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A Áustria, segunda adversária de Portugal no Euro 2016 - dia 18, em Paris - colhe finalmente os frutos da aposta na formação. Vencedora do seu grupo, à frente de Rússia, Suécia, Montenegro, Liechtenstein e Moldávia, chega ao Europeu num dos seus melhores momentos na História do jogo.

Com alguns jogadores que estiveram na seleção que chegou ao quarto lugar no Mundial de sub-20 em 2010, casos de Martin Harnik, Zlatko Junuzovic e Sebastian Prödl, outros que acumularam muita experiência ao longo dos anos, como o goleador Marc Janko, o capitão Fuchs e o outro lateral Klein, e um futebolista de classe mundial como David Alaba, a seleção treinada pelo suíço Marcel Köller reúne agora argumentos para poder disputar qualquer jogo de uma grande competição, à semelhança do que fez na década dourada de 30, com a Wunderteam de Hugo Meisl e da superestrela Matthias Sindelar.

Salzburgo a puxar pela liga

É de acrescentar também o crescimento da liga local, pelo impulso dado pela Red Bull no tricampeão Salzburgo, uma equipa que criou marca nos anos mais recentes pela pressão intensíssima a que submetia os seus adversários e que teve o apogeu com a participação na Liga Europa de 2013/14: ganhou todos os jogos da fase de grupos com 15 golos marcados, goleou depois o Ajax e sucumbiu, com alguma infelicidade, perante o Basileia nos oitavos de final.

O Salzburgo tem obrigado os outros a melhorar ainda que mantenha o domínio no seu país. Com o crescimento nos últimos anos, é já a terceira maior força histórica, atrás dos rivais de Viena Austria e Rapid. Importantes na construção do sistema de pressão foram o preparador físico de origem australiano Oliver Bartlett e o treinador Roger Schmidt, ambos hoje no Bayer Leverkusen, e o então diretor desportivo Ralf Rangnick, que voltou ao banco para promover o Leipzig, há poucas semanas, à Bundesliga. Um trio que tem a pressão alta e agressiva como modelo preferido. 

Com uma equipa com muitos estrangeiros, o Red Bull Salzburgo tem pouca representação na atual seleção austríaca. A lesão grave de Leitgeb e a saída do jovem Valentino Lazaro nas últimas escolhas de Köller para a lista final deixou o tricampeão sem representantes no Euro, embora nomes do atual elenco como Martin Hinteregger, Stefan Ilsanker, Marcel Sabitzer, Marco Djuricin, Florian Klein e Jakob Jantscher tenham já passado pelo emblema da terra de Mozart. Além disso, o clube também já exportou para a Bundesliga o esloveno Kevin Kampl (então para o Dortmund, agora no Leverkusen) e para a Premier League Sadio Mané (Southampton), ambos por cerca de 12 milhões de euros, o que prova também o crescimento de qualidade do campeonato, ainda que algo desequilibrado.

Nascida da Escola do Danúbio, tal como as poderosas Hungria e Checoslováquia desses tempos, a Wunderteam foi assim chamada pelo estilo ofensivo e pela série de jogos que acumulou sem ser batida (14), entre 1931 e 1932, numa altura em que o ritmo era muito diferente do atual. Equiparada à Hungria dos anos 50 e ao Brasil de duas décadas mais tarde, foi desmembrada com a sua anexação por parte da Alemanha Nazi na II Guerra Mundial e inspira a nova Áustria para grandes feitos, depois do quarto lugar no Mundial de 1934 e o terceiro no de 20 anos depois, na Suíça.

A petição para que a Áustria não organizasse o Euro

A única presença numa fase final de um Europeu data de 2008, quando organizou o torneio em conjunto com a Suíça. No entanto, a expetativa de há oito anos era bem mais baixa. Um grupo de adeptos, que considerava que a sua seleção estava «no ponto mais baixo da história», no 102º lugar do ranking FIFA, lançou uma petição intitulada «Áustria mostra a espinha» a apelar para que a sua federação desistisse da organização. Recolheu 10 mil assinaturas, traduzindo o sentimento de grande parte da população. No entanto, a equipa até passou ao lado da humilhação, ao empatar com a Polónia e perdendo por pouco com Croácia e Alemanha.

Hoje, pelo contrário, o onze inicial carrega muito mais qualidade, e a tabela FIFA reflete isso mesmo com o 10º posto em junho. A juntar a Alaba, aos golos de Janko, ao talento de Junuzovic, há ainda a juntar um central inteligente e veloz como Dragovic, um 6 cerebral como Baumgartlinger, a velocidade e explosão de Harnik no contra-ataque e a maturação de Arnautovic, que junta poder físico à habilidade e imprevisibilidade. Depois de fazer apenas figura presente na qualificação, desta vez perdeu apenas dois pontos em 30 possíveis, e teve uma manifestação de força ao golear na Suécia por 4-1. Impressionante.

Resultados da fase de qualificação:

08-09-2014, Viena, Áustria-Suécia, 1-1
09-10-2014, Chisinau, Moldávia-Áustria, 1-2
12-10-2014, Viena, Áustria-Montenegro, 1-0
15-11-2014, Viena, Áustria-Rússia, 1-0
27-03-2015, Vaduz, Liechtenstein-Áustria, 0-5
14-06-2015, Moscovo, Rússia-Áustria, 0-1
05-09-2015, Viena, Áustria-Moldávia, 1-0
08-09-2015, Solna, Suécia-Áustria, 1-4
09-10-2015, Podgorica, Montenegro-Áustria, 2-3
12-10-2015, Viena, Áustria-Liechtenstein, 3-0

Confrontos com Portugal (e os outros):

Portugal e Áustria defrontaram-se pela última vez em jogos oficiais em outubro de 1995, na fase de apuramento para o Euro 2016. A Seleção ganhou esse Grupo E, e frente aos austríacos somou uma vitória em casa (1-0, golo de Luís Figo) e um empate em Viena (1-1, com golo de Paulinho Santos), que então garantiu o apuramento para a fase final, em Inglaterra, acabando com uma seca de dez anos.

Os portugueses têm apenas mais um triunfo, por 2-1, na Áustria, em encontro da fase de apuramento para o Campeonato da Europa de 1980. A equipa das quinas seria derrotada pelo mesmo resultado no jogo de volta e falharia a fase final, tal como os adversários, ficando ambos atrás da qualificada Bélgica.

A 27 de Setembro de 1953, Portugal sofreu a sua maior derrota perante os austríacos, um pesadíssimo 9-1 (cinco golos de Erich Probst), que o 0-0 de Lisboa em Novembro não fez diluir.

Há ainda mais três empates e uma derrota em encontros particulares.

Os vizinhos Áustria e Hungria, que foram um país único entre 1867 e 1918, vão para o 138º embate da sua história desde 1902 (5-0 para a primeira seleção). O saldo é favorável aos magiares, com 66 triunfos, 31 empates e 40 derrotas.

O primeiro embate competitivo registou-se no Campeonato do Mundo de 1934, com a Áustria a bater a Hungria por 2-1 para chegar às meias-finais. Foi o único embate em fases finais. O apuramento para o Mundial de 1986 teve dois confrontos, com os húngaros a vencerem por 3-1 em Budapeste e 3-0 em Viena, os mais recentes em jogos a doer. O jogo mais recente, há dez anos, em Graz, teve também a Hungria como vencedor (1-2).

Já Áustria e Islândia apenas se defrontaram três vezes, com um triunfo dos austríacos e dois empates. O último embate registou-se em maio de 2014, já com os atuais selecionadores ao comando. Marcel Sabitzer e Kolbeinn Sigthórsson marcaram os golos. Os únicos embates competitivos verificaram-se há cerca de 29 anos, com um nulo em Reykjavik e um triunfo dos austríacos em Salzburgo (2-1), que os ajudaram a chegar à final do Mundial de 1990.