Ter um coliseu como o Santiago Bernabéu coberto com um rosto não é para todos: mas Ronaldo também não é qualquer um.

O português conseguiu um feito raro, num clube difícil, cheio de influências e divisões: uma manifestação que contagiou todos os adeptos no jogo com o Galatasaray. O Maisfutebol foi por isso saber quem esteve por detrás da homenagem.

Chama-se Ivan Matamoros, tem 35 anos e é sócio do Real Madrid há 20: sócio compromissário, corrige. «Tenho lugar nas assembleias gerais que tomam decisões em relação ao futuro do clube.»

É também presidente da Associação Primavera Blanca, uma associação que não é uma peña como as outras porque não tem estatuto jurídico. «Somos uma associação de sócios e adeptos.»

Foi um português que os juntou, de resto.

«Decidimos fundar a associação há uns meses quando sentimos que havia um ataque desmesurado e injustificado a Mourinho da parte da imprensa. Fundámos a associação para defender o madridismo, os valores do Real Madrid e o estatuto de Mourinho como treinador.»

Hoje a associação tem 1400 sócios, apenas 400 dos quais são sócios do Real Madrid. «Temos gente de todo o lado, de Espanha, Portugal, Colômbia, México, até da Índia.» Foi esta gente que decidiu levar a frente uma massiva manifestação de apoio a Cristiano Ronaldo.

«Por que o fizemos? Sobretudo quisemos fazer-lhe uma homenagem pelo que tem feito ao longo de cinco anos no Real Madrid: pelo que tem jogado, mas também pela forma como se integrou na cidade e nos valores do clube. Quisemos dizer-lhe que é o melhor do mundo», referiu Matamoros.

«As homenagens não devem fazer-se apenas quando um jogador se retira: devem fazer-se quando um jogador o merece. Cristiano Ronaldo há muito merecia esta manifestação de carinho.»



«Decidimos fazer-lhe esta homenagem na terça ou quarta-feira da semana passada: antes do jogo com o Almería. No sábado tínhamos tudo pronto: a tarja, o cântico e as 45 mil máscaras com a cara de Ronaldo. Infelizmente ele lesionou-se e não pôde jogar, mas não podíamos adiar.»

Ivan Matamoros revela de resto que o Real Madrid não teve nada a ver com a homenagem. « Apoio financeiro? Nada, zero. Apoio logístico também zero. A única coisa que o clube fez foi autorizar a homenagem e abrir-nos as portas mais cedo para a instalação dos artigos da homenagem.»

A Associação Primavera Blanca preparou de resto a manifestação, fez a tarja enorme, encomendou as 45 mil máscaras, criou o cântico «Ronaldo Bola de Ouro» e arranjou os voluntários que prepararam o Santiago Bernabéu.

Mas a ideia não foi dela: foi das peñas La Clasica e Barajas. «Eles foram os ideólogos e pagaram todos os custos da homenagem. Quanto custou? Não sei, mas foi seguramente muito dinheiro

Ivan Matamoros garante que valeu a pena: ver o Bernabéu como ele estava não tem preço.

«Foi um grande apoio. Sobretudo porque aconteceu numa zona do estádio que não está habituado a fazer estas coisas: a superior norte. Geralmente é a superior sul, onde estão os ultras, que faz estas manifestações e prepara coreografias. Nós fizemo-lo na superior norte e teve uma adesão fantástica.»



Matamoros recorda sobretudo o minuto 77, quando toda a gente colocou a máscara e cantou «Ronaldo Bola de Ouro».

«No fim toda a gente levou a máscara para casa e houve até adeptos que vieram pedir-me mais máscaras para levar para os filhos ou para os netos. Quando fomos fazer a limpeza, não havia máscaras no chão. Isso prova o carinho que toda a gente tem pelo Cristiano.»

E ele agradeceu?

«Pessoalmente não. Agradeceu pelas redes sociais. Mas não precisava de o fazer: não há melhor agradecimento do que continuar a fazer golos e a vestir a camisola do Real Madrid.»

Esta não foi a primeira vez, de resto, que a Associação Primavera Blanca apoiou um português: quando Mourinho estava em Madrid, e a associação sentia que havia uma perseguição da imprensa ao treinador, fez um abaixo assinado para o clube proibir os jornais Marca e As de fazerem promoções com produtos oficias do clube. Missão essa que Matamoros diz ter sido bem sucedida.

Desta vez a investida teve uma repercussão incomparável. O que levanta uma questão: será que a pressão vai fazer efeito?

«Isto não foi uma forma de pressão», corrige Matamoros. «Todos sabemos como a atribuição da Bola de Ouro funciona. Tudo depende dos interesses da FIFA e da France Football e não me parece que esses interesses sejam pressionáveis.»

«Só quisemos demonstrar o nosso carinho ao Cristiano Ronaldo e dizer-lhe que, aconteça o que acontecer na Gala da FIFA, ele será sempre o Bola de Ouro para nós.»