

Ruben Semedo vive em Reus, uma pequena cidade de cem mil habitantes, com um primo. «Moro numa zona boa, muito calma.» Em Portugal deixou a mulher e a filha, o que tem provocado a experiência mais difícil. «Tenho muitas saudades delas, mas em breve juntam-se a mim», revela. «Nessa altura tudo se tornará mais fácil.»



Não voltou a Lisboa desde que viajou para a Catalunha e não planeia voltar. «Só no natal, para matar saudades da família.» A distância do complicado bairro de Casal de Boba, na Amadora, obrigou-o a crescer mais depressa e ajudou-o a acalmar-se, garante.

«Já o ano passado tinha pensado afastar-me do bairro e ir viver para Alcochete. Mas não tinha capacidade financeira para isso, o Sporting disse que me ia apoiar mas isso acabou por nunca acontecer e a mudança não se fez.»

Este ano, sim, saiu de casa da mãe.

Viajou para mil e cem quilómetros de distância, onde encontrou um clube com mais portugueses: Vítor, Alexandre Guedes, Dinis Almeida e Eliseu Cassamá.

«Têm sido um apoio muito forte. É bom ter colegas que falam a mesma língua e com quem posso conversar e passar algum tempo.»

Dentro de campo, as coisas também correm bem. Ruben Semedo esperou seis jogos até ser titular, mas quando a oportunidade surgiu tratou de a agarrar. «Fui o melhor em campo.» Os elogios na imprensa espanhola sucederam-se e Ruben Semedo ganhou a titularidade. «No último jogo saí ao intervalo por causa de um toque no joelho, mas já estou recuperado e preparado para voltar a jogar.»

«Pensei que a II B fosse mais fraca. Quando me apresentaram esta hipótese, fiquei com algum receio. Mas é muito competitiva. Está ao nível, ou até melhor, da nossa II Liga.»

«As pessoas do Reus estão muito satisfeitas com o meu trabalho, acreditam em mim e transmitem-me essa confiança. Por isso para já está a correr bem.»

«Acredito que podia estar a jogar na equipa principal do Sporting»

O Sporting não deixou de entrar em casa de Ruben Semedo: à distância de mais de mil quilómetros, o central de 20 anos segue o que o clube ao qual ainda pertence tem feito.

Ora por isso foi impossível não falar dos problemas da equipa com os centrais: as saídas de Marcos Rojo e Dier enfraqueceram o onze, Sarr tem acumulado erros, Maurício não parece o mesmo da última época e a instabilidade do centro da defesa faz a equipa tremer.

No entanto, e quando questionado se sente que é melhor do que os atuais centrais, Ruben Semedo diz expressamente que não vai atacar os colegas de profissão.

«Acredito que podia estar a jogar na equipa principal do Sporting, mas apenas porque acredito no meu valor. Não tem nada a ver os centrais atuais. Acredito muito em mim e acredito que posso jogar sempre. É a minha mentalidade.»

O Sporting considerou que era melhor por um ano Ruben Semedo não pensar no Sporting, mas o central garante que não deixou de o fazer. Está em Reus a trabalhar para voltar no próximo ano, mais maduro, mais calmo e mais forte.

«Trabalho a pensar nisso. Nesta altura penso em ser titular e jogar bem no meu clube, mas tenho a certeza que se o fizer bem posso voltar ao Sporting e ir ao Euro sub-21. Tenho esse dois objetivos na minha cabeça.»

Depois de tantas curvas, a carreira de Ruben Semedo pode voltar a ser uma reta: é isso que o jovem central ambiciona na modesta II Divisão B espanhola.