Fernando Santos fala sobre a ambição de Portugal no Mundial: candidato, não favorito. Olhando para o futuro, ainda não se preocupa com o pós-Ronaldo na Seleção Nacional. Não lhe custa, aliás, imaginar Cristiano no Mundial 2022. O selecionador nacional acredita que, quando não tiver Ronaldo, Portugal continuará a ter uma seleção forte, mas tem também uma certeza: dificilmente aparecerá outro jogador como este. Quanto ao seu próprio futuro quando terminar o contrato com a seleção, ainda não o imagina.

Qual é a ambição para o Mundial?

É igual à que era para o Europeu. Não somos favoritos, mas queremos chegar e procurar...

Somos menos favoritos para o Mundial do que éramos para o Europeu?

Não, somos candidatos para o Mundial exatamente como fomos para o Europeu.

Mas vai ser mais difícil ganhar o Mundial?

Não sei, vamos ver. Não sei se vou ganhar o Mundial. Vou lutar para fazer uma grande prova e há uma coisa que sei: dificilmente alguém vai ganhar a Portugal. Obviamente que teoricamente os obstáculos são maiores, porque até aqui jogámos só com equipas da Europa. As equipas que até aqui eram favoritas no Europeu vão continuar a sê-lo no Mundial e temos de lhe acrescentar pelo menos mais duas equipas favoritas e mais um lote de três ou quatro que também são candidatas. Isto abre o leque e torna as coisas mais difíceis, isso é evidente.

Qual é a sua grande preocupação para o Mundial?

A minha grande preocupação é que todos os jogadores estejam bem fisicamente e que eu possa escolher sem limitações. Que eu tomar as opções que considere que deva tomar.

Já começou a pensar no pós-Ronaldo?

Não estou a pensar nos pós-Ronaldo nesta fase, de maneira nenhuma. Acho que o Ronaldo vai jogar mais quatro ou cinco anos a muito bom nível. Para já porque é um extraterrestre, é um fenómeno, como toda a gente sabe.

Exatamente por isso, por ter uma força tão grande, não deveria preocupar?

Esses homens, que são génios, e em tudo no mundo, são praticamente eternos. No caso do futebol só não são eternos porque depois há a questão física. Mas o Ronaldo tem essa outra questão do cuidado que tem com o corpo e com o bem-estar, por isso vai durar muito. Naturalmente que daqui a cinco anos não será tão explosivo como é hoje, mas isso é perfeitamente normal e vamos ter Ronaldo durante muitos anos.

Mas vê Ronaldo no Mundial 2022, por exemplo?

Sim. Aquele Ronaldo normal, pode jogar em 2022, por que não? Terá 36 anos, portanto acho que sim. Depende de muitas questões, mas não me choca nada ter Ronaldo na Seleção Nacional em 2022. Vai jogar seguramente futebol, agora se vai estar na Seleção... depende do espírito dele. Eu acredito que sim, porque conheço-o muito bem e ele tem uma paixão enorme por Portugal, pela Seleção Nacional e pelo futebol.

Mas sem Ronaldo será um paradigma diferente.

Naturalmente, e um dia isso vai acontecer.

Que paradigma será esse: consegue imaginar?

Portugal vai continuar a ter uma equipa muito boa, muito forte, porque essa é uma matriz do nosso jogo, mas não terá Ronaldo, e isso fará diferença. Mas isso não se põe para já.

Portugal teve Figo, depois apareceu Ronaldo que chegou a um nível ainda mais alto, agora era importante aparecer outro jogador bandeira?

Ronaldo não é um jogador bandeira, Ronaldo é um génio. Agora jogadores bandeira vai haver sempre. O Pepe é um jogador bandeira, como o Ricardo Carvalho também foi. São jogadores que marcam a Seleção. E vão aparecer outros. Agora Ronaldos... não sei mais alguma vez haverá um jogador igual, mas se surgissem quatro ou cinco ali pertinho dele, davam um jeito tremendo.

O seu contrato termina em 2020. Nessa perspetiva sente mais saudades do trabalho de campo diário ou da sua casa no Alentejo?

Essa questão do trabalho de campo diário coloquei-a muito no início. O primeiro ano numa seleção foi difícil, sentia falta do contacto diário com os jogadores, da preparação diária dos treinos, do stress e da adrenalina, tive alguma dificuldade de adaptação. Depois com o tempo tudo isto foi mudando e passei a gostar ao mesmo nível do que faço. O trabalho do selecionador parece ao início um bocadinho...

Parado?

Um bocadinho parado, talvez. Mas com o tempo percebi que é tão exigente como o trabalho de treinador de clube, só que noutras vertentes. Por isso trabalho diariamente, eu e os meus colaboradores, porque há muita coisa para fazer, e às vezes mais difícil do que nos clubes.

Pensa um dia voltar ao trabalho de clube?

Não sei, sinceramente já não sei. O futuro deixo para outras ocasiões. Antigamente dizia que não ia fazer isto ou aquilo, hoje já tenho maturidade suficiente para saber que não devo fazer essas antevisões. Em relação à minha casa no Alentejo, obviamente tenho algumas saudades e vou para lá daqui a pouco porque é um sítio importante para mim.

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Fotos: Ruben Neves