A ideia de que Portugal entra mal nas campanhas de apuramento para as grandes competições é um lugar-comum, nem por isso assente em factos. Entrar realmente mal é isto, o que aconteceu esta noite, em Aveiro: uma derrota, em casa, com a Albânia. É anormal, é raro, um dos piores resultados da história da Seleção Nacional. Como termo de comparação, basta recordar que Portugal não começava uma qualificação a perder há 38 anos. E o adversário tinha um estatuto bem diferente da Albânia.

A última vez foi a 16 de outubro de 1976, no arranque da campanha para o Mundial 1978, a televisão ainda era a preto e branco. Numa noite de dilúvio, a Polónia foi ao Estádio das Antas vencer por 2-0, num relvado alagado. José Maria Pedroto era o selecionador, Bento estreava-se na baliza de Portugal. Foi Lato quem marcou os dois golos da Polónia, aos 48m e aos 76 minutos. Assim:



A derrota caseira com a Albânia, 70ª classificada do ranking da FIFA, entra direta para o top dos resultados mais escandalosos da seleção, falando de jogos frente a adversários bem menos cotados. Comparável talvez à derrota no Luxemburgo em 1961 no jogo de estreia de Eusébio: 2-4 na qualificação para o Mundial 62. Ou ao 1-4 em Israel, em 1981, quando Portugal já estava afastado da corrida ao Mundial 82.

Entre outros resultados embaraçosos deste calibre contam-se o empate com Malta (2-2) no Funchal, em 1987, que comprometeu de vez a corrida ao Euro 88, o empate também a dois golos no Liechtenstein no caminho para o Mundial 2006, o nulo com a Albânia de 2010 (sim, há esse antecedente), ou o 4-4 de Guimarães frente ao Chipre, no arranque para o Euro 2012.

Aquele 0-0 de Braga em outubro de 2008, na qualificação para o Mundial 2010, significa que, nas últimas duas receções à Albânia, Portugal não conseguiu vencer. Mas nunca tinha perdido, como esta noite: o saldo em seis confrontos é de quatro vitórias, um empate e uma derrota.

É uma enorme proeza para a Albânia. Nunca tinha vencido uma seleção tão cotada como Portugal, atual 11º no ranking da FIFA. E esta é apenas a quinta vitória fora de casa da sua história, em jogos oficiais de qualificação, a terceira em apuramentos para Europeus.

Mais um dado para reforçar a dimensão desta derrota da equipa de Paulo Bento. Portugal não perdia um jogo de qualificação em casa há seis anos, quase dia por dia. A última derrota foi com a Dinamarca, o 2-3 de 10 de setembro de 2008 no Estádio de Alvalade da seleção orientada por Carlos Queiroz, ao segundo jogo da campanha que teve ainda o tal nulo de Braga com a Albânia e que acabou com Portugal a jogar o play-off e a apurar-se para a África do Sul.

O segundo jogo. É aqui que assenta em boa parte a ideia feita de que Portugal arranca mal. É no segundo encontro da qualificação que a seleção tem vacilado, uma tendência clara nas últimas décadas: nas nove qualificação mais recentes, Portugal apenas venceu o segundo jogo por quatro vezes, dados que pode recordar aqui.

A tendência é mais um sinal de alerta antes do próximo confronto de Portugal, a 14 de outubro, exatamente frente à Dinamarca. A questão não é estar em risco a qualificação, nem vale a pena ir por aí num Europeu que vai apurar 23 das 53 equipas em prova, é mesmo não haver mais margem de tolerância para a seleção depois de Aveiro.