Quando, aos 63 minutos do jogo com a Real Sociedad, Antunes fez sinal para o banco do Málaga, queixando-se de um problema muscular na coxa esquerda, Fernando Santos deve ter passado a acreditar em bruxas, pelo menos por alguns instantes.

Apenas dois dias antes, Eliseu, que tinha merecido a confiança do selecionador nos jogos com França e Dinamarca, tinha assinado a entrada direta para o rol de indisponíveis, com uma fratura no quinto dedo do pé esquerdo. Com Fábio Coentrão lesionado, sem competir desde 13 de setembro, a seleção portuguesa via-se privada das três primeiras opções para a vaga de lateral-esquerdo, a dois dias do anúncio da convocatória para os jogos com Arménia e Argentina.

Nenhum dos três voltou ao ativo nesta semana. E, numa posição que os adeptos portugueses se habituaram a considerar deficitária, esta tripla baixa cria um desafio ao selecionador: é quase certo que terá de chamar pelo menos um nome em estreia, mesmo que potenciais adaptações já testadas por outros selecionadores, como André Almeida e Miguel Veloso, continuem em aberto.

A vitória do Benfica sobre o Mónaco, na terça-feira, assinalou o regresso de André Almeida à posição em que foi utilizado no último Campeonato do Mundo, depois da lesão de Fábio Coentrão. Mas os problemas que sentiu perante a mobilidade de Ferreira Carrasco – foi pelo seu lado que o Mónaco conduziu a maior parte dos ataques – não deram resposta a todas as interrogações. Além de que as suas características mais posicionais podem não ser as mais desejadas para um jogo de previsível intensidade atacante, como o Portugal-Arménia do próximo dia 14.

Já Miguel Veloso, que não foi incluído na primeira lista de Fernando Santos, voltou a competir com regularidade no Dínamo Kiev, embora raramente na posição de lateral-esquerdo – onde não se sente particularmente à vontade, como já várias vezes deixou claro.

Assim, as circunstâncias fazem desta a altura ideal para olhar em volta e procurar novas soluções. E, surpresa ou não, apesar da habitual escassez de especialistas para a função no futebol português, até existe atualmente um conjunto de nomes com potencial para resolver a crise no imediato. E até, em alguns casos, vir a reclamar estatuto de «cliente habitual» na equipa das quinas. Maisfutebol deixa-lhe alguns nomes a considerar para a tal «nova esquerda» a que Fernando Santos pode ter de recorrer no imediato.



Raphaël Guerreiro (20 anos, Lorient, 12 jogos a titular na Ligue1)
Por vezes as melhores soluções são as mais próximas de casa. Talvez seja o caso do atual dono da posição na seleção sub-21, titular indiscutível na sua equipa desde a época passada e recentemente em evidência com o golo que marcou no fim de semana ao PSG. Quem o tem visto com regularidade na campanha dos sub-21, não duvida de que há ali potencial para um belo e longo trajeto na equipa das quinas. E a vocação ofensiva de que dá mostras torna interessante a possibilidade de alinhar com a Arménia.



Rúben Ferreira (24 anos, Marítimo, 9 jogos na Liga)
Para a idade, conta com uma experiência acentuada - vai na quarta temporada no campeonato principal. O seu nome já tinha andado na órbita da seleção, e este início de temporada permitiu-lhe confirmar todas as qualidades, destacando-se como um dos melhores fabricantes de golos na Liga, até ao momento.



Emídio Rafael (28 anos, Estoril, 6 jogos a titular na Liga, 2 golos)
Já foi uma das grandes esperanças do futebol português para a função, quando jogava na Académica, mas a grave lesão sofrida no FC Porto fê-lo perder vários anos. Agora, na Amoreira, parece apostado em recuperar o tempo perdido – e, no seu segundo fôlego, já leva dois golos marcados. Aos 28 anos, ainda não é tarde de mais.

Tiago Pinto (26 anos, Rio Ave, 9 jogos na Liga, mais 7 na Europa)
A explosão prometida demorou, mas, aos poucos, tem-se transformado num dos valores seguros da Liga – e num dos responsáveis pelo bom desempenho do Rio Ave nas últimas duas épocas. Aos 26 anos entrou na fase de maturidade e a rodagem acelerada nas provas europeias torna-o numa das opções com mais minutos nas pernas nesta fase da temporada, o que pode jogar a seu favor.



Tiago Gomes (28 anos, Sp. Braga, 6 jogos na Liga)
Outro caso de um lateral que parece em condições de recuperar o tempo perdido, depois de não ter conseguido impor-se no Benfica. Depois de passagens pela Polónia e por Espanha, o trajeto tem sido ascensional, mas a pulso: no Belenenses, e depois no Estoril, passou da II Liga para um patamar europeu, agora acentuando pelo papel influente que vem desempenando num Sp. Braga com evidentes ambições.



Luisinho (29 anos, D. Corunha, 10 jogos na Liga espanhola)
Outro lateral-esquerdo que não passou no crivo do Benfica. Depois de uma temporada de sonho no Paços de Ferreira, rumou à Luz no verão de 2012, mas esbarrou na pouca confiança que lhe foi concedida por Jorge Jesus. Teve de voltar a subir a pulso, a partir da II Liga espanhola, mas ganhou estatuto e confiança no recém-promovido Deportivo da Corunha, onde tem sido intocável neste inicio de época - o que por si só é sinónimo de competitivdade.



Hélder Lopes  (P. Ferreira, 25 anos, 9 jogos)
Outro dos bons laterais esquerdos deste início de Liga, a dar nas vistas num Paços de Ferreira de enorme competência. Manteve a titularidade, mesmo com a concorrência de um jogador experiente como o ex-sadino Nélson Pedroso.




Mário Rui (Empoli, 23 anos, 9 jogos a titular)
Integrante da seleção vice-campeão mundial de sub-20 em 2011, tal como Cédric e Nélson Oliveira, chegou a parecer um caso perdido nas profundezas do calcio, onde penou três anos em emblemas e escalões secundários (Gubbio, Spezia e Empoli). O regresso do Empoli à elite confirmou que o seu crescimento não parou no Mundial da Colômbia. Quem soma 9 jogos a titular num campeonato com tanta tradição de exigência defensiva como o italiano, tem de estar preparado para outros voos.

A estes nomes, podem juntar-se ainda os de outros emigrantes, como  Camora (Cluj, 28 anos, 13 jogos a titular) ou mesmo  Luís Martins (Granada, 22 anos, apenas um jogo), outro ex-benfiquista que, a par de Raphael Guerreiro tem sido a opção habitual nas convocatórias de Rui Jorge. Tem a palavra Fernando Santos - mas não será por falta de opções que a «nova esquerda» ficará na gaveta.