PAOK, Benfica? Abdel Sattar Sabry. Ou, como diria Pedro Jorge da Cunha, o driblador de pirâmides. No lançamento do jogo desta quinta-feira, fomos ao encontro de uma personagem ímpar na história do futebol português.

Em 1999, fazer um bom jogo frente ao Benfica era meio caminho andado para garantir um contrato com a formação encarnada. Foi o que aconteceu a Sabry na segunda eliminatória da Taça UEFA.

A equipa portuguesa venceu em Salónica (1-2, golos de Nuno Gomes e Ronaldo) mas sofreu intensamente no Estádio da Luz. O PAOK devolveu o resultado, com o egípcio a confirmar o cenário de reviravolta – após um tento inaugural de Kandaurov e a resposta de Marangos – na cobrança exemplar de um livre direto.


O malogrado Roberto Enke brilhou no desempate por castigos máximos. O Benfica seguiu em frente mas decidiu que iria buscar a melhor arma do adversário: Sabry. Machairidis também veio no pacote, mas ainda não foi possível descortinar porquê.

«Fiz grandes jogos frente ao Benfica e tenho de agradecer ao PAOK por essa altura. Se não fosse isso, não teria ido para o Benfica. Marquei um golo a Robert Enke, na Luz, e poucos meses depois estava a ser apresentado», recorda o antigo jogador.

Aos 39 anos, Abdel Sattar Sabry é treinador-adjunto da seleção nacional do Egito. Desempenha o cargo desde o início de dezembro. Fala com alegria do outro lado da linha, num inglês de difícil compreensão. Pelo meio, breves palavras em português.

«Vou estar dividido neste jogo, mas o Benfica é superior. Costuma estar na Liga dos Campeões, tem uma equipa forte e joga mais que o PAOK.»

A comunicação entre o ex-jogador e a  Maisfutebol Total não foi fácil, mesmo recorrendo à segunda língua mais falada no país árabe. Esse terá sido, aliás, o grande problema do esquerdino em Portugal. É o que Sabry tenta explicar, pelo menos. José Mourinho foi mais longe.


«Sabe, o grande problema para mim era a comunicação. Não sabia bem o que Mourinho queria. Para além disso, muitos queriam o Sabry a falar português, poucos falavam inglês», explica o faraó, revelando: «Tudo isso passou, aconteceu nessa altura mas agora sou grande amigo do José Mourinho».

A transferência de Mohamed Salah para o Chelsea aproximou ainda mais as partes. Tanto que o adjunto da seleção egípcia pretende visitar o jovem e Mourinho a breve prazo. «Quero visitar o Salah e dar um abraço ao Mourinho, ver treinos dele, também para aprender. Conto ir a Inglaterra em abril ou maio.»

Antes, porém, Sabry quer passar pelo Estádio da Luz. Uma oportunidade proporcionada pela chegada de Shikabala ao Sporting. «Grande, grande jogador! Agora lesionou-se e acho que vai estar um mês de fora. Mas no final de março vou a Portugal falar com ele e aproveito para ir à Luz.»

«Tenho muitas saudades do Estádio da Luz, daquilo tudo vermelho, cheio de gente. Espero também encontrar o Rui Costa, grande número 10. Agora é diretor no Benfica, não é?» É sim.

 
A Maisfutebol Total vai colando as expressões soltas de Abdel Sabry. O driblador de pirâmides fala em João Vieira Pinto, em Nuno Gomes, em Eusébio. Reforça as saudades de Lisboa e do Benfica. Dos adeptos do Benfica.

Pelo caminho, recorda o golo apontado ao Sporting na penúltima jornada de 1999/2000. A festa do título para os leões adiada. «Foi ao Peter Schmeichel, em Alvalade. Foi um belo golo».

Essa meia época ficou na retina dos adeptos do Benfica. Sabry marcou por cinco vezes (não só ao Sporting mas também ao FC Porto) em treze jogos, deixando várias promessas no ar.

Na temporada seguinte, não confirmou as expetactivas. José Mourinho arrasou publicamente o egípcio, saiu entretanto mas o estado de graça era coisa do passado. No final de 2001/02, com apenas 4 golos em 29 jogos, sai para o Marítimo. Ainda passa pelo Estrela da Amadora, sem o mesmo sucesso. 

Ainda assim, deixou saudades por cá. Despede-se com «um abraço», um bom português. Outro.