Fernando Santos diz ter um núcleo de 35 jogadores do qual sairá a lista de 23 para o Mundial e garante que não vai chamar ninguém que nunca tenha estado na Seleção. Entende que Éder seja um herói nacional, mas ele não lhe deve nada: tem uma grande amizade pelo avançado, mas isso não lhe assegura um lugar na Rússia. Entrevista.

Disse que vai aproveitar os jogos até ao Mundial, e nomeadamente já o jogo de novembro, para observar jogadores. O que é que está em aberto?

Tudo. É evidente que há um núcleo duro de 30, 35 ou 40 jogadores do qual devem sair os 23. Não podemos fingir que não. Há um que estará sempre, e deixem-me bater na madeira. Só se acontecer um daqueles problemas... que não vai acontecer. Depois alguns que estão muito mais próximos e outros que estão ali mais ou menos. Mas há sempre lesões, momentos de forma, enfim. Há um jogador, por exemplo, que não está a jogar e que tem fortíssimas possibilidades de estar no Mundial que é o Raphael Guerreiro.

E pode haver alguma surpresa?

Não afasto nada. Claro que não vai aparecer no Mundial um jogador que nunca tenha passado pela Seleção Nacional. Isso é impossível. Eu quando trago um jogador para a Seleção sei que não o posso queimar à primeira. Tem de conhecer minimamente a equipa, até porque caso contrário não vai trazer nada à Seleção. Tenho de conhecer os jogadores a nível do treino, a nível mental, a nível grupal.

Os jogos particulares que se seguem servirão para conhecer esses jogadores que estão na órbita da Seleção?

Exatamente, mas isso foi o que eu fiz antes do Europeu, nos jogos com a Rússia e com o Luxemburgo, com o Gonçalo Guedes, o Danilo, o Éder, o Ruben Neves, o Nelson Oliveira. É preciso começar a olhar para eles em treino, em grupo e em competição.

Não é preciso ter muita coragem para deixar um jogador como Éder de fora do Mundial?

Coragem?!

Sim, depois do que ele fez no Europeu.

Coragem foi levá-lo ao Europeu. Lembram-se do que na altura se dizia? Eu lembro-me que havia votações na imprensa para quem devia ir e em alguns jornais o Éder nem era hipótese. Foi excluído imediatamente a seguir ao jogo com a Bélgica. Isto não é uma questão de coragem nem de amizades. Os jogadores compreendem muito bem que há uma coisa que é pessoal, que é a amizade. Depois quando começo a trabalhar não há cá amizades. Penso pela minha cabeça o que acho que é bom para a Seleção e é só isso que me move. Convoquei o Éder por isso, porque achei que ele podia ser muito importante em determinadas condições. Não o levar em determinado momento desta fase de qualificação foi em primeiro lugar porque ele não estava a jogar. Percebo que esta parte emocional, que o Éder é um herói nacional e temos de lhe pagar. Não temos de lhe pagar nada. Eu paguei-lhe da forma que acho que devia pagar: telefonei-lhe e expliquei-lhe pessoalmente por que não estava convocado, mas também lhe disse que a importância dele se mantinha intacta mediante determinadas condições. É assim que funciono.

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