Rui Vitória fez toda a carreira de jogador em Portugal, treinou vários anos no país, mas em 2019 embarcou numa aventura para a Arábia Saudita, ao serviço do Al Nassr, e de lá para cá tem trabalhado sempre no estrangeiro.

Depois dos sauditas, foi para o Spartak de Moscovo e mais recentemente esteve ao serviço da seleção do Egito. Numa conferência organizada pela Universidade Lusófona, enalteceu a experiência que obteve ao trabalhar fora de Portugal.

«Saí de Portugal a não saber metade do que sei hoje. É a experiência que nos vai dando conhecimento. Saí daqui aos 47 anos e descobri um mundo completamente novo. Com diferentes realidades e modos de ver a vida, é preciso ter a capacidade de adaptação, perceber imediatamente o contexto e estar sempre atento a tudo», afirmou, citado pela Lusa.

«Atualmente, o treinador tem de tomar decisões com um impacto tremendo na parte financeira de uma instituição e tem de dominar uma série de áreas, daí a importância de ter uma equipa técnica de qualidade. Temos de liderar jogadores, a equipa técnica, departamento médico, de comunicação, logística, etc., e ainda a administração, o que, por vezes, é o mais complicado. Tocar nestes aspetos todos não é fácil. Tem de se ter essa arte de gestão e rodearmo-nos bem», prosseguiu o antigo técnico do Benfica, antes de confessar que pede um relatório exaustivo antes de contratar um jogador.

«Perceber as características de um jogador é determinante. Eu peço logo um relatório exaustivo de cada jogador. Se é muito novo e já tem um carro topo de gama, se tem 23 anos e já tem dois filhos, quem já se divorciou uma série de vezes… Eu gosto de saber todas essas informações para perceber que tipo de pessoa eu tenho à frente. Nós não devemos tratar todos por igual, devemos é ter as mesmas decisões para todo o grupo. Não há nenhum problema em tratar jogadores de maneira diferente.»

Sobre o campeonato português, Rui Vitória frisou a consistência do Sporting: «Não temos a luta que, se calhar, gostaríamos agora nesta fase final, de mais equipas a poder disputar o título, mas está um campeonato interessante, com a cauda da tabela a ser uma luta até final. Assisti este ano a equipas a praticar bom futebol durante certo período e depois a passar o testemunho a outras, não mantendo a consistência, com o Sporting a manter sempre uma qualidade forte e uma grande consistência.»

Por último, o treinador de 54 anos admitiu que é provável que o próximo projeto seja no estrangeiro.

«É uma realidade estar agora a treinar no estrangeiro e estou convencido de que pode voltar a acontecer isso com muita possibilidade. Tem havido conversações, mas, nesta altura, tem a ver fundamentalmente com sentir que quero ir com o que me oferecem. Tem de haver uma combinação entre o que oiço e o que quero no momento», atirou.