*Enviado-especial ao Euro 2016

Portugal empatou na estreia do Euro 2016, com a Islândia (1-1). Não fez uma má exibição, teve o maior número de oportunidades, mas foi traído por uma desconcentração e pela objetividade islandesa, que usou e abusou do jogo pelo ar, criando inúmeras dificuldades à Seleção.

Cinco, dez minutos de níveis intensos da Islândia, com a estratégia de sempre perante adversários que controlam melhor a bola: pontapé longo de qualquer lado, do guarda-redes, do lateral, de um dos centrais ou dos médios para o trabalho sujo de Sigthórsson e Bodvarsson. Essa missão obrigatória no sistema de Lars Lagerback significava ultrapassar zonas de pressão a meio-campo, ganhando todas as bolas possíveis mais perto da defesa contrária.

Foi assim por vezes que trilhou o seu caminho no apuramento, tentou-o frente a Portugal desde o pontapé de saída.

A melhor resposta

A este jogo aéreo mais direto – no qual Danilo, por exemplo, sentiu enormes dificuldades –, juntou uma pressão sobre a bola muito agressiva não deixando os portugueses virar-se para a baliza de Halldorsson e ainda uma defesa alta, roubando espaço a uma eventual fuga dos médios lusos dessa espartilhamento. Isso deu-lhes esse período de ascendente, até que Portugal percebeu o que tinha de fazer. Aquela paciência tantas vezes repetida nas salas de imprensa não se referia só ao não desesperar com o passar do tempo, mas também acalmar-se com a bola, construindo devagar, esperando a melhor oportunidade para surpreender os organizados vikings. Isto resultou num golo, de Nani, aos 31 minutos, muito bonito pela forma coletiva como foi construído, tendo a inteligência de André Gomes – que se mudara para a direita pouco depois do apito final, antes de voltar a trocar de flanco perto do intervalo –, a profundidade de Vieirinha e a boa movimentação de Nani para a finalização muito contribuído.

O jogo não começou, como já disse, nada fácil para a Seleção. A primeira oportunidade é dos islandeses, depois da tal pressão no miolo ter dado resultado: João Mário fez um passe na queima para trás, Pepe não conseguiu cortar a jogada e o talentoso Gylfi Sigurdsson trocou as voltas a Danilo antes de rematar (duas vezes) para defesa de Patrício.

O acumular de oportunidades

O jogo trabalhado dos portugueses conseguiu ir desmontando peça a peça a estratégia dos islandeses. Vieirinha (18) de longe, Nani de cabeça depois de excelente trabalho de Ronaldo (21) e também de André Gomes (22), e Cristiano Ronaldo (23) depois de cruzamento de Vieirinha e a falhar isolado na sequência de passe longo de Pepe (26) foram empurrando o adversário para a sua área.

E mesmo depois do golo, Portugal continuou a gerir os tempos para mais duas ou três jogadas interessantes. O mote estava dado para a segunda metade, em que Cristiano Ronaldo voltou a apontar à baliza logo de início (47) e falhou por pouco.

Do nada, veio o golo islandês. Gudmundsson, com o pé de dentro cruzou da direita, a defesa portuguesa estava toda mal posicionada, Vieirinha falhou, e Bjarnason, com a objetividade habitual, rematou de primeira para as redes (50). Vinha aí novo teste à resistência portuguesa.

Portugal voltou ao mesmo, ao jogo de paciência que lhe era exigido, mas desta vez os adeptos islandeses passaram a festejar cada corte como uma batalha ganha, motivando os seus soldados em campo para aguentar a barricada.

Mais energia, mas nórdicos seguros

Renato Sanches entrou para o lugar de Moutinho, Quaresma para o de João Mário e Éder, já mais perto do fim, substituiu André Gomes. Halldórsson encaixou alguns remates à figura, um daqueles que Cristiano Ronaldo não costuma falhar, de cabeça, Nani roçou o bis em várias ocasiões, mas o 2-1 não chegou.

A Islândia bem pode festejar o empate como se um triunfo fosse, para Portugal depois de tudo o que fez é meia-derrota. Segue-se a Áustria, no Parc des Princes, daqui a quatro dias.