Num Brasil ainda a recuperar do choque do «mineirazzo» (1-7 com a Alemanha nas meias-finais do Mundial), há um novo «9» a afirmar-se na canarinha.

Diego Tardelli, 29 anos, avançado do At. Mineiro, aproveitou a vaga deixada pelo abandono de Fred (que decidiu colocar ponto final na sua história na seleção do Brasil) e passou a ser a opção principal de Dunga para «centroavante» do escrete.

Com um percurso feito essencialmente no futebol brasileiro (as exceções foram passagens fugazes pelo Bétis e pelo PSV, em fase inicial da carreira, e as experiências no Qatar e na Rússia), há quem considere que falta «estofo internacional» a Tardelli para que consiga assumir-se como opção indiscutível na canarinha.

A verdade é que, aos 29 anos, Tardelli não será, talvez, aposta que dure até ao próximo grande objetivo do escrete: o Mundial da Rússia, em 2018.

Miguel Lourenço Pereira, analista de futebol internacional, comenta ao «Mundo Brasil» da Maisfutebol Total: «Ao avançado do Brasil vai-se pedir sobretudo que jogue sem bola e apareça em momentos chave. Durante os próximos quatro anos os rivais europeus não serão o problema de Dunga e quando chegar o Mundial da Rússia, o seleccionador seguramente que esperará ter outro avançado titular mais novo, que pode vir a ser Ademilson ou o próprio Luiz Adriano. Nesse sentido, o «handicap» europeu é menor».

Neymar trata dos golos?

Apesar de bom registo de golos na sua carreira, Tardelli vir a ser um «9» pouco goleador no escrete, tendo em conta a presença de Neymar: «A escassez de avançados de nível no Brasil leva Dunga a provar opções que estão longe do patamar exigido da canarinha. Tardelli é hoje para ele o que foi Fred e Jô para Scolari, e Damião numa primeira etapa. Jogadores que estão longe de serem avançados de top ao nível de Careca, Bebeto, Romário, Ronaldo ou Adriano. Há pouco por onde escolher e, inevitavelmente, o golo no Brasil virá de Neymar como tem sucedido», observa Lourenço Pereira.

Móvel mas a precisar de espaço

Diego Tardelli já somou 108 golos no somatório das duas passagens pelo Atlético Mineiro (73 na primeira passagem, 35 na atual, num total de 214 jogos), um pecúlio que lhe confere boas credenciais concretizadoras.

O Galo foi, claramente, onde Tardelli mais foi feliz, mas no São Paulo o registo também é de enaltecer: 39 golos em 138 jogos.

Mesmo assim, o novo «9» do Brasil não é, propriamente, um animal de área, daqueles concretizadores natos que dão garantias antecipadas de resolverem.

Será, bem mais, um «avançado móvel, que precisa de espaço», observa Lourenço Pereira. «Tardelli é um jogador que se move bem dentro da área mas que está habituado a ter mais tempo e espaço no futebol sul-americano do que teria noutro contexto. Sofreria muito com uma marcação ao homem à italiana ou uma boa defesa zonal à holandesa, que lhe tirariam o tempo e o espaço para pensar. Dentro do contexto atual do Brasil (Olimpíadas, Copas Américas) pode encaixar no perfil, mas Luiz Adriano tem outro perfume que seria mais vantajoso para poder conetar com Neymar e Oscar, as verdadeiras pedras angulares do Brasil atual».

Tardelli, sim, como o ídolo italiano

Tardelli não é nome de família: é mesmo o segundo nome próprio do atacante do Mineiro.

O pai de Diego tinha como grande ídolo o craque italiano Marco Tardelli, esse mesmo, um dos heróis do título mundial obtido pela Itália, em 1982 (até apontou um golo na final com a RFA), hoje adjunto de Trapattoni na seleção irlandesa.  

TARDELLI, O ITALIANO, NA FINAL DO MUNDIAL-1982





Mais que goleador, um torcedor do Galo

A relação de Diego Tardelli com o At. Mineiro vai muito para lá do vínculo profissional.

Goleador de referência do Galo nos últimos dois anos, tem contrato até 2017 e já assumiu: «Mais do que atleta, sou torcedor do Galo. Mesmo quando não estive aqui, sofria por este clube.»

O GRANDE ANO DE TARDELLI NO GALO





2013 foi um grande ano para Diego Tardelli. Festejou o título sul-americano, tendo sido um dos melhores jogadores do Atlético Mineiro na prova, segundo melhor marcador da competição, com seis golos.

MAIS DE CEM GOLOS PELO AT. MINEIRO





A primeira passagem pelo Galo

O maior momento da carreira de Tardelli foi vivido no ano passado, na segunda passagem pelo Mineiro, com o título da Libertadores 2013 (no primeiro, em 2005, pelo São Paulo, estava ainda em fase de afirmação e não tinha o peso no tricolor que tem hoje no Galo).

Mas o atacante tinha tido já uma primeira passagem pelo Atlético Mineiro, entre 2009 e 2011, com muitos golos a colorir a sua contribuição.

Vindo do Flamengo, Tardelli fez dupla com o ex-benfiquista Eder Luís e levou a melhor sobre Fred no estatuto de melhor avançado do Brasileirão, nesse ano de 2009.

No ano seguinte, 2010, fez dupla com Obina e os golos que marcou foram decisivos para a conquista do estadual mineiro.

Mas o maior momento da primeira passagem de Tardelli no Galo aconteceu em 2011, quando, em Fevereiro, no eterno clássico mineiro entre Cruzeiro e Galo, o avançado do At. Mineiro aplicou três golos ao rival.

Augúrio para os dois duelos que se aproximam entre Galo e Raposa, na final a duas mãos da Copa do Brasil?


OS TRÊS DE TARDELLI AO CRUZEIRO, EM 2011:





O escrete, pela mão de Dunga

Esta aposta de Dunga em Tardelli não é nova: em 2009, na primeira vez que o agora sucessor de Scolari comandou o escrete, Tardelli foi chamado, na sequência dos golos e boas exibições no At. Mineiro.

Estreou-se frente à Estónia, cumpriu jogos da qualificação para o África do Sul-2010, ainda participou em particular com os EUA, no pré-mundial, mas acabou por não constar nos 23 finais para o mundial.

Quatro anos depois, regressou ao escrete e agora com estatuto de primeira opção para «9».

Fez parte da primeira convocatória de Dunga (em agosto, para jogos com Colômbia e Equador) e apontou os dois golos da vitória brasileira diante da Argentina , no SuperClássico das Américas, realizado na China, em outubro passado.  

OS GOLOS DE TARDELLI À ARGENTINA:




B.I.

TARDELLI
Nome: Diego Tardelli Martins
Data de nascimento: 10 de maio de 1985 (29 anos)
Naturalidade: Santa Bárbara d’Oeste (Brasil)
Posição: Avançado
Altura: 1,80 metros
Peso: 72 quilos
Percurso nos clubes: São Paulo (2003-2005 e 2007), Bétis, Espanha (2005-06, cedido pelo São Paulo), PSV Eindhoven, Holanda (2006-07), Flamengo (2008), Atlético Mineiro (2009-11 e 13-14), Anzhi, Rússia (11-12), Al-Gharafa, Qatar (12-13)
Percurso nas selecções : mundial sub-20, Holanda-2005 (terceiro lugar) ; nove jogos, dois golos pela seleção principal
Marcas relevantes: Libertadores 2005; Libertadores 2013; Brasileirão 2007;  título holandês 2007; estadual mineiro 2010 e 2013; estadual paulista 2005; estadual carioca 2008; melhor atacante do Brasileirão (2009), melhor marcador do Brasileirão (2009)