As notícias da «morte» futebolística de Fred parecem ter sido manifestamente exageradas.

O «centroavante» do escrete na Copa do descontentamento para os brasileiros teve um verão bem complicado: a maioria dos adeptos da seleção canarinha considerou-o «o pior jogador» da equipa então treinada por Scolari, durante o Mundial-2014.

Incapaz de marcar nos jogos em que o Brasil precisava de ultrapassar as suas limitações para poder chegar à final, em vez de festejar golos (como acontecera, por exemplo, um ano antes na Confederações), Fred somou frustrações e críticas, em cada partida cumprida pela seleção no mundial brasileiro.

O «Rei das Laranjeiras» foi ouvindo, acumulando, mas nos dias seguintes ao fim da Copa extravasou a frustração e, em entrevista, desabafou: «Para mim a seleção já deu». 

Apesar de ter só 30 anos, terá sido mesmo o fim da linha para Fred na «canarinha». E a nova era iniciada após o Mundial na seleção brasileira, com a liderança técnica de Dunga, parece confirmá-lo: nas primeiras escolhas pós Copa, o sucessor de Scolari chamou Diego Tardelli, atacante do Atlético Mineiro, para acompanhar os incontestáveis Neymar e Hulk como opções ofensivas.

Adeus escrete, olá Flu


Pode ter sido o fim para Fred como referência de área para a seleção brasileira. Mas o pós Copa prova que não foi, de certeza, o adeus do «centroavante» como um dos melhore marcadores do futebol brasileiro.

Basta ver o modo como o avançado foi recebido nas Laranjeiras depois da participação frustrante no Mundial-14:



«Pior de sempre» na seleção, «melhor de sempre» no Flu?

Capitão do Fluminense, 130 golos apontados em pouco mais de 200 encontros pelo clube carioca, Fred foi elemento fundamental para a conquista do título brasileiro em 2012 – e continua como maior esperança dos adeptos tricolores, quando é preciso resolver um jogo.

Isso voltou a acontecer no passado sábado, frente ao Palmeiras.

Empurrado pelos dois golos de Fred, o Flu derrotou o Palmeiras por 3-0 (o terceiro foi de Conca) e está outra vez no «G4» do Brasileirão. 
 

GOLO «À FRED» FRENTE AO PALMEIRAS



Com contrato até ao final de 2015, Fred tem no Fluminense o seu palco para provar que, pelo menos, ainda é um dos melhores jogadores de área do futebol brasileiro.

E isso, nem a Copa desmentiu. 

Miguel Lourenço Pereira, analista em futebol internacional, comenta para o «Mundo Brasil» da Maisfutebol Total: «Pessoalmente nunca vi o Fred como atacante de topo, não é um killer de área, tem dificuldades no jogo associativo e é um jogador que ganhou protagonismo porque todos aqueles avançados brasileiros da sua geração, como Luís Fabiano, Adriano, Robinho ou Pato perderam o comboio demasiado cedo e não estiveram disponiveis quando eram mais necessários. O Fred continuará a marcar golos numa liga como a brasileira, onde não é algo complexo de se conseguir, mas o Mundial deixou evidente que tanto ele como Jô são jogadores de perfil médio».

Glória e miséria na seleção


Mas isso de Fred ser «o pior centroavante de sempre» do escrete soará a injustiça, ainda em ambiente de expiação dos pecados brasileiros na sua Copa.

Fred fez o primeiro Mundial em 2006, logo a seguir a ter-se estreado pelo escrete. Era, na altura, figura de destaque no Lyon, mas na Copa da Alemanha ficou «tapado» por Ronaldo, Adriano e Robinho. Mesmo assim, fez o que mais gosta e sabe: marcou um golo, no jogo com a Austrália. Só precisou de dois minutos, desde o momento em que entrou em campo e o minuto em que apontou o tento.

Foi com Parreira que se estreou e até foi ao seu primeiro mundial, mas foi com Dunga que deixou de ser presença habitual. Ainda chegou a ser chamado pelo agora de novo selecionador brasileiro, na primeira passagem de Dunga pelo escrete. Mas a partir de 2007, Fred perdeu o comboio da «canarinha», perdendo, assim, a presença no África do Sul-2010.

Só os golos no Fluminense lhe permitiram retomar a viagem no escrete, já em 2011, com Mano Menezes.

Felipão fixou-o como «9» indiscutível. O resto da história de Fred com o escrete é conhecido: herói do triunfo na Confederações-2013, vilão no Mundial-2014. Poucos golos quando comparado com outros «9» da amarelinha, a segunda pior média entre os «centroavantes» nas copas (apenas um golo em 402 minutos no Brasil-14, cinco jogos; pior só Alcindo, em 1966, com zero golos em dois jogos).

Outro dado, este menos objetivo, é o da opinião da «torcida», que em pesquisas feitas logo a seguir à Copa colocam Fred como «pior jogador do escrete» na prova, muito à frente neste «ranking» indesejado de Hulk, Dani Alves, Paulinho e Marcelo.

Será que foi mesmo fim de linha para Fred no escrete? Miguel Lourenço Pereira considera que sim: «Se Dunga não encontrar um avançado como Damião em melhor forma, não der oportunidades a jogadores como Ademilson e tiver de recorrer outra vez a Fred então é porque tem um sério problema. Para o público brasileiro acho que Fred sai tão marcado do Mundial como Barbosa do torneio de 50. Vai ser praticamente impossivel voltar a ve-lo com a canarinha».

Para o analista de futebol internacional, «precisamente por não ser um avançado de topo, é perfeitamente entendivel que Fred acabe a sua carreira no Brasil. Desde há uns anos a liga brasileira encontrou pujança para recuperar jogadores decantes como Fred, Jadson, Robinho, Deco, Fabiano, Ronaldinho e até o próprio Kaká e parece evidente que nenhum deles tem nivel ja´para a exigencia do futebol europeu. O que antes se conseguia só com um passaporte a dizer Brasil hoje já não é possivel e é normal que esses jogadores que viveram o hype de ser um brasileiro na Europa agora sofram a realidade de não terem capacidade para aguentar essa exigência».

Muitos golos, algumas dúvidas


A carreira de Fred tem sido uma história de muitos golos e algumas dúvidas. O «centroavante» fez, pela seleção, 18 tentos em 40 jogos; 34 golos em 57 partidas pelo Atlético Mineiro; 56 tentos em 71 jogos pelo Cruzeiro e 43 golos em 125 partidas pelo Lyon e 128 em 208 jogos pelo Flu. No total, 267 golos em 449 jogos registados em carreira com 11 épocas.


Os melhores golos de Fred pelo Flu 

 


Contando também com as partidas pelo Américo de Téofilo Otoni, clube da sua terra natal, Fred celebrou, recentemente, o jogo 500 da carreira profissional, precisamente no duelo do Flu com o Cruzeiro, clube de onde, em 2005, saltou para o futebol europeu.

O atacante passou quatro anos no Lyon, em fase em que o clube francês tinha maior dimensão internacional do que tem neste momento.

A transferência da «Raposa» para o Lyon foi de 15 milhões de euros. Fred foi colega de Cris e de Juninho Pernambucano.

Três títulos franceses (que somados aos quatro anteriores fizeram-nos festejar um «hepta» improvável numa liga francesa) são credencial importante no seu currículo, mas a partir de certa altura Fred perdeu a titularidade para Benzema, que se assumia já na altura como o grande avançado francês (construindo caminho para a chegada ao Real Madrid).

Em 2009, acabaria por voltar ao futebol brasileiro, iniciando percurso no Flu, que ainda hoje dura. Ansioso por voltar aos golos, Fred nem queria cumprir até ao fim o contrato com o Lyon, pela escassa utilização. Apó «guerra» com Jean-Michel Aulas, o brasileiro acabaria por assinar por cinco anos pelo Flu.

2012, ano de sonho

Para muitos, Fred é já o «maior centroavante» da história do Fluminense. O título de 2012 (com Fred a acumular os triunfos individuais de melhor jogador da prova e melhor marcador, ganhando por pouco a Luís Fabiano) foi chave para esta ideia.

Scolari, regressado entretanto ao escrete no final de 2012, preparava uma nova seleção para a Confederações e para a Copa, que se aproximavam. E não teve dúvidas em escolher Fred para «9».

2013 foi o ano da confirmação de Fred na «canarinha», ao empurrar o Brasil para o título da Confederações. Mas no Flu o ano não foi como o anterior. Em julho, numa partida com o Vasco para a oitava jornada do Brasileirão, foi expulso por agressão e levou castigo pesado. Em dezembro, o Flu desceria em campo, passando de campeão em título a despromovido, num só ano. Valeria, no entanto, o «caso Portuguesa» para que a descida não se consumasse.

Mesmo com o Flu em dificuldades, Fred continuou a somar conquistas individuais, com os seus golos: um tento frente ao Horizonte, numa goleada de 5-0 em abril passado, colocou-o como segundo melhor marcador de sempre da Taça do Brasil.

B.I.

FREDederico Chaves Guedes
Idade: 30 anos
Data de nascimento: 3 de outubro de 1983

Naturalidade: Teófilo Otoni – Minas Gerais
Altura: 1,85 metros
Peso: 84 quilos
Percurso como jogador: América Mineiro (2001-2004), Cruzeiro (2004-2005), Lyon (2005-2009), Fluminense (2009-2014)
Títulos conquistados: Taça das Confederações (2013), Copa América (2007), títulos brasileiros (2010 e 2012), três títulos franceses (2005/06, 06/07 e 07/08), Taça de França (07/08), dois estaduais mineiros (2001 e 2004), estadual carioca (2012)
Marcas individuais: craque do Brasileirão (2012), melhor marcador Brasileirão (2012); melhor avançado do Brasileirão (2011)


«Mundo Brasil» é uma rubrica que conta histórias das experiências de jogadores e treinadores brasileiros que atuam ou já atuaram em campeonatos espalhados pelo globo