Abanou o mundo do ciclismo quando venceu, em 2013, o Campeonato do Mundo de Estrada. Em vésperas do Critérium du Dauphiné, prova de antecâmara do Tour, Rui Costa conversou com o Maisfutebol. O melhor ciclista português da atualidade fez um balanço da época e falou sobre o que é possível esperar para a Volta a França e para os mundiais de estrada, que decorrem em setembro nos Estados Unidos.

Trocou há um ano e meio a equipa Movistar pela Lampre. Que balanço faz desta nova etapa da carreira?
Muito bom. A equipa tem-me acompanhado em tudo o que tenho necessitado e os meus companheiros têm estado à altura. Entrei na Lampre com a camisola de campeão do mundo. Foi uma responsabilidade enorme, mas acho que estive à altura disso. Fui muito profissional durante todo o ano passado e este ano não está a ser diferente. Tenho dado sempre o meu melhor e estado perto dos pódios. No Paris-Nice empatei com o segundo posto…

E acabou por ficar em quarto.
É complicado, por milésimos… Depois, no País Basco foi muito importante ter terminado nos dez primeiros da geral. É uma prova sempre muito dura. Este ano só não estiveram lá o Froome e o Contador, mas de resto estavam lá todos os líderes de todas as equipas. Foi um top 10 que soube praticamente a uma vitória.

Bons resultados, mas ainda não ganhou uma prova.
Penso que isso está mais relacionado com o facto de estar a liderar uma equipa. Tenho de ser honesto e dizer que, seja em corridas de uma semana ou em clássicas, cada vez é mais difícil ganhar. Mas quando se ganha, ganha-se aos melhores.

Não está a ser uma época aquém de outras?
Se as pessoas averiguarem o ranking mundial, dá para ver a regularidade que tenho tido durante toda esta fase da temporada. Se for ver, no Paris-Nice foi tudo por milésimas. Nas clássicas, são coisas de um/dois metros. Um sprint na parte final onde estão ciclistas mais explosivos. É certo que não ganhei, mas estou em 6º no ranking mundial. Por esta altura, no ano passado talvez não estivesse nos primeiros dez.

Sente que passou a haver uma marcação maior por parte dos outros ciclistas desde 2013?
Desde que fui campeão do mundo, as marcações passaram a ser maiores, sim. Pela visibilidade da camisola. Mas foi um orgulho enorme poder andar com aquela camisola durante um ano.

A camisola arco-íris pesa muito?
Não pesa, mas dá-nos a responsabilidade de fazer sempre bem e melhor. Sabemos que quase todas as câmaras estão focadas em nós e temos medo de errar. Mas é com os erros que aprendemos.

É mais difícil ser-se Rui Costa em 2015 do que antes daqueles mundiais em 2013?
É distinto. Como disse, agora sou mais conhecido, mais marcado e é cada vez mais difícil ganhar. Os outros atletas estão mais de olho.



Foi fácil vestir a pele de chefe de fila quando trocou a Movistar pela Lampre no final de 2013?
Quando fui para a Lampre, tive como objetivo principal poder liderar. Saí da Movistar porque ali não tinha espaço para eu poder liderar a equipa em grandes provas. Havia o Valverde, o Quintana e eu estava talvez mais atrás. Na Lampre deram-me a oportunidade de liderar a equipa em praticamente todas as corridas em que entro.

Venceu a Volta a Suíça nos últimos três anos, mas nesta época optou por ir ao Critérium du Dauphiné [prova decorre entre 7 e 14 de junho]
. Fê-lo a pensar no Tour?
Foi um pouco. Este ano pensámos que talvez fosse melhor optarmos pelo Dauphiné para não chegar tão espremido ao Tour.

Quais são os grandes objetivos para o Tour?
Prefiro não fazer prognósticos. O início vai ser muito complicado. A primeira etapa é numa zona muito ventosa e vai ser uma corrida muito aberta, uma loucura. E, depois, na entrada na Bélgica. as condições das estradas são complicadas: estradas estreitas, depois estradas largas, a chegada ao Mur de Huy [n.d.r.: etapa com rampa de 19% de inclinação no último quilómetro], depois entramos em França onde vamos ter a mítica etapa dos pavés. A primeira semana do Tour vai ser muito complicada.

Quais são os grandes favoritos para a vitória no Tour?
São sempre os mesmos [risos]. O Contador, o Nibali, o Christopher Froome, o Valverde e o Quintana. Depois há uma série de franceses que podem lá estar.

Inclui-se nesse lote?
Eu gostava muito de terminar um Tour no top 10. Mas vou dia-a-dia, sem criar expetativas e sem meter pressão sobre mim.

O que lhe tem faltado para ficar no top 10?
Ainda só tive o ano passado para tentar fazer melhor. Devido ao problema da broncopneumonia não pude fazer mais. Mas se contabilizarmos a primeira semana, em que penso que estava na minha condição normal, estava dentro do top 10. Vamos aguardar e esperar que este ano a sorte esteja mais do meu lado.

Há dois anos venceu duas etapas no Tour. É certo que agora é chefe de fila e tem outro estatuto dentro do pelotão, mas é possível ver o Rui a ter aquela liberdade para atacar?
Se estiver a lutar pela classificação geral e estiver muito perto dos primeiros, certamente que é muito complicado ir para uma fuga.

É fácil ser chefe de fila de uma equipa italiana do ProTour?
É fácil. Os italianos são boas pessoas, pessoas simples. Temos um grupo muito bom, muito unido. É muito parecido com o ambiente que tinha na Movistar. Mas ser líder de uma equipa ProTour e liderá-la nas grandes corridas mundiais não é fácil. É uma grande responsabilidade ter grupo a trabalhar para mim. Tenho sempre feito o meu melhor para rematar o trabalho deles.

Imagina-se a repetir este ano a vitória nos mundiais de 2013?
Trabalhando e com uma ponta de sorte, porque também é preciso isso, tudo é possível.

Mas o objetivo passa pela vitória?
O meu objetivo é dar sempre o meu melhor e estar na frente. Não faço corridas de preparação para outras. Faço sempre o meu trabalho de casa da melhor maneira. São muitas horas em cima da bicicleta, muito suor.

Está a prometer um Rui Costa de ataque para o Dauphiné?
Depende da condição em que estiver e da própria corrida, mas normalmente leio muito bem a corrida e, se tiver de atacar, vai ser pela certa.