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Nem tudo o que mudou, de Paulo Bento para Fernando Santos, será estrutural. 

No onze inicial frente à França houve seis novidades em relação ao Portugal-Albânia. 

Fábio Coentrão saiu porque está lesionado, Cristiano Ronaldo voltou porque estava lesionado em setembro. O mesmo sucedeu com Bruno Alves. Como Cédric também estava sem competir na altura do primeiro jogo de qualificação, nem a titularidade de João Pereira podemos dar como certa.

Na realidade, as alterações foram apenas duas. 

Em vez de William Carvalho, Fernando Santos recuperou Tiago . Na frente, também de volta, surgiu Danny em vez de Vieirinha. De resto, um titular de ocasião, face à ausência de Varela.

Sistema mudou

Fernando Santos estruturou a seleção no terreno exatamente como fazia Paulo Bento nos tempos do Sporting. Dois na frente, depois um nas costas, um à frente da defesa e os restantes dois médios um pouco mais tombados para os flancos.

O sistema mais fácil de entender e executar é o 4-3-3. Há anos que a seleção joga dessa forma. A França jogou assim, por exemplo. Tudo o que seja diferente disso é menos natural e requer mais trabalho. E sobretudo tempo, algo que não existe numa seleção.

A julgar pelo que disse este domingo,
Cristiano Ronaldo gostou e acha que jogar desta forma pode ser o início de grandes coisas para a seleção. Eu não fiquei entusiasmado e tenho até muitas dúvidas. Nem sequer acho que seja muito bom para Ronaldo. Mas compreendo por que gostou. Já lá vamos, que o capitão merece um capítulo próprio.

Desastre inicial

O sistema em que a seleção jogou foi de resto o principal responsável pelos primeiros 20 minutos em França. Foram 20 minutos péssimos, com a seleção mal colocada em campo.

Tiago era o «6», Moutinho jogava do meio para a direita e André Gomes do meio para a esquerda. À frente de ambos, Danny. Soltos no ataque, Ronaldo e Nani.

Quando a seleção perdia a bola, o que acontecia muitas vezes porque faltavam as referências na frente, a França soltava o lateral do lado em que se jogava, mais o médio dessa zona, Matuidi ou Pogba. A mobilidade dos três da frente fazia o resto. 

As situações de dois para um sobre os nossos laterais (Cédric e Eliseu) sucediam-se. Ambos apareciam como grandes culpados, mas a responsabilidade estava longe de ser apenas deles. As imagens falam por si. 


Visto assim até parece que está controlado, mas a bola está do lado da França e de repente...



Pepe estava fora da posição, Bruno Alves tentou enfrentar o homem da bola e Eliseu fechou. Fora da área, Pogba e Sagna gozam de imenso espaço. Que desarrumação...

Sem alas, Moutinho e André Gomes ficaram sistematicamente divididos. Se ajudavam na ala, abriam espaço junto a Tiago. Mais adiantados do que num 4-3-3, percorrendo outros espaços, Ronaldo e Nani nunca estavam no sítio certo quando a bola caía para a França. Danny estava apenas perdido, incapaz de ser útil a atacar e inexistente a defender. 


Desta vez são três para quatro, mas a iniciativa e a velocidade, aliadas à má colocação dos portugueses, permitem à França chegar à linha de fundo




Lá voltámos a cair no truque; Sagna, Valbuena e Griezmann juntam-se sobre a direita, Eliseu e Bruno Alves ficaram para trás. Moutinho, Tiago e André Gomes bem podem correr...

Na verdade, a situação nunca foi verdadeiramente resolvida, mas ficou menos evidente quando Portugal passou a ter mais bola e os laterais franceses tiveram de se preocupar um pouco em defender. Claro. Só que por essa altura o 1-0 já era um resultado muito bom.

Fernando Santos experimentou ainda dois outros sistemas. Com Éder e Quaresma, Portugal ficou apenas com dois médios. Foi quando sofreu o 2-0 e esteve à beira de encaixar o terceiro, por Matuidi. Talvez funcione em casa, frente a seleções frágeis, mas num jogo assim…

Por último, com João Mário em vez de Ronaldo, a seleção arrumou-se em algo parecido com o 4-3-3 natural. Vieirinha e Quaresma funcionaram como auxiliares dos laterais e o médio sportinguista tentou aproximar-se de um ponta-de-lança menos móvel, Éder. Seria injusto dizer que foi o melhor período, porque o adversário também estava menos forte. Mas foi o momento em que a seleção portuguesa esteve mais perto de não ser derrotada.

Cristiano Ronaldo

A seleção fez apenas dois remates em direção à baliza, ambos na segunda parte. Um foi de Ronaldo, de cabeça, a cruzamento de Nani (o melhor lance da equipa, de resto). O outro foi a grande penalidade de Quaresma, que deu golo.

Para uma equipa a perder desde os três minutos, dois remates é pobre, muito pobre. 

A exibição da seleção foi pobre. Foi mais um daqueles jogos sem baliza em que somos especialistas.

Mas acab por ser compreensível. Sem a vaga obrigação de estar num flanco, Cristiano Ronaldo jogou onde quis. Na verdade, quase não jogou. Andou muitas vezes no meio, onde havia sempre mais adversários e a dificuldade era maior. Nas duas ou três vezes em que dispôs de espaço e conseguiu dominar a bola, escorregou ou foi desarmado por Varane. 

O único momento de sol foi a tal cabeçada aos 51 minutos. Pulou muito mais do que Evra e deu o momento da noite ao guarda-redes Mandanda. A defender foi inexistente.

É claro que Ronaldo não é jogador de ficar amarrado na ala, certo. Mas alguma harmonia terá de existir. 

O que se viu em França foi fraco de mais, com os três da frente por vezes muito distantes uns dos outros e incapazes de incomodar a defesa francesa, apesar de Mangala ter ajudado, em dois ou três lances.

No losango de Paulo Bento, no Sporting, um dos lados era ocupado por Nani. Havia um «10» (que Danny não é) e dois avançados. Era algo completamente diferente. Apesar de no papel ser igual.

É evidente que Ronaldo é um jogador maior do que todos os outros e pode decidir jogos. Todos sabemos isso. Mas isso não significa que possa fazer o que lhe apetece.

Estratégia para a Dinamarca

A acreditar no que Fernando Santos disse após o jogo, o selecionador está convencido que o terror dos primeiros minutos está ultrapassado. Talvez.

Também sublinhou dois aspetos relevantes : o pouco trabalho defensivo dos jogadores da frente e o facto de muitas vezes terem pisado os mesmos terrenos. 

O selecionador gostou da circulação de bola (o jogo acabou 50/50 nesse aspeto), da reação e da atitude.

Tudo somado, parece claro que Portugal jogará neste sistema frente à Dinamarca.
O que não quer dizer que utilize com o mesmo onze.

Há coisas que não podem mudar. As laterais, por exemplo. Ivo Pinto e Antunes não oferecem, à partida, mais garantias do que os que jogaram. Mais vale não mexer e deixar Cédric e Eliseu. Se dois treinadores como Jesus e Fernando Santos olham para o benfiquista e veem um lateral esquerdo, o problema deve ser de quem não consegue lá chegar. Siga. 



Outra vez?!?!? Agora é Benzema com a bola e duas opções de passe, Valbuena e Sagna. Pobre Eliseu...

No centro da defesa, este Pepe e este Bruno Alves são óbvios. Pena não terem estado no Brasil.

A principal dúvida é a posição «6».  William Carvalho nasceu para o lugar. Até porque o jogo deverá ser mais físico, jogaria com o homem do Sporting. Mas manteria Tiago na equipa, assim como Moutinho e André Gomes. No meu plano inicial, o médio do Mónaco seria «10» e na frente estariam Ronaldo e Nani. Danny no banco.

Portugal terá sempre mais soluções do que a Dinamarca. Mas não vejo vantagem em entrar desequilibrado. William a «6» permite o envolvimento ofensivo dos laterais (aconteceu quatro ou cinco vezes na segunda parte). Moutinho a «10» garante que o jogo fica controlado e permite que André Gomes apareça mais perto da área, como sabe, gosta e ainda consegue.

Depois da derrota em casa com a Albânia, e dos últimos resultados, o Grupo I ficou incrivelmente aberto. Mas Portugal não pode entrar no jogo sob pressão, como quem acha que se não vencer tudo ficará em causa. Nada disso.
A única coisa que não pode acontecer é perder . Com Ronaldo e este Nani na frente, o desequilíbrio acabará por fazer-se. Se tudo o resto funcionar.