Precisamente um mês após a final do Campeonato da Europa, vencida por Portugal, o MAISFUTEBOL publica uma entrevista com José Fonte, um das figuras da inédita conquista da equipa das quinas. O central chegou à Seleção apenas aos 30 anos, mas ainda a tempo de assumir papel relevante num trajeto histórico, conquistando a titularidade a meio da prova, numa afirmação que espelha uma carreira construída a pulso, da terceira divisão inglesa ao título europeu em apenas seis anos.

 

No excerto da entrevista abaixo publicado, o central recorda o percurso da equipa das quinas na prova francesa: das críticas à glória nos pés de Éder, sem esquecer a lesão de Cristiano Ronaldo na decisão.

 

Qual foi a chave para que, desta vez, a festa tenha sido mesmo portuguesa?

Acredito que foi o espírito de equipa que conseguimos criar. Conseguimos criar uma grande união, uma grande amizade, e todos acreditámos que podíamos ganhar. E quando assim é, quando temos grandes profissionais a trabalhar diariamente, a tentar melhorar diariamente... Foi um mês e meio muito especial. Estávamos bem preparados, e acima de tudo com grande espírito de equipa e grande união.

E que influência no grupo teve aquela declaração de Fernando Santos, que garantiu que só voltaria para casa no dia 11 de julho, e em festa?

O mister andava a dizer isso desde o primeiro dia em que chegou. Nós estávamos convencidos de que era possível chegar longe e que era possível ganhar. O mister teve uma forma incrível de demonstrar isso, e felizmente não estava enganado. À medida que íamos avançando na fase a eliminar a crença tornava-se maior, mas desde o primeiro dia que o mister passou essa mensagem, e nós começámos a acreditar muito, até pelas sete vitórias seguidas na qualificação.

As críticas passaram ao lado do grupo ou foram canalizadas como motivação?

Não afetou minimamente. Passou completamente ao lado. Não precisávamos dessa motivação. Tínhamos o nosso plano e conseguimos o título. O mais importante é ganhar. Se as pessoas acham que jogamos bem ou mal, não nos interessa muito. Claro que queremos ganhar 7-0 todos os jogos, mas nem sempre é possível. E o importante é ganhar. O objetivo foi alcançado. Não ligámos às críticas.

O grupo estava dentro do espírito daquele cântico do «pouco importa, pouco importa..»....

Não. Nunca nos importámos. Nunca houve nenhuma conversa sobre isso, se jogávamos bem ou mal...

Sentiam que o plano estava a ser cumprido, portanto?

Sentimos que era o plano certo para ganhar o Euro: defender bem e não sofrer golos, porque oportunidades íamos sempre conseguir criar. Com mais ou menos pose de ola, dependendo dos adver´sarios, fomos conseguindo o que queríamos. Não nos afetou mininamenente, sabíamos o que queríamos.

Qual o momento em que pensam: “podemos mesmo ganhar isto”?

Para mim foi quando eliminámos a Polónia nos penáltis. Claro que vencer a Croácia com um golos nos últimos minutos deu uma grande força à equipa, mas os penáltis contra a Polónia foram o momento em que passámos a acreditar com tudo.

Mas depois ainda há aquele momento que terá abanado essa convicção, que é a saída por lesão do Cristiano, na final, em lágrimas....

Com toda a honestidade, para mim foi ao contrário. Deu ainda mais força e concentração para conseguirmos o objetivo. É óbvio que é sempre complicado perder o melhor do mundo, mas fez unir ainda mais a equipa. Vi os meus colegas ainda mais empenhados, se é que era possível estar ainda mais. Cerrámos os dentes e fomos à luta. A lesão do Cristiano não abanou a equipa, motivou-a ainda mais.

Já teve oportunidade de ver aquelas imagens de Cristiano Ronaldo nos minutos finais, a dar indicações ao lado de Fernando Santos, junto à linha?

Vi algumas imagens...Estávamos nos últimos minutos, prestes a ganhar o Europeu. A ansiedade era enorme para quem está de fora. Não vi ali qualquer problema. Era ansiedade, nervosismo, vontade de ajudar.

Conquistado o título, o José chega à zona de entrevistas rápidas e diz, da forma mais genúina possível, que «ainda por cima foi com um golo do Éder». Que simbolismo teve ser ele o autor?

Tínhamos perdido o Cristiano logo no início do jogo, o que foi extremamente dificil mas serviu para unir a equipa e cerrarmos ainda mais os dentes, como já disse. E quando o Éder entrou a equipa toda disse que era ele que ia fazer o golo. Por todas as critícas, por tudo o que passou na Seleção...merecia mais do que ninguém. É um rapaz extraordinário e um grande jogador. Tem muita qualidade. Talvez ainda não o tenha conseguido mostrar por completo na Seleção, mas acredito que depois desta grande dose de confiança não há motivos para não mostrar essa qualidade, como tem mostrado no seu clube em França. Acredito que vai ser o grande pontapé de saída da sua carreira.

O Éder que revelou (em entrevista ao programa «Alta Definição», da SIC), que era o José Fonte que escolhia as músicas que a equipa ouvia. O José foi também um dos jogadores mais solicitado pelos responsáveis da FPF para falar à comunicação social. Isto é também sinal de um protagonismo crescente não só dentro do campo, como também no balneário, dentro do grupo?

É o culminar de muitos anos, de muita experiência já adquirida. É algo que sai com naturalidade. Não tenho problemas em falar, em expressar as minhas ideias. É algo que acontece com normalidade. O grupo já me conhece, muitos colegas já conhecia anteriormente. Sou um dos mais velhos e há que dar o exemplo, indicar o caminho. É com normalidade que isso acontece.

O José já conhecia o Cristiano, que é o capitão. Foram colegas na formação do Sporting. Isso também ajudou?

Sem dúvida. Mas conhecia não só o Cristiano, como o Quaresma e muitos outros. Ajudou na integração inicial e agora no Europeu, pois um mês e meio fechado não é fácil. Criámos um grande espírito de grupo, que foi importantíssimo.

 

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