Rui Águas, selecionador de Cabo Verde, depois da vitória sobre Portugal (2-0), num jogo particular realizado no Estádio António Coimbra da Mota, no Estoril:

[O que disse aos jogadores antes do jogo?]
O que disse aos jogadores foi que jogasse quem jogasse ia ser sempre difícil. Não jogou a equipa principal, mas jogaram jogadores de qualidade, basta ver os clubes onde atuam, quatro eram titulares no Sporting e os outros também são titulares em grandes clubes. O mais importante, portanto, somos nós. Jogámos como temos vindo a jogar, se calhar não tão bem por aquilo que este jogo significava. Se calhar para Portugal nem tanto, mas para Cabo Verde e para os jogadores este jogo significava muito. Não foi uma exibição tão boa como as que fizemos nas CAN, mas com um pouco de felicidade que nos faltou lá.

[Cabo Verde estava muito motivado para este jogo?]
Motivação excessivamente alta. A equipa portuguesa também na oportunidade que significava para os mais jovens. Motivação não faltaria a ninguém. A nossa equipa sabia que ia ser forte, embora do outro lado estivessem grandes valores. A seleção tem crescido nestes últimos anos, a experiência cresce e a qualidade também. Em Cabo Verde não contamos com o percurso de jogadores como, por exemplo, Bernardo Silva, têm em Portugal. É um bocadinho contornar essa limitação que procuro compensar. Há uma melhoria grande a fazer nesse sentido, uma linha de evolução. É uma luta que nós queremos ganhar.

[É um vitória histórica para Cabo Verde e uma vitória estranha para si?]
À partida claro que é estranho, para quem é português e jogou na seleção portuguesa, é um bocadinho estranho, mas a vitória, com um pedido de desculpa aos meus compatriotas, deixa-me muito contente. É algo que nunca tinha evidenciado, o carinho que as pessoas em Cabo Verde têm pela seleção. É um país que vive tanto a seleção como os clubes que não têm tanta expressão como os nossos.

[Como viu a seleção portuguesa?]
Muita qualidade. A seleção que ganhou à Sérvia, no decurso destes dois/três anos, tem de ser mudada. Ainda hoje vi a seleção de sub-20 e Portugal tem muitos jogadores de qualidade. Claro que não há novos Cristianos Ronaldos todos os dias, mas não falta qualidade. Hoje também vimos qualidade, não vimos golos, mas vimos qualidade no toque, na receção.

[Esperava jogar com esta seleção ou estava à espera de defrontar Cristiano Ronaldo?]
Desde o início que sabíamos que era difícil, sabíamos que Portugal jogava antes com a Sérvia e imaginámos desde logo que não íamos ter a equipa toda.

[A catástrofe com o Vulcão também ajudou a ter uma equipa mais solidária?]
Mesmo antes da erupção do vulcão, já sabíamos que a seleção para os cabo-verdianos é muito importante. É essa a mensagem que tentamos passar. Há cabo-verdianos em toda a parte do Mundo, um pouco como os portugueses, é gente que sofre, que trabalha e que gosta da seleção.

[Vêm aí eleições na federação de Cabo Verde, já sabe como vai ser o seu futuro?]
- Não sei o resultado das eleições antes de elas acontecerem, mas o meu contrato é com a federação e não com o presidente Mário Semedo, de quem gosto muito. Tenho pena que abandone o cargo, espero que o seu sucessor esteja ao seu nível.